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TERRA ESTRANGEIRA
Gente de outros países vem à procura de trabalho
Brasil tem 1,5 milhão de imigrantes irregulares
DEBORAH GIANNINI
DA REVISTA DA FOLHA
"Para el migrante, la patria es la
tierra que le da el pan", diz o cartaz amarelado na porta do Centro
da Pastoral do Migrante, no bairro da Liberdade, em São Paulo.
Cerca de 5.000 estrangeiros ilegais cruzam por ano aquela porta,
em busca daquilo que a nova pátria ainda não conseguiu lhes prover: ajuda para pôr fim à própria
clandestinidade.
Para o senso tupiniquim, talvez
não seja compreensível que, entre
tantos lugares do mundo, um estrangeiro escolha um país reconhecido como socialmente excludente para apostar sua esperança.
Estima-se que 1,5 milhão de estrangeiros vivam de forma irregular no Brasil. Das safras migratórias mais recentes, cerca de 80%
são bolivianos, seguidos de peruanos, chineses e africanos
(principalmente da Nigéria).
"O Brasil é a "América" para
muitos estrangeiros. É como o
brasileiro que vai para os EUA ou
o Japão: "Vou ganhar US$ 2.000
por mês", comemoram. Na visão
de americanos, isso não é nada,
mas para ele e seu sonho de ajudar a família é muito", compara
Luiz Eduardo Machado, chefe do
setor de Registro de Estrangeiros
na Polícia Federal de São Paulo.
Só que o perfil do brasileiro que
deixa o país para "fazer a América" é bem diferente do perfil do
boliviano que tenta a sorte aqui.
"Entrar ilegalmente nos Estados
Unidos exige uma reserva de US$
15 mil, para o passaporte falso e o
"coiote" que vai guiar o ilegal na
travessia da fronteira México/
EUA. Esse brasileiro sai da classe
média. O boliviano é quase sempre miserável. Muitas vezes vem
sem dinheiro nenhum, orientado
por coiotes pagos pelo dono da
oficina de costura de São Paulo,
com quem criam uma dívida a ser
paga com meses de trabalho", diz
o padre Roque Renato Pattussi,
coordenador do Centro da Pastoral do Migrante.
De olho na mudança do panorama migratório ocorrido nos últimos anos, já existe uma comissão interministerial formada para
discutir a reforma do Estatuto do
Estrangeiro, criado em 1980. Por
ser anterior à atual Constituição,
de 1988, o texto atual diverge dela
em alguns pontos, como nos que
dizem respeito a saúde e educação. O estatuto não permite acesso do estrangeiro a esses serviços
públicos; já a Constituição assegura tratamento igual a todos.
Hoje, conseguir permanência
definitiva por aqui não é difícil:
basta se casar com um local ou ter
filho aqui sob sua guarda e dependência econômica. A questão é
que a grande maioria dos imigrantes não se preocupa em obtê-lo porque não pretende, de início,
viver "para sempre" no Brasil.
"Todo imigrante, quando sai de
seu país, tem o princípio moral do
retorno. "Eu vou, fico três anos e
volto". Mas o retorno acaba sendo
mais demorado porque ele não
alcança o que planejava naquele
período", diz o padre Roque.
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