São Paulo, domingo, 20 de julho de 2008

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Trânsito melhora no centro de SP, mas não na periferia

Proibição de caminhões durante o dia, iniciada há três semanas, atinge só a área central

Nas avenidas da periferia, os caminhões circulam livremente, não há rodízio de carros e a sinalização eletrônica é deficiente

Raimundo Paccó/Folha Imagem
Veículos têm de dividir espaço com caminhões na periferia

RICARDO SANGIOVANNI
ALENCAR IZIDORO

DA REPORTAGEM LOCAL

A consulta no hospital Sírio-Libanês, na Bela Vista (região central), estava marcada para as 11h15, mas às 9h o vendedor Duarte Marcelino Lopes, 47, já estava na rua, enfrentando a congestionada avenida Teotônio Vilela, no extremo sul de São Paulo. "Se não sair cedo, não chego", afirma. Morador da periferia, ele é um dos que pouco sentiram melhorias no trânsito nos últimos dias ou meses.
Enquanto o motorista que anda pelo centro de São Paulo experimenta uma sensível melhora na fluidez do tráfego após a proibição da circulação de caminhões durante o dia, iniciada há três semanas, quem cruza diariamente grandes avenidas da periferia segue enfrentando longos engarrafamentos. E continua tendo que dividir espaço com os caminhões.
Tradicionalmente congestionadas, avenidas fora da área central, como Teotônio Vilela e Estrada do M'Boi Mirim (zona sul); Imirim, Casa Verde e Voluntários da Pátria (zona norte); Sapopemba, Jacu-Pêssego, Ragueb Chohfi, Nova Radial e Salvador Gianetti (zona leste) continuam recebendo menos atenção da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), na comparação com a atuação da companhia em áreas centrais.
Nesses locais, além de os caminhões continuarem circulando livremente -o que atrapalha a fluidez, já que são "obstáculos móveis", na palavras da própria Secretaria dos Transportes-, os carros não são obrigados a cumprir o rodízio e a sinalização eletrônica é deficiente, sobretudo nas zonas norte e sul, segundo agentes da CET ouvidos pela reportagem.
Boa parte dessas vias, como Teotônio Vilela, M'Boi Mirim, Imirim, Ragueb Chohfi e Casa Verde, nem sequer aparece nos índices de congestionamento da CET. Muitos trechos não entram na área de medição da companhia (835 km, dos 17 mil km de vias da cidade), mesmo tendo registros de tráfego lento desde o início da década. Nos últimos dias, a despeito do trânsito na periferia, as medições da CET têm registrado 0 km de lentidão entre as 6h e 7h.
A distribuição dos agentes da empresa, os marronzinhos, também continua a mesma desde então: cerca de 70% deles atuam nos principais corredores do centro, enquanto os 30% restantes ficam na periferia.
E, na periferia, o trabalho é redobrado: além de orientar o trânsito, têm que controlar manualmente a abertura e fechamento dos semáforos, que não funcionam automaticamente.
O resultado disso, agravado pelo crescimento da frota de veículos, são congestionamentos invisíveis, que começam desde as 6h e já não se limitam mais aos horários de pico.

Trânsito o dia inteiro
"Fico no trânsito três horas por dia, em média. Só na Teotônio, perco duas horas", disse Lopes na semana passada, quando a Folha esteve na avenida, uma das principais do extremo sul da cidade.
Às 6h30, na estrada do M'Boi Mirim, o gerente de vendas Cláudio Vella, 60, reclamava do trânsito. Ele mora em Interlagos (zona sul) e faz em uma hora, nos horários de pico, o trajeto que levaria 15 minutos até o clube onde pratica tênis quatro vezes por semana.
Para quem mora por lá, até a volta para casa, à noite, é complicada. O garçom José Ilson Vasconcelos Júnior, 22, que mora no Jardim Ângela (periferia da zona sul), costuma enfrentar congestionamentos à noite e até mesmo de madrugada para voltar do bar onde trabalha, em Moema (zona sul).
De carro, ele conta que chega a levar 30 minutos para cruzar um trecho de 5 km da avenida, entre as 6h e as 7h. Velocidade média: 10 km/h. Vasconcelos reclama das lotações, que circulam fora do corredor de ônibus, na pista da direita, e param ao longo da avenida para apanhar passageiros. "Em vez de três pistas, na verdade só uma [a do meio] anda", diz ele.
Avenidas da periferia ocupam os primeiros lugares no ranking de mortes no trânsito na cidade, atrás apenas das marginais Tietê e Pinheiros.
Dados de 2006 da CET -os mais atualizados, já que a companhia não divulgou os números do ano passado-, mostram que 28 pessoas morreram na Estrada do M'Boi Mirim, 27 na av. Teotônio Vilela e 20 na av. Robert Kenedy (continuação da Teotônio). A soma (75) equivale a quase 80% do total de mortos nas marginais (96).
No índice de mortos por quilômetro, as três avenidas superam até as marginais: foram 3,51 mortos por quilômetro na Teotônio Vilela, 3,08 na M'Boi Mirim e 2,9 na Robert Kennedy. A av. Ragueb Chohfi aparece com 2,18, antes mesmo da marginal Tietê, com 2,16.


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