São Paulo, sexta, 20 de março de 1998

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Empresa tinha pressa, diz engenheiro

OSWALDO BUARIM JR
da Sucursal de Brasília

O engenheiro que fez o cálculo estrutural do edifício Palace 2, no Rio, José Roberto Chendes, disse ontem ter certeza de que o prédio desabou por deficiência do material usado pela Sersan em sua construção. O prédio desabou parcialmente no domingo de Carnaval e foi implodido depois.
Chendes admitiu ter liberado a planta de locação e carga dos pilares -fundamental para início das fundações do edifício- sem cálculos precisos do peso que as colunas teriam que suportar. Por estimativa, Chendes definiu que os pilares externos 4 e 44, que cederam, deveriam suportar até 480 toneladas. Depois, ao fazer a planta de armação dos pilares, levou em conta o peso real que teriam de suportar, de 260 toneladas.
"Isso aconteceu porque a empresa tinha muita pressa de iniciar a obra", disse. "Liberei a planta de locação com o peso dos pilares majorado para dimensionar a fundação do prédio", disse. Segundo Chendes, algumas empresas pressionam para que a planta de locação e carga dos pilares seja feita antes da planta de armação.
O engenheiro, formado na UnB (Universidade de Brasília) há 25 anos, afirmou que as duas plantas não podem ser comparadas para criticar o serviço que fez. "Superdimensionei no início apenas para embasar a fundação, e isso não pode ser comparado com cálculo baseado no peso real usado na planta de armação", defendeu-se.
Chendes afirmou que "de maneira alguma uma obra com diferença de 200 toneladas nos pilares ficaria de pé por dez anos". Segundo ele, ruiria na construção.
O engenheiro não tem nenhuma cópia das plantas de cálculo estrutural que fez para a construção do Palace 2 pela Sersan. As plantas também não foram registradas no Crea (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) do Rio, embora esse seja um procedimento obrigatório.
Chendes afirmou ter pedido para a Sersan que registrasse as plantas no Crea, mas nada foi feito e ele se esqueceu. "Essa é uma obra que passou em minha vida. Não acompanhei", disse. Chendes disse, entretanto, que não existe exigência ao calculista de acompanhar a obra, trabalho realizado pelo engenheiro responsável.
Ele disse que o cálculo de peso sobre o pilar 17, o primeiro a ruir, não foi questionado pela perícia particular contratada pelo deputado Sérgio Naya, dono da Sersan.
O pilar 17, mais central e capaz de suportar mais de 600 toneladas de peso, disse Chendes, foi calculado para suportar até 1.000 toneladas. "Provavelmente, o primeiro estalo ouvido pelos moradores foi da ferragem do P17 se abrindo, por falta de ganchos que a pendessem na horizontal e baixa resistência do concreto."



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