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Governo endurece, mas policiais não recuam
Gestão de José Serra (PSDB) afirmou que descontará os dias parados e que promotores assumirão as investigações
Não há sinais de recuo por parte de policiais e delegados em greve, que ontem fizeram atos no Grande ABC e no interior
LUIS KAWAGUTI
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
No quarto dia de paralisação
na Polícia Civil, o governo José
Serra (PSDB) subiu ainda mais
o tom contra os grevistas,
anunciou que descontará os
dias parados e que promotores
assumirão investigações.
"Não será tentando prejudicar a segurança da população
que os sindicalistas da Polícia
Civil conseguirão benefícios
para suas categorias, mas sim
com o respeito à lei, às decisões
judiciais e, principalmente, à
população", afirmou ontem o
secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão.
Apesar disso, não há sinais de
recuo por parte de policiais e
delegados em greve, que ontem
fizeram manifestações em São
Bernardo do Campo (Grande
ABC) e em Assis, no interior.
Segundo o governo, que ontem pela primeira vez divulgou
um balanço do movimento,
menos de 30% das unidades da
Polícia Civil na capital e cerca
de 40% do interior se mantêm
em "estado de greve".
Para o comando de greve, a
adesão é de 90% na cidade de
São Paulo e de 100% no interior. Desde o início da greve, a
Folha visitou 75 dos 93 distritos policiais da capital e constatou que em 49 o atendimento à
população foi prejudicado.
Além de anunciar o desconto
dos dias parados, o secretário
Marzagão se reuniu com o procurador-geral de Justiça, Fernando Grella Vieira, e acertou
que investigações passarão a
ser conduzidas por promotores. "Se a polícia se nega a fazer
o que é o seu dever, evidentemente alguém terá de fazer."
De manhã, o secretário já havia determinado ao comandante-geral da PM, coronel Roberto Diniz, que orientasse os policiais a elaborar boletins de
ocorrência da PM e a encaminhar o documento ao Ministério Público, caso não fossem
atendidos nas delegacias.
Na noite de ontem, o governo
afirmou que 139 ocorrências
registradas pela PM nas regiões
de Campinas, Ribeirão Preto,
Sorocaba, Marília e Osasco foram levadas à Promotoria.
O objetivo de Marzagão com
a medida, além de evitar que a
população deixe de ser atendida, é buscar reunir provas de
que os grevistas estão prevaricando, já que uma cartilha do
comando de greve orienta a categoria a atender apenas casos
graves ("prisões em flagrante,
homicídios" etc).
Com isso, o governo pode
provar que os grevistas estão
descumprindo liminar da Justiça que obriga a manutenção
dos serviços, sob pena de multa
de R$ 200 mil por dia aos sindicatos da categoria.
Além disso, os documentos
poderiam ser usados em sindicâncias contra os policiais.
Em nota, a secretaria acusou
os sindicatos de "divulgar números falsos", "esconder de
suas bases" as propostas salariais do governo e ainda de distribuir uma cartilha de orientação aos grevistas com medidas
ilegais, como escolher que tipo
de ocorrência deve ser atendida. "Optaram pela intransigência e pelo risco", diz a nota.
O presidente do Sindpesp
(sindicato dos delegados), José
Martins Leal, disse que "isso
tudo é uma forma de fazer pressão". "Não temos medo. A greve
vai continuar do jeito que está."
A greve tem o apoio da CUT
(Central Única dos Trabalhadores), que cedeu carros e equipamentos de som, segundo a
Associação dos Delegados de
Polícia. A assessoria da CUT diz
que a central "dá apoio moral
ao movimento". Na avaliação
do governo, eles estão aproveitando o momento eleitoral.
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