São Paulo, domingo, 20 de março de 2011

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Fícus paulistanos adoecem e morrem misteriosamente

Árvore que se espalhou pela cidade a partir dos anos 80 sucumbe nas ruas

Botânicos estudam fenômeno e alertam para risco que a perda de tantos exemplares pode trazer à metrópole

CRISTINA MORENO DE CASTRO
DE SÃO PAULO

Uma epidemia misteriosa se espalha por São Paulo. As vítimas são um grupo restrito de indivíduos: os fícus, árvores de folhagem cerrada cuja altura chega a até 16 metros.
Comuns nas ruas da cidade, elas costumam manter suas folhas verde-escuro vistosas mesmo em tempo seco.
Daí a surpresa com o fenômeno: desde janeiro, os "indestrutíveis" fícus paulistanos estão morrendo. Primeiro, as folhas ficam amareladas, depois caem, formando um tapete no chão. Por fim, raiz e tronco são atingidos.
Essas figueiras plantadas nas calçadas, nas praças e nos parques se espalharam rapidamente e compõem boa parte das estimadas duas milhões de árvores da cidade.
Importadas da Malásia, viraram moda a partir dos anos 80. Apesar de causarem problemas no pavimento e encanamentos, caíram no gosto dos moradores e foram adotadas em todos os bairros.
Para especialistas, a morte em massa dos fícus pode causar forte impacto na biomassa verde paulistana, aumentando as ilhas de calor.
O ambientalista Ricardo Cardim, mestrando em botânica na USP, tenta entender o fenômeno. Ele acompanhou a Folha em vários bairros da zona oeste a fim de mostrar as várias fases da doença.
Cardim também viu fícus desfolhados em bairros da periferia e até na beira da Serra da Cantareira. A reportagem constatou a doença nos nove bairros que visitou, nas regiões oeste e central.

POSSIBILIDADES
Há suspeita entre botânicos que um fungo esteja causando as mortes, mas não se sabe qual, nem de onde vem.
Em 2003, um fungo matou muitos fícus no Tocantins e em Minas Gerais.
Outra hipótese foi levantada por Joaquim Teotônio Cavalcanti Neto, agrônomo arborista da Plant Care, especialista em árvores urbanas.
As análises das folhas chegaram a um agente, a mosca branca, que, numa possível infestação, suga a seiva insistentemente até o fícus desistir de rebrotar e sucumbir.
Engenheiros agrônomos da prefeitura já enviaram amostras ao Instituto Biológico para determinar a causa do problema. Os resultados ainda não saíram. A prefeitura diz que as árvores mortas serão repostas e as doentes, tratadas, caso não apresentarem risco para a população.
Em janeiro, um decreto municipal agilizou a remoção do fícus e de outras árvores que causam dano à infraestrutura urbana. "A gente criou um problema ecológico ao trazê-la para cá e a própria natureza está tomando conta", afirma Cardim.


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