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Teste revela contaminação de moradores
Dos 198 habitantes da Vila Carioca submetidos a exames, 73 foram afetados por pesticidas da Shell, segundo relatório
Documento entregue à
CPI da Poluição mostra que taxa de mortalidade no bairro é 78,2% maior que a do distrito onde ele está
AFRA BALAZINA
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Treze anos após o primeiro
inquérito para apurar a contaminação de uma área da Vila
Carioca, na zona sul de São
Paulo, pela Shell, um relatório
da Secretaria Municipal da
Saúde apontou que 73 das 198
pessoas analisadas apresentam
pesticidas potencialmente cancerígenos no organismo. O
bairro tem 6.500 moradores.
No local havia uma fábrica de
pesticidas da Shell, que não
considera o relatório conclusivo (leia texto nesta página).
O relatório aponta que essas
73 pessoas estão contaminadas
por DDE, um subproduto do
pesticida DDT, usado em fazendas contra as pestes agrícolas e proibido no país em 1985.
Quatro dos moradores contaminados têm de sete a 13 anos.
Já o pesticida dieldrin -que
é tóxico e, por isso, também teve seu uso proibido em vários
países- foi detectado em duas
mulheres e um homem com
mais de 60 anos. Sua concentração geralmente aumenta
com a idade.
Segundo o toxicologista Anthony Wong, diretor do Centro
de Assistência à Toxicologia do
Hospital das Clínicas, pessoas
expostas aos pesticidas podem
ter problemas neurológicos ou
no fígado e têm risco maior de
desenvolver câncer. O efeito
nas crianças, que estão em fase
de desenvolvimento, é ainda
mais grave e, segundo ele, pode
ser irreversível. "As autoridades chegaram às mesmas conclusões que tivemos há quatro
anos. Não se justifica essa demora", disse.
O relatório, parcial, foi concluído em setembro de 2005 e
encaminhado à CPI da Poluição da Câmara Municipal em
maio. Conclui ainda que a não-detecção de contaminantes em
parte das pessoas não descarta
que tenha havido a exposição
aos pesticidas. Sustenta que há
risco de surgirem efeitos, pois
eles podem estar presentes no
organismo em concentrações
abaixo dos limites de detecção.
No total, estima-se que 6.538
pessoas tenham sido expostas
aos riscos ambientais, número
que pode aumentar.
Mortalidade maior
O estudo mostra também
que a taxa de mortalidade é
78,2% maior na Vila Carioca se
comparada ao índice do Ipiranga, distrito onde o bairro está
localizado. A comparação foi
feita num período de dez anos.
Segundo justificativa da prefeitura para a demora dos resultados, houve baixa adesão da
população-alvo em realizar as
etapas do protocolo. Isso levou
a secretaria a realizar tentativas de aumentar a adesão, com
visitas aos moradores. A Secretaria da Saúde alega, ainda, que
os questionários, respondidos
por 522 pessoas, demandam
muito tempo de digitação.
O vereador e médico Jooji
Hato (PMDB), relator da CPI
da Poluição, considera a situação ""extremamente grave" e
diz que a prioridade agora é
prestar atendimento médico
aos moradores.
A coordenadora de saúde da
região sudeste do município,
Edjanne Torreão, diz que os
moradores são atendidos na
Unidade Básica de Saúde Joaquim Rossini, mas que foi autorizada a criação de um PSF
(Programa Saúde da Família)
especial. "Além de acompanhar
cerca de 6.500 moradores, a intenção é identificar precocemente os problemas relacionados à contaminação."
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