São Paulo, domingo, 20 de abril de 1997.

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DROGAS 3
Segundo Denarc, entorpecente já é consumido por cerca de 150 mil pessoas na capital e Grande São Paulo
Crack movimenta R$ 15 mi por mês em SP

RICARDO FELTRIN
da Reportagem Local

Cinco anos depois de se tornar um problema de saúde pública, o crack -droga derivada da mistura de pasta de coca ou cocaína com bicarbonato de sódio- já é consumido com frequência por cerca de 150 mil pessoas na capital e Grande São Paulo.
Pesquisa realizada pela Divisão de Inteligência e Apoio Policial (Diap) do Denarc aponta que o tráfico de crack em 68 municípios na região metropolitana de São Paulo movimenta por mês, no mínimo, R$ 15 milhões. Os números são semelhantes aos registrados em cidades como Nova York, o ``berço'' dessa droga.
O perfil do comprador de crack em São Paulo: branco, solteiro, não acabou a 8¦ série e é pobre.
A pesquisa aponta que cerca de 90% dos compradores de crack pertencem às classes C e D.
A pesquisa foi feita a partir da amostragem de pontos confirmados de tráfico e o número de compradores que esses locais têm.
Segundo o diretor do Diap, Godofredo Bittencourt, cerca de 40 mil novos consumidores de crack estão surgindo na região metropolitana a cada ano. Há menos de cem policiais civis empenhados no combate ao crack na capital.
Para Bittencourt, o crescimento do mercado, aliado à falta de uma política nacional de repressão, transformou o crack na ``droga do fim de milênio''.
Para tentar reduzir a ação do narcotráfico no Estado, a Polícia Civil paulista vai promover mudanças estruturais.
Na quinta, 52 delegados das Dise (Delegacia de Investigação sobre Entorpecentes) no interior vão se reunir em São Paulo com o diretor-geral do Denarc, Marco Antonio Ribeiro de Campos. Eles serão informados que, ainda neste semestre, todas as Dise deverão estar sob coordenação do Denarc.
Embora Denarc e Dise combatam o mesmo problema -o tráfico-, ambas atuam hoje de forma absolutamente independente.
As ações das Dise jamais são submetidas à aprovação do Denarc e só muito raramente têm apoio de seus policiais. Cada Dise só responde à sua delegacia seccional correspondente.
Para Ribeiro de Campos, isso facilita a ação dos traficantes e reduz a capacidade do próprio Estado de agir e ter dados estatísticos de apreensões de drogas confiáveis.
Segundo o diretor do Denarc, a proposta de coordenação das Dise pelo Denarc não deve causar problema na polícia.
O ``problema'', no caso, seria o provável descontentamento dos delegados-seccionais -que podem protestar contra a suposta perda de poder. ``A idéia não é fazer do Denarc o chefe das Dise. Nossa proposta é apenas poder coordenar ações de repressão no Estado.''

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