São Paulo, sexta-feira, 20 de agosto de 2004

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CANDELÁRIA PAULISTA

Para comerciantes, que tinham bom relacionamento com agredidos, houve ação de grupo de extermínio

Vítimas de ataque eram conhecidas na área

DA REPORTAGEM LOCAL

Não foi difícil para moradores e comerciantes da região central de São Paulo reconhecer algumas das vítimas dos ataques aos moradores de rua ocorridos durante a madrugada de ontem.
Cosme Rodrigues Machado, 56, prestava serviços esporádicos na região e costumava dormir no vão de entrada da oficina onde foi encontrado por volta das 7h.
Mauro Calixto, proprietário do estabelecimento na rua Tabatingüera, afirma que Machado estava deitado, parcialmente coberto por uma manta. "O corpo não aparentava uma posição de defesa", disse ele.
Valéria Boni Abel, 25, que trabalha em uma clínica na mesma rua, costumava encontrá-lo na região. "Era um homem bom e muito prestativo", disse ela.
A irmã de Machado, Flordenice Machado dos Santos, 53, só ficou sabendo da morte do irmão por volta das 15h.
Ela, que trabalha como catadora de latas de alumínio, conta que Machado sofria de problemas psiquiátricos e que, por isso, às vezes deixava a casa dela, onde morava, para ir dormir na rua.
Natural do município de Remanso, na Bahia, ele veio para São Paulo com 15 anos para trabalhar como pasteleiro. Solteiro, Machado não tinha filhos.
Na praça João Mendes, em um local bem próximo de onde Machado foi assassinado, foi encontrado o corpo do travesti conhecido como Pantera. Eram 5h50 quando uma varredora de rua o achou ao lado de um homem que dormia.
"O Pantera era bagunceiro, mas boa pessoa", diz a vendedora Frineas Feliciano, 43, que trabalha em uma loja de CDs da região.
De acordo com Feliciano, o travesti tinha uma irmã, proprietária de um bar no Rio de Janeiro, que sempre aparecia o procurando. "Às vezes, ela o levava e ele ficava meses sem aparecer. Depois, voltava", afirmou.

Extermínio
Feliciano, assim como o camelô Severino Nascimento Silva, 29, acredita que os ataques tenham sido praticados por um grupo de extermínio.
"Mataram pessoas que não faziam mal e que não brigavam com ninguém. Isso só pode ser coisa de grupo de extermínio", disse o ambulante Silva, que trabalha na praça João Mendes.
Outra vítima conhecida e querida na região é o morador de rua chamado Gaguinho, que foi socorrido pela manhã, também na rua Tabatingüera, por um grupo de taxistas. "Todos nós confiamos nele. É um homem quieto e honesto", declarou o taxista Antonio Pereira, 48.
Após ser atacado, Gaguinho ficou aguardando por socorro próximo da Associação Paulista dos Magistrados e da Igreja de Santa Luzia. Ele continua internado e corre risco de morte.
Proprietária de um café nas imediações da praça João Mendes, Regina Dantas disse que ele varria a calçada durante o dia em troca de comida, café e cigarros.
O faxineiro José Antonio de Freitas encontrou um homem ferido, sangrando muito, na rua da Glória, 236. Além dele e de Gaguinho, outras cinco pessoas agredidas ontem continuavam internadas em hospitais da cidade. (FERNANDO BARROS E FLÁVIA MANTOVANI)


Colaborou o "Agora"


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