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Justiça decreta a prisão preventiva de quatro militares
Juiz militar manda prender por 30 dias 4 dos 11 acusados de participar da morte de três jovens do morro da Providência
Decisão atinge tenente, apontado como mandante
da entrega dos rapazes à favela rival, um sargento e
dois soldados do Exército
LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA ONLINE, NO RIO
A Justiça Militar no Rio decretou ontem a prisão preventiva, por 30 dias, de 4 dos 11 militares acusados de participar
da morte de três moradores do
morro da Providência (centro).
Eles e outros sete já estão presos no Batalhão de Polícia Militar, na Tijuca (zona norte). Na
segunda, a Justiça comum havia determinado a prisão temporária do grupo até o dia 25.
O juiz Edmundo Oliveira, auditor da Justiça Militar, acatou
o pedido do Ministério Público
Militar para prisão do tenente
Vinícius Ghidetti -apontado
pela polícia como o mandante
da entrega dos jovens a traficantes-, do sargento Leandro
Bueno e dos soldados José Ricardo Rodrigues Araújo e Fabiano Eloi dos Santos.
Na Justiça comum, a Polícia
Civil concluiu ontem o inquérito e pediu a prisão preventiva
dos 11 militares. Outro inquérito foi aberto, agora para apurar
os autores dos assassinatos.
Ainda não foram feitas operações para buscar os traficantes
responsáveis pelas mortes.
Feito com base em 20 depoimentos -de militares direta e
indiretamente envolvidos e
moradores da Providência- e
em laudos, o inquérito diz que
todos os 11 sabiam das conseqüências da ação.
Eles foram indiciados sob a
acusação de triplo homicídio
triplamente qualificado -motivo torpe, meio cruel e ter dificultado a defesa das vítimas. Se
julgados e condenados, podem
pegar até 90 anos de prisão.
O delegado titular da 4ª Delegacia de Polícia (Central), Ricardo Dominguez, afirmou não
ter dúvidas de que os militares
fizeram contato com traficantes do morro da Mineira antes
de levar os jovens para a favela.
Disse não saber, porém, como.
"Um caminhão do Exército
com homens armados adentrando uma localidade com tráfico de drogas seria recebido
por tiros sem dúvida, se não
houvesse o contato prévio. E
não aconteceu troca de tiros."
O inquérito não pede a quebra do sigilo telefônico dos militares, mas o serviço de investigação do Exército, segundo a
Folha apurou, recolheu os celulares de todos eles. O Comando Militar do Leste não informou se há investigação sobre
conversas telefônicas.
O elo entre os traficantes e os
militares, para Dominguez, é
provavelmente o soldado Rodrigues. A família dele mora no
complexo de favelas de São
Carlos, onde fica o morro da
Mineira, segundo o delegado.
O inquérito entende que, embora só um dos militares chefiasse o grupo -o tenente-, a
prisão preventiva deve ser aplicada aos 11 acusados porque todos sabiam o que seria feito.
O advogado Rafael Viana de
Carvalho, que representa os
sargentos Bruno Eduardo e Renato Alves e o soldado Sidney
de Oliveira Bastos, confirmou
que seus clientes não procuraram o comando para relatar a
ação, mas afirmou que a conduta pode justificar apenas uma
"punição administrativa".
Ele afirmou que, caso a Justiça decida pela prisão, vai recorrer da decisão.
Os advogados dos outros militares não foram encontrados.
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