São Paulo, Sábado, 20 de Março de 1999
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Pesquisa mapeia o mal-estar dos gases

AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local

Pesquisa nacional revela que 31,2% da população -ou cerca de 48 milhões de brasileiros- sofrem de algum mal-estar, dor ou cólica provocado por gases. Dois estudos quantitativos e um qualitativo fazem uma radiografia inédita dos efeitos dos puns e arrotos no cotidiano das pessoas.
Trata-se do primeiro perfil da saúde gastrointestinal do brasileiro construído a partir da relação das pessoas com gases estomacais e intestinais. Segundo a pesquisa, o problema é duas vezes mais comum nas mulheres que nos homens, é mais frequente entre as pessoas de 40 a 49 anos e é mais relatado nas classes C, D e E.
Os gases incomodam mais os moradores das regiões Nordeste e Sul e aqueles que habitam as cidades com menos de 10 mil habitantes, seguido das capitais.
O estudo quantitativo foi feito pelo instituto Gallup com uma amostra de 2.000 adultos, homens e mulheres, representativos de todas as regiões do país e classes sociais. Os estudos qualitativos foram realizados pela Sinal Pesquisas de Psicologia do Consumo, que entrevistou grupos de homens e mulheres em São Paulo, Porto Alegre e Recife. Também foram entrevistadas mães que tinham filhos de até 2 anos, idade onde o problema de gases é muito presente.
As pesquisas foram feitas para o laboratório Bristol-Myers Squibb que, não por acaso, é o fabricante do Luftal, remédio para flatulência que vende 11 milhões de unidades por ano no país.
A pesquisa constatou que a maioria das pessoas ainda recorre a remédios caseiros para tratar dos gases e que muitos confundem antiácidos e antiespasmódicos com antigases. Segundos os médicos, os antigases agem destruindo a bolha de gás, mas não resolvem a origem do problema.
Os estudos levaram o laboratório a investir mais no público feminino, pois revelaram que homens acabam recorrendo às mães e mulheres quando têm problemas de gases. Outra conclusão da pesquisa: o brasileiro lida bem com o tema e com o problema. Em lugar de respostas embaraçosas e piadinhas, os entrevistadores ouviram relatos francos e bem-humorados. "Para nossa surpresa, a maioria tratou o assunto com naturalidade", disse Luiza Dias, gerente de produtos do laboratório e que acompanhou as pesquisas.
Segundo ela, um estudo semelhante realizado no México mostrou que lá as pessoas com problemas de gases se preocupam mais com o embaraço social, preferindo se afastar do grupo. "Já os brasileiros acham que os gases são normais e estão mais preocupados em resolver o problema."
As pesquisas também levaram o laboratório a adotar a expressão antiga. "Nós falávamos em desconfortos estomacais ou flatulência, mas as pessoas simplesmente falavam em gás", diz Luiza Dias.


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