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CANDELÁRIA PAULISTA
Para comerciantes, que tinham bom relacionamento com agredidos, houve ação de grupo de extermínio
Vítimas de ataque eram conhecidas na área
DA REPORTAGEM LOCAL
Não foi difícil para moradores e
comerciantes da região central de
São Paulo reconhecer algumas
das vítimas dos ataques aos moradores de rua ocorridos durante a
madrugada de ontem.
Cosme Rodrigues Machado, 56,
prestava serviços esporádicos na
região e costumava dormir no vão
de entrada da oficina onde foi encontrado por volta das 7h.
Mauro Calixto, proprietário do
estabelecimento na rua Tabatingüera, afirma que Machado estava deitado, parcialmente coberto
por uma manta. "O corpo não
aparentava uma posição de defesa", disse ele.
Valéria Boni Abel, 25, que trabalha em uma clínica na mesma
rua, costumava encontrá-lo na região. "Era um homem bom e
muito prestativo", disse ela.
A irmã de Machado, Flordenice
Machado dos Santos, 53, só ficou
sabendo da morte do irmão por
volta das 15h.
Ela, que trabalha como catadora
de latas de alumínio, conta que
Machado sofria de problemas psiquiátricos e que, por isso, às vezes
deixava a casa dela, onde morava,
para ir dormir na rua.
Natural do município de Remanso, na Bahia, ele veio para São
Paulo com 15 anos para trabalhar
como pasteleiro. Solteiro, Machado não tinha filhos.
Na praça João Mendes, em um
local bem próximo de onde Machado foi assassinado, foi encontrado o corpo do travesti conhecido como Pantera. Eram 5h50
quando uma varredora de rua o
achou ao lado de um homem que
dormia.
"O Pantera era bagunceiro, mas
boa pessoa", diz a vendedora Frineas Feliciano, 43, que trabalha
em uma loja de CDs da região.
De acordo com Feliciano, o travesti tinha uma irmã, proprietária
de um bar no Rio de Janeiro, que
sempre aparecia o procurando.
"Às vezes, ela o levava e ele ficava
meses sem aparecer. Depois, voltava", afirmou.
Extermínio
Feliciano, assim como o camelô
Severino Nascimento Silva, 29,
acredita que os ataques tenham
sido praticados por um grupo de
extermínio.
"Mataram pessoas que não faziam mal e que não brigavam com
ninguém. Isso só pode ser coisa de
grupo de extermínio", disse o ambulante Silva, que trabalha na praça João Mendes.
Outra vítima conhecida e querida na região é o morador de rua
chamado Gaguinho, que foi socorrido pela manhã, também na
rua Tabatingüera, por um grupo
de taxistas. "Todos nós confiamos
nele. É um homem quieto e honesto", declarou o taxista Antonio
Pereira, 48.
Após ser atacado, Gaguinho ficou aguardando por socorro próximo da Associação Paulista dos
Magistrados e da Igreja de Santa
Luzia. Ele continua internado e
corre risco de morte.
Proprietária de um café nas
imediações da praça João Mendes, Regina Dantas disse que ele
varria a calçada durante o dia em
troca de comida, café e cigarros.
O faxineiro José Antonio de
Freitas encontrou um homem ferido, sangrando muito, na rua da
Glória, 236. Além dele e de Gaguinho, outras cinco pessoas agredidas ontem continuavam internadas em hospitais da cidade.
(FERNANDO BARROS E FLÁVIA MANTOVANI)
Colaborou o "Agora"
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