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São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2003

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URBANIDADE

Ilustração Vincenzo Scarpellini
NA AVENIDA IPIRANGA Novalis: "O sono é um estado misto do corpo e da alma. No sono corpo e alma são ligados quimicamente. No sono a alma é uniformemente distribuída através do corpo! o homem é neutralizado. A vigília é um estado dividido, polar; na vigília a alma é apontada, localizada. O sono é a digestão da alma: o corpo digere a alma". (VINCENZO SCARPELLINI)


Escola na UTI

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

A maioria dos 400 estudantes de até seis anos que frequentam a escola municipal Antônio Branco Lefèvre são filhos de médicos e de enfermeiros. Mesmo assim, por causa dos brinquedos quebrados, essas crianças estão expostas ao risco de acidentes. Além disso, a biblioteca, devido à infiltração, tem cheiro de mofo e está úmida. Até mesmo banheiros faltam.
Raras escolas no mundo, porém, estão tão cercadas de especialistas em saúde como essa, que se localiza dentro do Hospital das Clínicas, mais importante centro brasileiro de ensino e de pesquisa médica. Convivem, num mesmo espaço, tecnologia de ponta em medicina e uma biblioteca infantil em que alunos não podem entrar por causa dos riscos de infecções respiratórias.
Desde abril do ano passado, a diretora da escola tirou uma licença médica e até agora ainda não conseguiu voltar. Quando, há dois meses, Iara Silveira assumiu interinamente a direção, levou um choque: "Havia sinais de abandono por todos os lados, as crianças estudavam em péssimas condições, abaixo do limite do aceitável".
Iara deslanchou uma operação de salvamento. Fechou a biblioteca e providenciou obras contra a infiltração, mas só vai abri-la quando tiver mais dinheiro para tirar o mofo. Lacrou alguns brinquedos, como o escorregador, cujas saliências ameaçavam rasgar as pernas das crianças.
Para compensar os escassos recursos, professores e pais apelaram para a comunidade. O Hospital das Clínicas forneceu mão-de-obra para a reforma e a secretaria da Educação ofereceu o dinheiro para a compra de material de construção. Até o fim do mês, os brinquedos deverão estar consertados. Com a concessão de uma pequena verba da prefeitura, começaram as aulas especiais, dadas por um contador de estórias que, na falta de uma biblioteca, leva seus próprios livros para os alunos.
Iara aprendeu essa engenharia comunitária quando trabalhava na Vila Madalena, onde pais, professores e alunos se juntaram para reformar a escola Olavo Pezzoti. "A reforma mudou a auto-estima de todos", conta.
O toque da Vila Madalena será visível já neste mês: artistas plásticos vão ajudar as crianças a fazer painéis para embelezar a escola. "Queremos uma mudança estética para mostrar que ali é lugar de educação. Como está, parece um hospital." E os alunos, pelo jeito, parecem pacientes.

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