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PASQUALE CIPRO NETO
"O fechamento dos aeroportos impediram..."
No último domingo, a
querida cantora Marisa
Monte deveria ter cantado no
parque Ibirapuera, em São Paulo.
Como estava nos Estados Unidos,
não pôde voltar ao Brasil.
Um anúncio publicado na imprensa paulistana informava: "O
fechamento dos aeroportos nos
Estados Unidos impediram o retorno de Marisa Monte".
De início, é preciso informar
que os jornais nada têm que ver
com a história. Muito menos Marisa Monte. Esses anúncios são
feitos por agências; os jornais, que
recebem tudo pronto, apenas publicam o que lhes é enviado.
Posto isso, vamos voltar ao
anúncio. O que há de "estranho"
nele? O verbo, conjugado no plural ("impediram"). O que impediu a volta de Marisa foi o fechamento dos aeroportos. O sujeito
da oração é "O fechamento dos
aeroportos nos Estados Unidos";
o núcleo é "fechamento", singular. O verbo, por conseguinte, deveria ter sido flexionado no singular: "O fechamento dos aeroportos nos Estados Unidos impediu o retorno de Marisa Monte".
Quando tratam desse tipo de
problema, as bancas examinadoras de vestibulares importantes
(Vunesp, Unicamp, Fuvest, entre
outros) não se têm limitado a pedir aos candidatos que localizem
o erro e que reescrevam o trecho,
corrigindo-o. As bancas pedem ao
aluno que aponte o provável motivo do desvio.
No caso do anúncio, temos uma
situação clássica: o núcleo do sujeito, singular, é seguido de vários
termos que estão no plural ("dos
aeroportos nos Estados Unidos"),
o que acaba induzindo o falante
ou redator a flexionar o verbo no
plural. Mais uma vez, é preciso dizer que, em se tratando de língua
culta, a explicação do erro não o
torna aceitável. Em outras palavras, é necessário rever os textos
para evitar desvios desse tipo.
Ainda na semana passada, ouvi
numa emissora de rádio uma notícia sobre o nível dos reservatórios de nossas centrais elétricas. O
texto era mais ou menos este: "O
ministro Pedro Parente informa
que o nível dos rios que compõem
os reservatórios das principais
centrais elétricas...".
Nesse momento, o capeta entrou no estúdio. Sim, o próprio. Se
alguém duvida da existência do
demo, basta ver o que ele faz nas
redações (de rádio, TV e jornal).
Pois bem. A locutora encheu o
peito e, elevando o tom de voz,
concluiu, otimista: "Subiram!".
O nível não subiram; subiu. De
novo, a interminável sequência
de penduricalhos colocados no
plural ("dos rios que compõem os
reservatórios das principais centrais elétricas") influenciaram...
Epa! Eu também ia caindo na armadilha. O verbo deve concordar
com "sequência". A flexão correta
é "influenciou": "A interminável
sequência influenciou".
Deve ter sido ela (a sequência) o
que influenciou a radialista. Que
fazer nesses casos? Reler. E vacinar-se. Pode-se cair nessa esparrela uma vez, duas, dez, vinte.
Criado o hábito da releitura e o
cuidado com casos afins ("O preço dos remédios subiram..."; "O
custo das importações pesaram
no cálculo..."; "O valor dos aluguéis de apartamentos pequenos
duplicaram..."), torna-se pouco
provável o escorregão. É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve
nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail - inculta@uol.com.br
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