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POLÊMICA
Procuradoria da República no Piauí quer eliminar veto a sangue de homossexual, grupo que a Anvisa considera de risco
Justiça analisa restrição a doadores gays
JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA
A Procuradoria da República no
Piauí entrou com uma ação civil
pública na Justiça Federal em que
solicita que a União e a Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância
Sanitária) passem a considerar
homossexuais e bissexuais como
habilitados a doarem sangue à
população do país.
Pela resolução 153 da Anvisa, de
2004 -que determina os procedimentos hemoterápicos no Brasil-, são inabilitados por um ano
para a doação "homens que tiveram relações sexuais com outros
homens e/ou as parceiras sexuais
destes" durante um prazo de 12
meses antes da coleta.
No entendimento de Tranvanvan Feitosa, procurador da República no Piauí, a proibição é discriminatória e "constitui flagrante
inconstitucionalidade". Na ação,
ele argumenta que, "em outras
palavras, a pessoa teria que deixar
de ser homossexual para que pudesse doar sangue".
De acordo com o infectologista
Caio Rosenthal, ser homossexual
não significa maior risco de contaminação. "O conceito de grupos
de risco é ultrapassado. Atualmente, as novas incidências do
HIV acontecem mais entre heterossexuais e mulheres. Então eles
também deveriam ser rejeitados
para doação?", provoca.
Mas David Uip, também infectologista, é favorável à manutenção das restrições. "O risco de
transmissão de HIV de um homem para outro é muito maior.
Isso é estatístico. Não é preconceito restringir. É segurança", diz.
A ação ajuizada teve início depois de uma representação do
grupo GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros) Matizes
ter sido protocolada no Ministério Público Federal. "Recebemos
relatos de homossexuais que se
diziam constrangidos quando
iam tentar doar sangue, em decorrência das perguntas [relacionadas ao comportamento sexual
deles] feitas na entrevista", afirmou a presidente do Matizes, Marinalva Santana, 34.
O procurador requer ainda a
proibição de perguntas para identificar a orientação sexual do doador. "Antes da utilização, o sangue é submetido a todos os testes
possíveis, não se justificando a
verdadeira devassa feita à vida
pessoal do candidato à doação",
declara na ação.
"Temos de partir do pressuposto de que todo o sangue doado é
testado, independentemente de
orientação sexual", afirma Cláudio Pereira, do grupo de trabalho
jurídico do Fórum de ONG/Aids
do Estado de São Paulo, que é favorável ao fim das restrições.
Regras
A Anvisa, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou que
não havia sido notificada oficialmente sobre a ação. "Todas as regras que são colocadas foram discutidas em consultas públicas,
com toda a sociedade. O objetivo
maior é garantir a saúde e a segurança de quem recebe o sangue."
O órgão diz ainda que a restrição "é baseada em dados que
comprovam que homens que fizeram sexo com outros homens
têm mais chances de ter doença
sexualmente transmissível".
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