|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JUSTIÇA
Acusado de matar pai e madrasta, ele se diz inocente; família dela afirma que está "amedrontada" com a soltura
Gil Rugai é libertado após 2 anos de prisão
ANDRÉ CARAMANTE
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O estudante Gil Rugai, acusado
de matar o pai, Luiz Rugai, e a madrasta, Alessandra Troitino, em
março de 2004, deixou a cadeia na
noite de ontem, depois de dois
anos preso. Sem barba, de camisa
branca, ao lado de três advogados,
ele saiu do CDP (Centro de Detenção Provisória) de Pinheiros,
zona oeste de São Paulo, sem falar
com os repórteres.
A família de Alessandra afirmou, por meio de seu advogado,
que está "indignada" e "amedrontada" com a libertação do estudante. Parentes de Alessandra e
de Luiz Rugai disputam na Justiça
a partilha dos bens.
O estudante foi libertado pelo
STF (Supremo Tribunal Federal),
que considerou que a prisão preventiva (até o julgamento) não
poderia se prolongar por tanto
tempo. Ainda não foi marcada a
data do julgamento do estudante,
que nega o crime e aponta falhas
na investigação.
A saída de Rugai da prisão teve
um tratamento diferenciado pelo
presídio, segundo a própria Secretaria da Administração Penitenciária. Fernando José da Costa,
advogado do estudante, teve permissão para entrar com o seu veículo na área de segurança da unidade, o que é vetado para os demais detentos.
O estudante entrou no carro e
saiu pelo portão, evitando o acesso dos repórteres. Cinco minutos
antes, três presos também recém-libertos deixaram a unidade a pé.
Segundo a secretaria, o advogado
teve autorização para entrar na
área de segurança para "proteger
o preso do sensacionalismo de
parte da imprensa".
Antes de retirar seu cliente do
presídio, o advogado disse que o
estudante foi orientado a não falar
sobre o caso. "Se o Tribunal de
Justiça decidir pelo júri popular, é
lá que ele vai falar." A defesa entrou com um recurso contra a
"sentença de pronúncia" (que
confirma o júri popular), parando
o processo. O advogado disse que
ainda tentará anular a ação criminal. "Há dois anos, Gil Rugai foi
considerado culpado pelo Ministério Público e pelas autoridades
policiais quando nem 5% das testemunhas tinham sido ouvidas e
nenhuma das dezenas de perícias
havia sido concluída."
Segundo Costa, que pediu segredo de Justiça no processo, Rugai vai sair de São Paulo, para evitar o assédio, e tem planos de escrever um livro. Na prisão, ele deu
aulas de catequese e alfabetização.
Era conhecida como uma pessoa
extremamente calma. Ontem,
amigos fizeram uma celebração
religiosa antes de sua saída.
Medo
Dircêo Torrecillas Ramos, advogado da família de Alessandra e
assistente de acusação do Ministério Público, disse que pais e irmãos de Alessandra estão amedrontados com a libertação, principalmente pelas ações de disputa
pelos bens de Luiz e Alessandra
-casa, carros, um avião, um barco, equipamentos de uma empresa de publicidade e dinheiro.
Em uma das ações, Léo Rugai
-irmão mais novo de Gil- aparece como inventariante em uma
ação sobre os bens de Luiz Rugai.
Em outra, a família de Alessandra
reivindica 50% dos bens. "Se ele
[Gil Rugai] fez tudo isso por interesse nos bens, preocupa saber
que ele está livre no momento em
que a família dela também reivindica o que lhe é de direito", disse.
A promotora Mildred Gonzales
também afirmou que a liberdade
do estudante coloca em risco a vida da principal testemunha do caso. O vigia de rua Domingos Ramos Oliveira Andrade, que afirmou à polícia ter visto o estudante
sair da casa do pai logo após os
disparos, está no Provita (Programa de Proteção a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas) desde o
crime, ocorrido em 2004.
"É a inversão dos valores. Mais
vale a liberdade de um bandido
do que a liberdade de uma testemunha que contribuiu com a Justiça", afirmou Mildred. Dias depois do crime, a guarita na qual o
vigia trabalhava foi incendiada.
Palavras de ameaça também foram escritas em um muro. A partir daí, o vigia, a mulher e três filhos foram incluídos no Provita.
"A alta corte [o STF] está distante da criminalidade que assola o
país", afirmou a promotora. Ela
afirma que o Ministério Público
ficou com as "mãos atadas". "Não
podemos fazer nada, a não ser
que ocorra algum fato novo."
Texto Anterior: Saúde: Zona sul tem 1ª unidade de atendimento rápido Próximo Texto: Frase Índice
|