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São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 2003

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"Tenho um italiano só meu", diz K., 15

DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Apesar de nunca ter saído do país, nem mesmo de Fortaleza, K.D.G.S., 15, fala com um pouco de sotaque italiano. No lugar do "sim", fala "si". "Tenho um italiano só meu", conta a adolescente.
O italiano, segundo ela, de 46 anos, a visita de ano em ano e dá dinheiro para sua família. "Ele é muito rico lá na Itália, mas não sei qual é o trabalho dele, não."
A primeira relação sexual de K. foi aos 13, com esse italiano. Foi a partir de então que ela começou a sair com outros turistas, "só de vez em quando". "Acho que foi mais por causa das amigas. Antes eu só ficava em casa", disse.
A amiga e vizinha J.L.S., 15, sempre a acompanha e muitas vezes as duas dividem o mesmo cliente.
Durante a entrevista à Agência Folha, na madrugada de ontem, elas se oferecem para tirar fotos, "tipo aquelas que a gente já tirou". Segundo elas, um italiano já pagou para que fizessem poses, com roupa e sem roupa. "Daí, os gringos, mesmo antes de chegar, já sabem quem vão encontrar aqui", disse J.
No meio de uma resposta e outra da entrevista, as duas param, correm, gritam atrás de turistas, na língua deles. "Eu sei falar um pouco de inglês e de italiano, dá para entender bem", disse K., a mais desinibida.
Elas sabem identificar a nacionalidade de todos os que passam: americanos, italianos, ingleses, holandeses. Os já conhecidos recebem abraços e beijos na boca, "de brincadeira". Em italiano, K. e J. fazem coro para atrair um turista e se oferecem por R$ 200.
As duas dizem que estudam. Vivem com a família -K. com os avós e J. com a mãe-, mas saem todas as noites para a praia de Iracema. "Eu gosto de vir aqui para curtir", disse K.

RG falso
No meio da entrevista, as duas desconfiaram de que os repórteres seriam, na verdade, do Juizado de Menores. Elas temiam que pudessem ser presas.
Depois, ao se certificar de que se tratava mesmo de uma reportagem, K. disse que já iria providenciar uma identidade falsa. "Custa R$ 30. Pegam a cópia de uma outra identidade, colam a nossa foto, plastificam e depois fazem uns furinhos", disse. "Aqui na praia de Iracema é só o que tem, menina com RG falso para parecer ser mais velha."



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