São Paulo, segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

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ENCRUZILHADA

A idade limite para os homens deixarem a casa dos pais passou para 39,5 anos; para mulheres foi para 31,9

Jovem demora mais para ter independência

DA SUCURSAL DO RIO

DA REPORTAGEM LOCAL

A dificuldade de entrada no mercado de trabalho e a necessidade de se qualificar melhor para disputar um emprego têm levado os jovens a adiar a transição para a vida adulta, permanecendo mais tempo como dependentes.
Um estudo feito pelas pesquisadoras do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Ana Amélia Camarano, Juliana Leitão e Mello, Maria Pasinato e Solange Kanso mostra que a idade limite para saída da casa dos pais aumentou de 1982 para 2002. Para homens, a idade limite foi de 37,9 para 39,5. Entre mulheres, foi de 31,1 para 31,9 anos.
"Na década de 70, a trajetória razoavelmente linear era o jovem se formar, conseguir um emprego e sair de casa porque adquiria independência econômica dos pais. A instabilidade do mercado de trabalho hoje, no entanto, pôs em xeque esse processo de emancipação. Eles passam mais tempo estudando e têm mais dificuldade para conseguir um emprego que dê a possibilidade de sustento sem depender da família", afirma Juliana Leitão e Mello.
Ela destaca também que outros comportamentos de ordem privada podem estar influenciando nesse adiamento da emancipação financeira: "Hoje, muitos pais são mais flexíveis com relação à vida sexual dos filhos. Ainda que exista uma diferença entre meninos e meninas, boa parte das famílias aceita bem o fato de o jovem dormir na casa dos pais com a namorada ou namorado".
Para a pesquisadora, esse movimento- também muito estudado em países europeus- é mais evidente em famílias de renda mais elevada, já que, principalmente nessas famílias, as mulheres estão adiando mais a maternidade e as famílias têm mais condições de apoiar financeiramente o jovem para que ele passe mais tempo estudando.
Ao analisar nesse estudo o adiamento da emancipação, as pesquisadoras também procuraram saber como estavam ocupados os jovens de 15 a 24 anos. O resultado mostrou que a inserção no mercado ou na escola varia muito de acordo com o sexo.
Dados desse estudo atualizados para 2004 mostram que 20% dos jovens não estudavam nem trabalhavam.
Esse percentual é diferente do da pesquisa do Ibase e da Pesquisa Mensal de Emprego porque ele abrange todo o Brasil e não somente as principais regiões metropolitanas.

Exercendo a maternidade
Entre os homens, a proporção dos que não estudavam nem estavam ocupados era de 12,2%. Entre as mulheres, sobe para 27,1%. "No caso das mulheres, essa é uma fase da vida em que muitas terão filhos. Elas podem não estar no mercado ou na escola porque estão exercendo uma outra função social, que pode ser, por exemplo, a maternidade", afirma Mello.
Para Juliana dos Anjos Oliveira, 18, essa função social foi ter que cuidar de uma tia que adoeceu. Para isso, teve que sair do emprego. Sem trabalho, precisou adiar indefinidamente a data do casamento, pois o salário do namorado não é suficiente para montar uma casa. A mãe, empregada doméstica, é quem a sustenta.
"Ela não reclama, mas eu me sinto mal. Toda noite, quando vou dormir, fico pensando na vida e rezando para conseguir um trabalho logo. Mas, em todo lugar onde procuro, dizem que não tenho experiência", diz.
Para Dilson Leandro de Sousa Junior, 19, também é a ajuda financeira dos pais que o permite adiar, por enquanto, a procura por um emprego.
"Ainda não procurei nada porque quero descansar um pouco. Vou me dedicar a isso depois do Carnaval. Por enquanto, tenho um dinheiro que juntei. Além disso, moro com meus pais e eles me ajudam a pagar minhas dívidas", diz o jovem.


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