São Paulo, sábado, 20 de maio de 2006

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GUERRA URBANA /CONFRONTO

Comandante-geral disse que tinha conhecimento das ameaças, mas que não quis causar "pânico" nos soldados com notificação por rádio

PMs só receberam alerta geral após ataques

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O comandante-geral da Polícia Militar, Elizeu Eclair Borges, disse ontem que o alerta geral via rádio para os PMs sobre os atentados do PCC só ocorreu na noite de sexta, dia 12, por volta das 20h, depois que dois policiais foram feridos na zona leste de São Paulo.
O coronel afirmou, no entanto, que toda a corporação sabia verbalmente das ameaças desde o dia anterior. "Não fizemos o alerta via rádio antes para evitar pânico e tumulto entre os policiais." No total, 41 agentes do Estado morreram nos ataques, entre os quais policiais civis (7) e militares (23).
Segundo Eclair, a polícia soube das ameaças do PCC durante o transporte dos 765 líderes da facção para a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, na região oeste do Estado.
"Nós tínhamos a experiência de 2003 e a de janeiro deste ano, ocasiões em que eles [PCC] atacaram bases fixas, não atacaram carros da polícia", disse o comandante.
Eclair afirma, porém, que na sexta, após o início dos atentados, ele pessoalmente determinou: ""Agora não é mais reunião. Entrem na rede de rádio para o Comando Metropolitano e para o Comando da Capital e alertem os policiais". É óbvio que na rede nunca falamos que morreu policial. Confirmamos que houve ataques, que estávamos sob uma onda de ataques. Eu gostaria de pôr um ponto final nisso aí. Isso foi amplamente divulgado."
O comandante-geral disse que na quinta-feira, assim que a polícia soube das ameaças, reuniu os oito comandantes regionais da Polícia Militar e passou todas as instruções, que deveriam ser repassadas para a tropa em serviço. Uma das determinações era, segundo ele, para que os policiais atendessem as ocorrências sempre com dois carros de polícia.
"Não tenho dúvida de que a informação sobre as ameaças chegou aos policiais antes de sexta-feira", disse Eclair.
Mesmo assim, o comandante-geral admite que pode ter havido falhas na comunicação. "Lógico que pode. O policial que estava de folga por exemplo, pode não ter tomado conhecimento das ameaças. Mas não quero que tenham dúvida quanto ao aviso, quanto à preocupação com nossos PMs."
A Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar rebateu as afirmações do comandante-geral. O presidente da entidade, cabo Wilson de Oliveira Morais, disse que, no sábado, conversou com cerca de 30 policiais -todos lhe disseram que foram avisados somente após o início dos ataques.
A associação protocolou anteontem na Procuradoria Geral de Justiça uma representação criminal contra os secretários Saulo de Castro Abreu Filho (Segurança Pública) e Nagashi Furukawa (Administração Penitenciária). Para a entidade, o Estado agiu com descaso ao não avisar os policiais sobre os ataques.


Colaborou RICARDO GALLO, da Reportagem Local


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