São Paulo, domingo, 20 de fevereiro de 2005

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JUVENTUDE ENCARCERADA

Três permanecem na fundação porque têm estabilidade

Alckmin afasta 5 diretores da Febem

VICTOR RAMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Cinco diretores do Complexo do Tatuapé (zona leste de São Paulo) da Febem foram afastados ontem pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB-SP). Dois diretores de unidade foram demitidos e dois permaneceram na instituição, mas em outras funções.
O diretor-geral, que também é funcionário público, voltará a exercer o cargo de analista técnico. O servidor José Resende Filho assumirá o posto.
Desde que 1.751 funcionários da fundação foram demitidos, na última quinta-feira, o Complexo do Tatuapé, considerados um dos mais problemáticos do sistema, já registrou três rebeliões de internos em diversas unidades.
Na madrugada de ontem, 92 jovens colocaram fogo em colchões e roupas de cama. A tropa de choque da Polícia Militar precisou cercar o local para evitar fugas. Às 5h a rebelião foi controlada. Não houve fugas nem feridos.
Em razão de sucessivas rebeliões, fugas e denúncias de torturas contra adolescentes, a Febem se tornou um dos maiores problemas de Alckmin, cotado no PSDB para a concorrer à sucessão do presidente Lula. A reestruturação busca reformular o sistema, considera viciado pelo governo.
Para o lugar dos 1.751 funcionários demitidos, foram contratados 1.606 agentes de segurança e 773 educadores em caráter emergencial. Um concurso público foi aberto para o preenchimento definitivo das vagas. Além disso, foram instituídos programas de participação de familiares dos internos e ONGs ligadas à infância e juventude no sistema.
De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria da Justiça e Cidadania, as demissões dos cinco diretores deram continuidade às reformulações que vêm sendo feitas na Febem. A assessoria confirmou que havia a suspeita de que funcionários antigos estivessem incitando os adolescentes a se rebelarem.
Após a demissão, Nilson Gomes de Sena, que perdeu o cargo de diretor-geral do complexo, fez críticas à forma como a reestruturação da Febem vem sendo conduzida pelo secretário da Justiça e presidente da fundação, Alexandre de Moraes.
"A proposta do Alexandre é muito boa, mas a operacionalização foi mal conduzida. Na teoria, é muito bonito. Na prática, é muito difícil de ser operacionalizado", afirmou Sena. O ex-diretor também afirmou que os problemas com rebeliões e fugas devem se agravar. "Teremos sérios problemas no Complexo do Tatuapé".
Ele contestou a hipótese de que os funcionários antigos incitassem as rebeliões. "No Tatuapé praticamente só tem funcionários novos. Além disso, o diretor responde por tudo o que acontece no complexo. Como vai incitar uma rebelião se responde por isso?".
Para a presidente da Associação de Mães da Febem, Conceição Paganele, no entanto, há resistência dos funcionários antigos às mudanças feitas. "Distorcem as informações sobre a reestruturação e os adolescentes acabam sem saber direito o que está havendo." Paganele considerou positivas as demissões dos diretores.

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