São Paulo, quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

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Presos são acusados de tramar seqüestro de diretores prisionais

Polícia paulista diz ter frustrado um plano do PCC que previa o seqüestro de diretores do sistema prisional da região oeste de SP

Objetivo era exigir facilitação da fuga de integrantes da facção criminosa que estão presos na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau


CRISTIANO MACHADO
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM PRESIDENTE PRUDENTE

A polícia de São Paulo diz ter descoberto e frustrado um plano que previa o seqüestro de diretores do sistema prisional da região oeste do Estado e seus familiares para exigir, em troca da libertação, a facilitação da fuga de integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) que cumprem pena na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (620 km de SP).
A penitenciária de Venceslau abriga cerca de 720 detentos que, segundo a Secretaria da Administração Penitenciária, são do comando da facção criminosa que organizou ataques a forças de segurança do Estado em 2006. Em maio daquele ano, por terem sido transferidos de várias prisões para Venceslau 2, detentos do PCC ordenaram atentados.
Um dos alvos do plano frustrado de seqüestros, segundo a polícia, era o coordenador dos presídios no oeste paulista, José Reinaldo da Silva, responsável pela administração de 35 unidades (com cerca de 32 mil detentos) prisionais da região -a maior parte destinada a abrigar membros ou simpatizantes do PCC.
O plano teria sido descoberto após a Polícia Civil de Presidente Epitácio (655 km de São Paulo) prender, em 31 de janeiro, seis suspeitos de pagar contas com cheques falsificados. Após busca em uma casa alugada pelo grupo, investigadores teriam encontrado armas (três fuzis, revólveres, pistolas e munição), algemas, coletes, capuzes, celulares, R$ 2.000, câmeras e três cartas com ordens para os seqüestros.
A orientação nas cartas -obtidas pela Folha- é invadir quatro casas em Presidente Venceslau, seqüestrar parentes ou diretores do sistema prisional da região, gravar pedidos de socorro das vítimas e entregar essas gravações aos servidores como forma de pressão pela fuga de dois detentos do PCC.
Segundo o delegado de Presidente Epitácio, Donato de Oliveira, os beneficiários do plano de fuga seriam Márcio Henrique Evaristo, o "Nenezão" ou "Nenê Coqueirão", e Marcos Antônio da Silva, o "Corintiano". Os dois seriam também os mentores do plano e autores das cartas.
"Eles são comparsas, compõem a cúpula do PCC e dividem a mesma cela da P2 [de Presidente Venceslau]", afirmou o delegado. Em janeiro de 2006, comparsas dos dois detentos foram presos com mísseis perto da prisão onde ambos estavam.
Uma das cartas traz indicações de horários para os crimes. "Vocês têm que pega a casa dele [diretor] antes de ele chegar da penitenciária. Aí quando ele chegar vocês já estarão dentro da casa e aborda" ele. [...] É melhor pegar antes o horário que ele vai é entre às 17h e 18h [sic]."
Em outro ponto, há ordens para filmar os pedidos de socorro das vítimas.
"Quando tiverem já as quatro casas nas mãos faz ele dar um depoimento filmado e gravado explicando as famílias para cooperarem que só se trata de um resgate para que não façam nenhuma besteira na hora de telefonarem pois tanto ele como quem tiver telefonando correrão risco de vida [sic]."

Autores e denúncia
Ontem, o Ministério Público denunciou sob a acusação de tentativa de extorsão mediante seqüestro, porte de arma de uso restrito e formação de quadrilha as seis pessoas detidas em janeiro e os dois detentos.
"Nenê Coqueirão" e "Corintiano" serão transferidos para o CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes (589 km de SP), onde vigora o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado). Na última sexta-feira, as polícias Civil e Militar foram colocadas em alerta após seus serviços de inteligência detectarem informações de possíveis ataques do PCC contra as forças de segurança do Estado.
Motivo da ameaça: o descontentamento dos presos com o regime no qual são mantidos em Presidente Venceslau 2. Lá, eles são vigiados 24 horas por homens armados com escopetas e por cães. Além disso, não recebem visitas fora das celas.


Colaborou ANDRÉ CARAMANTE, da Reportagem Local


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