São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 2008

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Justiça decreta a prisão preventiva de quatro militares

Juiz militar manda prender por 30 dias 4 dos 11 acusados de participar da morte de três jovens do morro da Providência

Decisão atinge tenente, apontado como mandante da entrega dos rapazes à favela rival, um sargento e dois soldados do Exército

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA ONLINE, NO RIO

A Justiça Militar no Rio decretou ontem a prisão preventiva, por 30 dias, de 4 dos 11 militares acusados de participar da morte de três moradores do morro da Providência (centro). Eles e outros sete já estão presos no Batalhão de Polícia Militar, na Tijuca (zona norte). Na segunda, a Justiça comum havia determinado a prisão temporária do grupo até o dia 25.
O juiz Edmundo Oliveira, auditor da Justiça Militar, acatou o pedido do Ministério Público Militar para prisão do tenente Vinícius Ghidetti -apontado pela polícia como o mandante da entrega dos jovens a traficantes-, do sargento Leandro Bueno e dos soldados José Ricardo Rodrigues Araújo e Fabiano Eloi dos Santos.
Na Justiça comum, a Polícia Civil concluiu ontem o inquérito e pediu a prisão preventiva dos 11 militares. Outro inquérito foi aberto, agora para apurar os autores dos assassinatos. Ainda não foram feitas operações para buscar os traficantes responsáveis pelas mortes.
Feito com base em 20 depoimentos -de militares direta e indiretamente envolvidos e moradores da Providência- e em laudos, o inquérito diz que todos os 11 sabiam das conseqüências da ação.
Eles foram indiciados sob a acusação de triplo homicídio triplamente qualificado -motivo torpe, meio cruel e ter dificultado a defesa das vítimas. Se julgados e condenados, podem pegar até 90 anos de prisão.
O delegado titular da 4ª Delegacia de Polícia (Central), Ricardo Dominguez, afirmou não ter dúvidas de que os militares fizeram contato com traficantes do morro da Mineira antes de levar os jovens para a favela. Disse não saber, porém, como.
"Um caminhão do Exército com homens armados adentrando uma localidade com tráfico de drogas seria recebido por tiros sem dúvida, se não houvesse o contato prévio. E não aconteceu troca de tiros."
O inquérito não pede a quebra do sigilo telefônico dos militares, mas o serviço de investigação do Exército, segundo a Folha apurou, recolheu os celulares de todos eles. O Comando Militar do Leste não informou se há investigação sobre conversas telefônicas.
O elo entre os traficantes e os militares, para Dominguez, é provavelmente o soldado Rodrigues. A família dele mora no complexo de favelas de São Carlos, onde fica o morro da Mineira, segundo o delegado.
O inquérito entende que, embora só um dos militares chefiasse o grupo -o tenente-, a prisão preventiva deve ser aplicada aos 11 acusados porque todos sabiam o que seria feito.
O advogado Rafael Viana de Carvalho, que representa os sargentos Bruno Eduardo e Renato Alves e o soldado Sidney de Oliveira Bastos, confirmou que seus clientes não procuraram o comando para relatar a ação, mas afirmou que a conduta pode justificar apenas uma "punição administrativa".
Ele afirmou que, caso a Justiça decida pela prisão, vai recorrer da decisão.
Os advogados dos outros militares não foram encontrados.


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