São Paulo, quarta, 20 de agosto de 1997.



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ENFIM, A LIBERDADE
Depois de passar 30 anos preso, João Acácio Pereira da Costa, acusado por 88 crimes, sai da cadeia
Bandido da Luz Vermelha será libertado

da Reportagem Local

No próximo sábado sairá da prisão João Acácio Pereira da Costa, 55, o "Bandido da Luz Vermelha", um dos criminosos mais temidos dos anos 60 e um dos mais conhecidos do país.
Condenado por 88 crimes, entre assassinatos, tentativas de homicídios e roubos, Luz Vermelha sairá da Penitenciária do Estado, depois de passar 30 anos na prisão.
Apesar de ter sido condenado a mais de 351 anos de reclusão em razão de roubos, homicídios e tentativas de homicídio e estupros, Luz Vermelha, como qualquer outro preso brasileiro, não pode permanecer mais de 30 anos na cadeia, conforme diz o artigo 75 do Código Penal Brasileiro.
"É a piada da lei brasileira", disse A.M., 73, referindo-se ao artigo do código penal. Há trinta anos, A.M. foi vítima de Luz Vermelha.
Os principais crimes de Luz Vermelha foram cometidos entre 1961 e 1967. Ele ganhou o apelido porque costumava entrar nas casas de madrugada e acordar as vítimas com o facho de luz da lanterna, que tinha lâmpada vermelha. A lanterna teria sido roubada das Lojas Americanas.
Originariamente, o apelido "Bandido da Luz Vermelha" foi dado ao norte-americano Caryl Chessman, executado em câmera de gás, em maio de 1960, na Califórnia (Estados Unidos).
Ele usava uma lanterna com luz vermelha quando abordava as mulheres que era acusado de estuprar. Ele foi condenado por 17 crimes, entre estupros e raptos.
O Luz Vermelha brasileiro, que atemorizou a classe média paulistana na década de 60, nas últimas entrevistas que concedeu, mostrou-se um homem perturbado (com falas desconexas).
A fama do Bandido da Luz Vermelha levou o cineasta Rogério Sganzerla a retratar a sua vida em um filme homônimo.
Luz Vermelha assistiu ao filme pela primeira vez em abril de 1996 e chorou. "Meus Deus, por que fui fazer isso?", chegou a dizer. Ele assistiu ao filme no presídio de Taubaté (Grande São Paulo).
Tempo perdido
"O Bandido da Luz Vermelha é o símbolo da falência do sistema prisional brasileiro. Como sempre, é somente visto o lado da contenção do criminoso, retirando-o da sociedade, mas não a sua recuperação. Hoje, Luz Vermelha aparenta um homem com problemas mentais. É um zumbi, que ficará perdido no tempo e no espaço depois de deixar a prisão", disse o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil), Jairo Fonseca.
Segundo um funcionário da Penitenciária do Estado, Luz Vermelha tem bom comportamento na prisão e diz que pretende morar com a família em Santa Catarina.



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