São Paulo, terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

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Mangueira e Viradouro rivalizam no primeiro dia

Verde-e-rosa fez desfile tradicional no bom sentido; Viradouro pôs bateria em carro

A Vila Isabel, que encerrou a série de seis escolas na madrugada de ontem, veio muito mais pesada e menos empolgada do que em 2006

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Na noite em que não pôde contar com Jamelão, pela primeira vez em cinco décadas, e não quis contar com Beth Carvalho, barrada quando subia numa alegoria, a Mangueira fez, curiosamente, um desfile tradicional. E no bom sentido.
Com fantasias leves e samba eficiente, a escola só rivalizou com a Viradouro no primeiro dia dos desfiles na Sapucaí. As duas são candidatas ao título.
A Vila Isabel, que encerrou a série de seis escolas na madrugada de ontem, veio muito mais pesada e menos empolgada do que em 2006, e não será fácil ver realizar o bicampeonato.
De pesado na Mangueira, já bastava o clima nos últimos meses. Perdeu seu intérprete e presidente de honra Jamelão, que se recupera de um derrame. O substituto, Luizito, teve um princípio de infarto num ensaio e teve de cantar acompanhado de dois médicos.
E ainda com a polêmica em torno de Beth Carvalho, o que deu gás à verde-e-rosa foi a simplicidade das fantasias -muitas de palha, algumas belas de renda, como a das baianas- e a clareza de seu enredo sobre a língua portuguesa, amparado por um samba comunicativo. A escola ficou lenta algumas vezes, mas ouviu gritos de "é campeã" na Apoteose.
Não foi privilégio dela. A Viradouro superou problemas de última hora para fazer um bom desfile. O carro do castelo de cartas, feito de cabeça para baixo (rodas ficavam no topo), quebrou na concentração, quase pôs tudo a perder, mas foi consertado a tempo.
"Nunca vi uma capacidade de recuperação como a da Viradouro. É incrível essa escola. Espero que a gente tenha empolgado o público e a mídia e o resultado venha como conseqüência", disse o carnavalesco Paulo Barros, que chorou muito no fim do desfile.
A alegria de Barros tem um tom de alívio por estar numa escola maior e mais rica do que a Unidos da Tijuca, na qual ele foi vice-campeão em 2004 e 2005 e se tornou o nome mais badalado do Carnaval carioca.
Mas nenhuma alegoria apresentada por Barros teve o impacto das de anos anteriores. A mais aplaudida foi "Quem está Wally?", em que o personagem aparecia em meio a 170 pessoas. A inovação de pôr a bateria sobre um carro arrancou aplausos nos momentos de subida e descida, mas não superou a impressão de ser um efeito pelo efeito -apesar da qualidade de mestre Ciça e da beleza da madrinha Juliana Paes.
A melhor ala da Viradouro foi a que reproduzia uma partida de futebol. O tema dos jogos foi explorado por Barros ao seu estilo: sem preocupação de contar uma história, mas usando alguns elementos como base para fazer jogos visuais.
Nas fantasias, o carnavalesco mostrou uma grande melhoria em relação aos anos passados.
Um senão da escola de Niterói foi ter corrido no final para não estourar o tempo.

Com cara de Beija-Flor
Cercada de expectativa, a Vila entrou na avenida com cara de Beija-Flor. E no mau sentido: fantasias muito pesadas -em especial na primeira metade, com pedaços de roupas ficando pelo chão, o que pode significar perda de pontos- e algumas alas se embolando.
"Tivemos cuidados com o material de algumas roupas, mas ala das baianas é assim mesmo: é roupa grande, pesada", disse o carnavalesco Cid Carvalho, referindo-se à ala em que as fantasias mais se desmantelaram. Carvalho estreou na Vila após nove anos na comissão de Carnaval da Beija-Flor. "Quem manda no Carnaval é o povo. Feliz do artista que tem a sensibilidade de perceber o que o povo gosta", disse.
Apesar do clima morno, a Mocidade Independente de Padre Miguel, do carnavalesco Alex de Souza, impressionou na comissão de frente (Higor Martins saía de um livro como se fosse Adão ganhando vida) e no carro "Nordeste - cenas de um cotidiano", em que até os destaques tinham cor de barro. Os artesãos eram o enredo.
A Estácio de Sá, primeira a desfilar, homenageou com um minuto de silêncio o menino João Hélio Fernandes Vieites, morto aos seis anos depois de ser arrastado por sete quilômetros no Rio de Janeiro. Mas a emoção parou por aí.
O Império Serrano, segunda escola, teve como destaque a bateria e seu naipe de agogôs, o único do Rio. O enredo "Ser diferente é normal" não ficou claro ao longo do desfile, e carros apresentaram problemas, prejudicando a evolução. Mas a tradicional agremiação tem boas chances de permanecer no Grupo Especial.


Colaboraram PEDRO SOARES e TALITA FIGUEIREDO


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