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HABITAÇÃO
Manifestantes cobram investimentos dos governos Alckmin e Lula; prédios da CDHU na cidade foram principal alvo
Sem-teto promovem onda de invasões
DA REPORTAGEM LOCAL
Movimentos de moradia organizaram desde a noite de anteontem uma série de invasões de terrenos e prédios públicos e de uma
área particular na cidade de São
Paulo, na maior ação coordenada
de grupos de sem-teto no Estado
desde julho do ano passado.
Foram sete tentativas de invasão, lideradas por quatro entidades. Duas foram contidas pela Polícia Militar e uma prosseguia até
a noite de ontem. Nas demais, a
PM retirou os invasores logo depois da ocupação. Os grupos participantes prometem novas ações
-incluindo ocupações e atos-
nas próximas semanas, em protesto contra a política habitacional dos governos Alckmin
(PSDB) e Lula (PT). A administração Marta Suplicy (PT) foi
poupada pelos organizadores.
Os principais alvos foram os
prédios do governo do Estado
-ao menos três da CDHU
(Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) e um
quartel desativado da PM, cuja invasão foi classificada pela Secretaria da Segurança Pública como
uma tentativa de desmoralizar a
corporação. Houve confronto entre sem-teto e PMs, que usaram
bombas de efeito moral e balas de
borracha. Três pessoas se feriram.
Outras duas invasões foram em
um terreno abandonado da empresa Fibra S/A, na zona sul, e em
um espaço nas proximidades do
terminal rodoviário da Barra
Funda e que seria do Metrô. A PM
e as entidades confirmam ainda a
tentativa de ocupação de uma
área na av. Celso Garcia, na zona
leste, que, segundo ambos, seria
da CDHU. A companhia nega.
Os grupos participantes, que
têm entre seus líderes militantes
do PT e do PC do B, falam em
5.500 manifestantes. A PM afirma
que foram 2.400 invasores.
As ações foram seguidas de passeatas no decorrer do dia e começaram a ser preparadas há três
meses. As datas foram definidas
nos últimos dias 6 e 7, e os locais
foram escolhidos pelas diversas
células dos grupos, que usam códigos. Na zona sul, a invasão era
chamada de "festa". No centro, a
senha era "sinal verde".
A presidente da CMP (Central
de Movimentos Populares), Maria das Graças Xavier, afirmou
que não havia intenção de permanecer nas instalações invadidas,
mas somente promover uma mobilização política que despertasse
a atenção das autoridades. Mesmo assim, os manifestantes permaneceram em um terreno da
CDHU da zona sul. Ela disse acreditar que parte dos endereços das
ocupações tenha "vazado", já que
a PM conseguiu desmobilizar as
ações sem muita demora.
A ação dos sem-teto foi classificada pelo governador Geraldo
Alckmin (PSDB) como "abril vermelho urbano", referência às invasões do MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra)
espalhadas pelo país. As entidades participantes, porém, rejeitam esse rótulo, sob a alegação de
que não houve acordo entre eles.
"O abril vermelho é uma agenda
do MST, ao qual somos solidários. Mas nada fere a autonomia
de cada movimento. Somos defensores da reforma agrária, mas
nossa atividade é urbana e nasceu
a partir de uma campanha concreta", afirmou Wander Geraldo
da Silva, presidente da Conan
(Confederação Nacional das Associações de Moradores).
Além da CMP e da Conan, os
outros dois movimentos que lideraram as invasões foram: UNMP
(União Nacional por Moradia Popular) e MNLM (Movimento Nacional de Luta por Moradia).
Reivindicações
As principais reivindicações das
entidades abrangem a criação de
um fundo e de um conselho nacional e estadual de moradia
-por meio dos quais haveria
mais recursos e debate popular
sobre a destinação das verbas.
Elas também reclamam das exigências da Caixa Econômica Federal para a concessão de financiamentos, cobram programas de
mutirão no Estado e descentralização dos recursos da CDHU.
Alegam ainda que a gestão tucana
entregou apenas um terço das
moradias populares prometidas.
Além das invasões em São Paulo, elas também organizaram uma
em Recife. As entidades programam protestos em Curitiba e em
Campinas e um ato em Brasília no
dia 12 de maio, em busca de uma
reunião com Lula. A idéia é que
essa série de mobilizações tenha
como um dos marcos uma caravana a Brasília no dia 2 de junho.
Os organizadores negaram a informação de que a ausência da
Prefeitura de São Paulo entre os
alvos dos sem-teto poderia estar
ligada às eleições municipais.
"A prefeitura aprovou um fundo municipal de habitação e elegeu um conselho. Independentemente de governo e de partido,
somos um movimento de moradia", disse Donizete Fernandes de
Oliveira, coordenador da UNMP.
A Secretaria da Habitação da
gestão Marta tem assessores ligados à CMP. Na última série de invasões, em julho de 2003, os sem-teto se dividiram sobre ações contra a prefeitura.
(ALENCAR IZIDORO, AMARÍLIS LAGE, FABIO SCHIVARTCHE,
LAURA CAPRIGLIONE, SIMONE IWASSO E
AURELIANO BIANCARELLI)
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