São Paulo, quinta-feira, 20 de julho de 2006

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Beira-Mar inaugura o presídio federal

Primeiro preso na unidade de segurança máxima de Catanduvas (PR), ele ficará em cela comum por pelo menos um ano

Transferência ocorreu sob sigilo absoluto durante a madrugada; aeroporto de Cascavel só foi avisado dez minutos antes do pouso

LUIZ CARLOS DA CRUZ
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM CASCAVEL

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, foi transferido na madrugada de ontem para o presídio federal de Catanduvas (PR). É o primeiro presidiário a ocupar a unidade de segurança máxima inaugurada em 23 de junho.
Por ordem judicial, ocorreu sob sigilo a oitava operação de transferência de Beira-Mar desde 2003, quando chegou a Brasília vindo de Bangu 1, no Rio de Janeiro. Foram usados carros sem caracterização da Polícia Federal.
Considerado um dos presos mais perigosos do Brasil, ele chegou ao Paraná em um avião da PF, modelo Cessna Caravan C-208. Durante o trajeto, tentou puxar assunto com os seis agentes e com o delegado que o acompanharam no avião, sem sucesso. Manteve-se calado, então, até a porta da penitenciária, onde demonstrou contrariedade, segundo relato ouvido pela Folha.
O avião pousou no aeroporto de Cascavel à 1h35. O traficante foi rapidamente colocado em um carro descaracterizado da PF e levado então para Catanduvas. O aeroporto só foi informado da chegada dez minutos antes do pouso da aeronave.
O Ministério da Justiça disse que a remoção foi solicitada pelo Depen (Departamento Penitenciário Nacional) e pela Polícia Federal. A transferência foi autorizada pela 1ª Vara Criminal Federal de Curitiba e realizada pelo Comando de Operações Táticas da PF.
Único preso na penitenciária, o traficante ficará em uma cela comum durante um ano. De acordo com o ministério, o período pode ser prorrogável por mais 12 meses, se houver necessidade.
O objetivo da penitenciária, que tem capacidade para 208 presos, é isolar lideranças criminosas na tentativa de desarticular quadrilhas que atuam em prisões. A unidade possui 200 câmeras -90% delas escondidas- e os advogados não têm contato físico com os presos. Mantêm conversas por telefone diante de uma grade de vidro. Advogados, visitas, promotores e organizações de direitos humanos são submetidos a detectores de metal.

Rotina
A transferência de Beira-Mar não mudou a rotina da pacata Catanduvas, cidade com aproximadamente 11 mil habitantes. Moradores já estão acostumados com as blitze diárias que ocorrem na cidade desde que o presídio foi inaugurado. Eles se habituaram a sair de casa com documentos por causa das constantes operações policiais.
Moradores ouvidos pela reportagem reagiram com tranqüilidade à chegada de Beira-Mar. "Acho que vai continuar a mesma coisa, não vai mudar nada na cidade", disse o costureiro Valdeci Eduardo de Jesus, 33, que trabalha em frente ao presídio. A dona-de-casa Terezinha Bloski, 43, também manifestou indiferença. "Não me preocupo. É bem seguro."
Para a doméstica Maria Aparecida Pereira Martins, 33, se o presídio representasse perigo as autoridades locais não teriam permitido sua construção. "A cidade está mais segura."
A mesma opinião tem Cleiton Marcante, 20, funcionário de um posto de combustível. "Catanduvas vai ser uma cidade bem segura com a presença de tantos policiais", disse.

Estados
Cinco Estados -Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Espírito Santo e Pernambuco- solicitaram oficialmente ao governo federal a transferência de detentos para Catanduvas. Segundo o ministério, não há lista de nomes, apenas solicitação de um número de celas.
Além desses, outros cinco fizeram consultas sobre os procedimentos para levar detentos para a penitenciária federal. Entre eles está São Paulo. As outras localidades não são divulgadas pelo ministério.


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