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DROGAS
Estudo realizado na Unifesp, a partir de relatos de usuário, aponta que 70% deixaram o crack definitivamente
Maconha é a nova arma contra o crack
AURELIANO BIANCARELLI
da Reportagem Local
Fumar maconha poderia ajudar
dependentes de crack a sair do
mundo das drogas. O possível
``efeito terapêutico'' da cannabis
aparece em estudo polêmico e inédito realizado pelo departamento
de Psiquiatria da Escola Paulista de
Medicina (EPM) da Unifesp.
Durante 12 meses, psiquiatras
acompanharam um grupo de 20
dependentes que relatavam estar
fumando maconha numa tentativa de diminuir a compulsão e a ansiedade provocadas pelo crack.
No final do estudo, 14 deles
-70% do grupo- tinham deixado de usar crack e estavam fumando maconha esporadicamente.
``Partimos do princípio de que a
maconha tem um potencial curativo e que poderia ser uma droga de
passagem'', diz o psiquiatra Dartiu
Xavier da Silveira, diretor do
Proad, Programa de Orientação e
Assistência ao Dependente da
EPM, onde a pesquisa foi feita.
Usualmente, a maconha é tida
como uma droga de passagem para drogas mais fortes. No estudo
em questão, ela seria uma passagem de volta, um caminho para
deixar drogas mais pesadas.
Dois especialistas ouvidos discordam totalmente do estudo.
``Quem tenta substituir uma droga por outra, acaba voltando para
a mais forte'', diz o psiquiatra Jorge Cesar Gomes de Figueiredo, especialista em dependência química. O mais provável -diz a neuropsiquiatra Patrizia Streparava,
da Associação Paulista de Medicina- é que ``a maconha nada tenha a ver com a recuperação''.
O estudo do Proad começou com
relatos de dependentes de crack
dizendo se sentir melhor ao fumar
maconha. ``Era um dado que aparecia em relatos de jovens que chegavam procurando tratamento'',
diz Eliseu Labigalini Júnior, que
co-autor da pesquisa com o psiquiatra Lúcio Ribeiro Rodrigues.
Os 20 pacientes escolhidos para o
estudo afirmavam que a maconha
diminuía a fissura do crack -a
ânsia para usar mais droga-,
abria o apetite e permitia que dormissem melhor. Em vez de convencê-los a deixar a maconha
-como aconteceria normalmente-, os psiquiatras optaram por
saber os efeitos dela sobre o crack.
Os 20 pacientes -entre 16 e 28
anos- fumavam em média três
cigarros de maconha por dia. Segundo os psiquiatras, depois de
três meses de acompanhamento,
14 deles tinham diminuído significativamente o uso do crack. Ao final de um ano, os 14 relataram não
estar mais fumando crack e o uso
da maconha teria sido reduzido a
um ou dois cigarros por semana.
Do grupo inicial, três deles deixaram o tratamento nos primeiros
meses e três continuaram usando
crack e maconha.
Como todos os pacientes do
Proad, eles participavam de terapias em grupo uma vez por semana. ``É importante dizer que não
sugerimos o uso da maconha'', diz
Labigalini. ``Só acompanhamos
um grupo de dependentes de crack
que já fazia uso dessa droga.''
O estudo está disponível pela Internet na edição de fevereiro deste
ano da revista ``Psyachiatry on Line'' (endereço abaixo). Segundo os
autores, a pesquisa será publicada
em revista especializada norte-americana nos próximos meses.
Endereço da ``Psyachiatry on Line":
http://www.priory.com/brazil.htm
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