São Paulo, domingo, 20 de março de 2005

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É cedo para propor método, diz médico

DA REPORTAGEM LOCAL

"Eu não tenho coragem de prometer isso". Com essa frase, o urologista Edson Borges Júnior, da clínica Fertility, resume bem o pensamento de especialistas em reprodução assistida que acham que ainda é muito cedo para propor o congelamento de óvulos como forma de assegurar a fertilidade no futuro.
O congelamento de óvulos sempre foi um desafio na área da reprodução assistida. Os espermatozóides são congelados com sucesso há mais de 50 anos, e os embriões já podem ser preservados desde o início da década de 90.
Para Borges, o congelamento de tecido ovariano só deve ser usado em situações extremas, como em casos de câncer em que a mulher submetida a quimioterapia ou radioterapia terá a fertilidade comprometida em 70% dos casos.
Nessas situações, em vez de óvulos, congelam-se fragmentos do ovário. Mais tarde, quando estiver curada, espera-se que a mulher possa reimplantar esse tecido no corpo e ter as funções ovarianas e reprodutivas restabelecidas. Há apenas uma única gravidez relatada nessa situação.
O ginecologista Selmo Geber compartilha da mesma opinião. "Eu não faço. Ainda não há segurança na técnica. O que o médico vai dizer à paciente se daqui há cinco anos, após o descongelamento, não sobrar nenhum óvulo viável?", questiona.
Geber também faz congelamento de tecido ovariano só de vítimas de câncer. Na sua clínica, há 30 fragmentos de ovários congelados. "São casos em que, em geral, o ovário iria para o lixo. E quando a mulher ainda não é mãe, essa é a única esperança."
Para Artur Dzik, é antiético oferecer a uma paciente um procedimento em que a taxa de sucesso seja tão mínima. "Não há garantia de nada. Além da baixa taxa de sobrevida do óvulo, são reduzidíssimos os índices de gravidez porque há alterações cromossômicas importantes", diz.
Dzik lembra que os casos de gravidez relatados por meio de óvulo congelado no mundo são esparsos. "É um resultado aqui, outro ali. A taxa de efetividade é muito baixa, não passa de 1%. O que é verdade é verdade em qualquer lugar do mundo. E o congelamento do óvulo, com taxa de aproveitamento aceitável, ainda não é uma realidade", conclui.
Hoje, segundo o especialista Edson Borges Júnior, até 60% dos óvulos podem sobreviver ao congelamento. O problema maior estaria nas possíveis alterações celulares que inviabilizariam a fecundação, explica o médico.
Roger Abdelmasssih é mais otimista. Ele afirma que consegue índices de até 90% de aproveitamento. Os óvulos saudáveis podem ser mantidos congelados por tempo indeterminado, diz ele.
Selmo Geber considera "temerário" alimentar as esperanças na mulher que, congelando os óvulos agora, engravidará no futuro. "Estamos muito longe de poder garantir isso. Até porque há outros fatores envolvidos na infertilidade. A prioridade deve ser sempre a gravidez natural."


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