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ENCRUZILHADA
A idade limite para os homens deixarem a casa dos pais passou para 39,5 anos; para mulheres foi para
31,9
Jovem demora mais para ter independência
DA SUCURSAL DO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL
A dificuldade de entrada no
mercado de trabalho e a necessidade de se qualificar melhor para
disputar um emprego têm levado
os jovens a adiar a transição para
a vida adulta, permanecendo
mais tempo como dependentes.
Um estudo feito pelas pesquisadoras do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Ana
Amélia Camarano, Juliana Leitão
e Mello, Maria Pasinato e Solange
Kanso mostra que a idade limite
para saída da casa dos pais aumentou de 1982 para 2002. Para
homens, a idade limite foi de 37,9
para 39,5. Entre mulheres, foi de
31,1 para 31,9 anos.
"Na década de 70, a trajetória
razoavelmente linear era o jovem
se formar, conseguir um emprego
e sair de casa porque adquiria independência econômica dos pais.
A instabilidade do mercado de
trabalho hoje, no entanto, pôs em
xeque esse processo de emancipação. Eles passam mais tempo estudando e têm mais dificuldade
para conseguir um emprego que
dê a possibilidade de sustento
sem depender da família", afirma
Juliana Leitão e Mello.
Ela destaca também que outros
comportamentos de ordem privada podem estar influenciando
nesse adiamento da emancipação
financeira: "Hoje, muitos pais são
mais flexíveis com relação à vida
sexual dos filhos. Ainda que exista
uma diferença entre meninos e
meninas, boa parte das famílias
aceita bem o fato de o jovem dormir na casa dos pais com a namorada ou namorado".
Para a pesquisadora, esse movimento- também muito estudado em países europeus- é mais
evidente em famílias de renda
mais elevada, já que, principalmente nessas famílias, as mulheres estão adiando mais a maternidade e as famílias têm mais condições de apoiar financeiramente o
jovem para que ele passe mais
tempo estudando.
Ao analisar nesse estudo o adiamento da emancipação, as pesquisadoras também procuraram
saber como estavam ocupados os
jovens de 15 a 24 anos. O resultado
mostrou que a inserção no mercado ou na escola varia muito de
acordo com o sexo.
Dados desse estudo atualizados
para 2004 mostram que 20% dos
jovens não estudavam nem trabalhavam.
Esse percentual é diferente do
da pesquisa do Ibase e da Pesquisa Mensal de Emprego porque ele
abrange todo o Brasil e não somente as principais regiões metropolitanas.
Exercendo a maternidade
Entre os homens, a proporção
dos que não estudavam nem estavam ocupados era de 12,2%. Entre
as mulheres, sobe para 27,1%.
"No caso das mulheres, essa é
uma fase da vida em que muitas
terão filhos. Elas podem não estar
no mercado ou na escola porque
estão exercendo uma outra função social, que pode ser, por
exemplo, a maternidade", afirma
Mello.
Para Juliana dos Anjos Oliveira,
18, essa função social foi ter que
cuidar de uma tia que adoeceu.
Para isso, teve que sair do emprego. Sem trabalho, precisou adiar
indefinidamente a data do casamento, pois o salário do namorado não é suficiente para montar
uma casa. A mãe, empregada doméstica, é quem a sustenta.
"Ela não reclama, mas eu me
sinto mal. Toda noite, quando
vou dormir, fico pensando na vida e rezando para conseguir um
trabalho logo. Mas, em todo lugar
onde procuro, dizem que não tenho experiência", diz.
Para Dilson Leandro de Sousa
Junior, 19, também é a ajuda financeira dos pais que o permite
adiar, por enquanto, a procura
por um emprego.
"Ainda não procurei nada porque quero descansar um pouco.
Vou me dedicar a isso depois do
Carnaval. Por enquanto, tenho
um dinheiro que juntei. Além disso, moro com meus pais e eles me
ajudam a pagar minhas dívidas",
diz o jovem.
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