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É cedo para propor método, diz médico
DA REPORTAGEM LOCAL
"Eu não tenho coragem de prometer isso". Com essa frase, o
urologista Edson Borges Júnior,
da clínica Fertility, resume bem o
pensamento de especialistas em
reprodução assistida que acham
que ainda é muito cedo para propor o congelamento de óvulos como forma de assegurar a fertilidade no futuro.
O congelamento de óvulos sempre foi um desafio na área da reprodução assistida. Os espermatozóides são congelados com sucesso há mais de 50 anos, e os embriões já podem ser preservados
desde o início da década de 90.
Para Borges, o congelamento de
tecido ovariano só deve ser usado
em situações extremas, como em
casos de câncer em que a mulher
submetida a quimioterapia ou radioterapia terá a fertilidade comprometida em 70% dos casos.
Nessas situações, em vez de
óvulos, congelam-se fragmentos
do ovário. Mais tarde, quando estiver curada, espera-se que a mulher possa reimplantar esse tecido
no corpo e ter as funções ovarianas e reprodutivas restabelecidas.
Há apenas uma única gravidez relatada nessa situação.
O ginecologista Selmo Geber
compartilha da mesma opinião.
"Eu não faço. Ainda não há segurança na técnica. O que o médico
vai dizer à paciente se daqui há
cinco anos, após o descongelamento, não sobrar nenhum óvulo
viável?", questiona.
Geber também faz congelamento de tecido ovariano só de vítimas de câncer. Na sua clínica, há
30 fragmentos de ovários congelados. "São casos em que, em geral, o ovário iria para o lixo. E
quando a mulher ainda não é
mãe, essa é a única esperança."
Para Artur Dzik, é antiético oferecer a uma paciente um procedimento em que a taxa de sucesso
seja tão mínima. "Não há garantia
de nada. Além da baixa taxa de sobrevida do óvulo, são reduzidíssimos os índices de gravidez porque há alterações cromossômicas
importantes", diz.
Dzik lembra que os casos de
gravidez relatados por meio de
óvulo congelado no mundo são
esparsos. "É um resultado aqui,
outro ali. A taxa de efetividade é
muito baixa, não passa de 1%. O
que é verdade é verdade em qualquer lugar do mundo. E o congelamento do óvulo, com taxa de
aproveitamento aceitável, ainda
não é uma realidade", conclui.
Hoje, segundo o especialista Edson Borges Júnior, até 60% dos
óvulos podem sobreviver ao congelamento. O problema maior estaria nas possíveis alterações celulares que inviabilizariam a fecundação, explica o médico.
Roger Abdelmasssih é mais otimista. Ele afirma que consegue
índices de até 90% de aproveitamento. Os óvulos saudáveis podem ser mantidos congelados por
tempo indeterminado, diz ele.
Selmo Geber considera "temerário" alimentar as esperanças na
mulher que, congelando os óvulos agora, engravidará no futuro.
"Estamos muito longe de poder
garantir isso. Até porque há outros fatores envolvidos na infertilidade. A prioridade deve ser sempre a gravidez natural."
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