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Ação flagra despejo ilegal de entulho, mas não tira sujeira
Operação da prefeitura em conjunto com a polícia deteve 13 pessoas por despejo ilegal de lixo; todas foram liberadas
Prefeitura diz que sujeira será removida depois e que quem despeja entulho ilegalmente tem culpa
pelas enchentes na cidade
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
MARLENE BERGAMO
REPÓRTER-FOTOGRÁFICA
Polícias militar, civil e científica, agentes municipais das 31
suprefeituras da cidade, além
do pessoal da Companhia de
Engenharia de Tráfego percorreram ontem as quebradas
mais sinistras de São Paulo,
atrás de contraventores que
movimentam a economia do lixo e do entulho clandestinos.
Para a prefeitura, os clandestinos carregam parte da responsabilidade pelas enchentes que
vêm castigando a cidade.
O objetivo da operação era
flagrar o pessoal que mexe com
caçambas e caminhões de entulho no exato momento em que
estivessem descarregando o lixo em vias públicas ou aterros
ilegais. Como o descarte de entulho clandestino é feito quase
sempre de madrugada, a repressão foi montada de modo a
ter seu pico nesse período.
Na área da Subprefeitura da
Lapa (zona oeste), a reportagem acompanhou homens da
prefeitura no reconhecimento
de terreno. Viu montanhas de
lixo, ruínas e destroços despejados em avenidas, ruas e praças, particularmente as localizadas em bolsões de pobreza.
Cenários de guerra.
No total, a operação, que contou com 300 policiais civis, cem
PMs e 150 funcionários municipais, flagrou 11 caminhões,
um trator, uma retroescavadeira e nove veículos menores fazendo o descarte ilegal de entulho. Treze pessoas foram detidas e liberadas após assinarem
termos circunstanciados.
Lixos, entulhos, sucatas permaneceram onde estavam. A
prefeitura diz que providenciará a limpeza dos locais.
Para o secretário das Subprefeituras, Ronaldo Camargo, outras blitze como a de ontem devem ocorrer "o quanto antes".
Segundo o engenheiro Luis
Sergio Akira Kaimoto, consultor de questões ambientais,
"para apresentar resultados,
seria necessário que a fiscalização dos despejos ilegais fosse
permanente e não episódica.
Uma megaoperação serve para
sinalizar a intenção do poder
público no sentido da tolerância zero. Mas é preciso que se
transforme em rotina".
"Ai desta cidade se não existissem vários Jorges como eu",
disse à Folha Jorge Hilton Silva dos Santos, proprietário de
uma empresa de reciclagem,
autodeclarada de "coleta de resíduos sólidos não perigosos de
construção civil e estacionamento de caçambas".
"A pessoa faz uma reforma e
produz entulho, que vai para a
caçamba. E onde isso acaba?
Aqui -e nas empresas de outros Jorges. A prefeitura não
tem como atender a todo esse
movimento. Nós prestamos
um favor a eles, tirando esse lixo das ruas."
"Ele não tem registro para
manter esse negócio e ponto",
arrematou Sonia Francine,
subprefeita da área, fechando o
terreno de 3.200 metros quadrados, vizinho à favela do Jaguaré (zona oeste), que Jorge
mantém como local de recepção de entulho. O local havia sido interditado em dezembro.
A prefeitura pegou de tudo.
Dois homens acabaram na delegacia porque foram flagrados
ao tentar despejar cinco toneladas de entulho numa rua de
Pirituba. E teve ainda o motorista de um caminhãozinho
vermelho, surpreendido quando se desfazia de quatro caixas
de papelão em um cruzamento
no Alto da Lapa.
"Ai, que pena. Que dó", murmurava a subprefeita enquanto
via o flagrante. Ao lado das caixas, pilhas de lixo ali colocados
pelo serviço municipal de varrição de rua e pelos moradores
do quarteirão estavam jogados,
esperando recolhimento.
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