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São Paulo, domingo, 20 de abril de 2003

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SAÚDE

Tratamento inadequado pode mascarar entorses mais graves e levar a pessoa a adotar postura incorreta

Descuido com lesão torna o pé vulnerável

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Gerson, 55, quebrou dois ossos na região do tornozelo ao enfiar o pé em um buraco na praia. Henrique, 20, rompeu dois ligamentos do tornozelo durante um jogo de futebol. Maria Lúcia, 32, torceu o pé durante uma corrida. Assim como eles, estima-se que 70% da população mundial apresente pelo menos uma lesão nos pés em alguma fase da vida.
Entorses, tendinites e fasciites (inflamação do tecido fibroso que recobre músculos) são as lesões mais frequentes e, geralmente, ocorrem durante a prática de algum esporte, especialmente o futebol e a corrida, pelo uso de calçados inadequados, por falta de alongamento e desequilíbrio da força muscular.
Os entorses de tornozelo, que comprometem os ligamentos, são os campeões em queixas. Também são as lesões tratadas com mais descaso pela população. Segundo ortopedistas e fisioterapeutas, a maioria das pessoas só procura ajuda médica quando o entorse a impossibilita de andar ou praticar os esportes habituais.
Colocar gelo, pomadas ou ervas no local lesionado até alivia em muitos casos a dor, mas pode mascarar problemas mais sérios, deixar o local vulnerável a novas lesões, além de levar a pessoa a adotar posturas incorretas para compensar o local dolorido.
Segundo o ortopedista Caio Augusto de Sousa Nery, 49, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina e Cirurgia do Pé, a ruptura de um ligamento do tornozelo, por exemplo, pode não incomodar em um primeiro momento, mas vai se manifestar com mais gravidade quando a pessoa precisar de um esforço maior. "O sujeito vai correr para atravessar a rua, por exemplo, e o pé pode fraquejar", afirma. Esse "fraquejar" pode significar a ruptura de dois ou mais ligamentos do tornozelo.
Foi exatamente o que aconteceu com a estudante Maria Lúcia Santana. Há um ano, ela torceu o pé durante uma caminhada. "Ficou meio inchado, passei pomada e, dias depois, a dor desapareceu."
Em janeiro, Santana resolveu trocar as caminhadas por uma corrida na pista do parque Ibirapuera. "Na segunda volta, pisei em falso e escutei um estalo no pé", diz. Resultado: dois ligamentos rompidos no tornozelo, uma cirurgia para reconstitui-los e seis meses sem atividade física.
"O principal problema é que as pessoas sedentárias iniciam uma atividade física sem o menor preparo físico e sem a orientação de um profissional", afirma o ortopedista Pedro Doneux, presidente da Sociedade Paulista de Ortopedia. Associado ao despreparo físico, segundo ele, está a escolha errada do calçado.
Mas não são apenas os esportistas amadores que descuidam do tratamento correto das lesões. Segundo o ortopedista Moisés Cohen, 49, professor e chefe do centro de traumatologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), os atletas profissionais também negligenciam o tratamento dos entorses. "Se não trata na primeira vez, a possibilidade de novas lesões é muito maior e, certamente, isso irá acontecer em competições futuras", diz.
Cohen, que já operou jogadores como Vampeta e Raí, acha fundamental que a pessoa procure um ortopedista para avaliar, por meio de exames clínicos e de raios X, a gravidade da lesão. "Se for um ligamento, basta um imobilizador. Se for dois ou mais, é quase certa a necessidade de cirurgia."

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