São Paulo, sábado, 20 de setembro de 2008

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Fila para ter cidadania italiana tem 380 mil

Casos não são convocados há 1 ano e meio no Consulado Geral da Itália, em São Paulo; há quem já aguarde por mais de 10 anos

Segundo a cônsul Lucia Pattarino, impasse está no volume de pedidos e escassez de pessoal; órgão tem apenas 37 funcionários

Rogério Cassimiro/Folha Imagem
A estilista Sílvia Pretti, 42, quer criar uma loja na Europa, mas ainda não conseguiu o visto italiano, que espera desde 2006

JULIANA COISSI
EM SÃO PAULO
VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A fila para descendentes de italianos interessados em obter reconhecimento da cidadania está parada em São Paulo. Há um ano e meio, nenhum novo caso é convocado. E já existem aproximadamente 380 mil pessoas com processos em análise -que chegaram desde 2003- nas mãos de poucos funcionários do Consulado Geral da Itália, em São Paulo.
A contradição entre a alta demanda e o baixo número de técnicos para avaliação faz com que a espera pela cidadania demore quatro, cinco anos. Mas há quem já aguarde pelo direito há mais de dez anos.
Todo brasileiro descendente de homem italiano (pai, avô etc.) ou que tenha nascido depois de 1948, se o ascendente é mulher italiana, pode requerer a cidadania. O direito permite à pessoa, por exemplo, morar legalmente na Europa.

Imigrantes
O Brasil e a Argentina são os países com mais casos de pessoas que tentam hoje obter cidadania italiana no mundo. Entre os brasileiros, a maior procura está em São Paulo e no Sul.
Segundo o consulado e a Embaixada da Itália no Brasil, existem 5 milhões de descendentes só na capital paulista e 9 milhões no Estado.
Eles integram um universo de 25 milhões de brasileiros descendentes de italianos que, a partir do final do século 19, deixaram seu país para viver no Brasil. Boa parte, na época, serviu para substituir a mão-de-obra escrava nas lavouras.
Os herdeiros desses mesmos italianos enfrentam hoje na União Européia um movimento antiimigração. Em julho, foi aprovada a Diretiva de Retorno, que prevê uma restrição maior aos imigrantes ilegais como detenção de até 18 meses e a deportação. A medida afeta 8 milhões de irregulares, a maioria latino-americanos.
O Consulado alega que isso não acontece com os que têm direito no Brasil. Prova disso, afirma, é que o governo italiano começou a organizar uma força-tarefa com a vinda de mais funcionários para analisar os pedidos de cidadania represados (leia texto abaixo).
Segundo a cônsul Lucia Pattarino, o impasse está no volume de pedidos e a escassez de pessoal. São 37 funcionários, do cônsul-geral ao motorista, responsáveis por dar assistência aos italianos, conceder passaportes e vistos, entre outros serviços, além de cuidar dos processos de cidadania.
"Abrir mais fichas criaria confusão. Preferimos terminar os processos em análise. Ocorre que a cada ficha que abrimos, descobrimos que são pedidos para um, cinco, dez, 15 pessoas, e o trabalho aumenta", disse.
No site, desatualizado, só conseguem conferir seu número na fila as pessoas cujos processos chegaram até 2004. Não é o caso do empresário Tiago Mori, 27, que quer morar em Londres. Como outros na fila, ele pensa em optar por uma alternativa cada vez mais comum: brasileiros que vão "morar" na Itália, por alguns meses, para obter sua cidadania via "comuni" (cidades ou vilarejos) italianas (leia texto abaixo).
Para quem quer obter a cidadania italiana, a saga na volta às origens começa em descobrir exatamente onde o parente nasceu. Muitas das histórias contadas pelos avós não batem com a origem verdadeira ou o nome foi trocado.
Outra falha é que, em 90% das fichas abertas, falta algum documento. "Se chegar com os documentos corretos, não vejo por que em algumas semanas não finalizar o processo", disse a adida consular Marina Rusca.
Há 136 mil pessoas que obtiveram a cidadania pelo consulado de São Paulo. Só neste ano, 5.900 já tiveram o direito, e outras 2.000, que iniciaram a ficha em São Paulo, finalizaram o processo na Itália. Em 2007, saíram da fila 8.123 pessoas e, no ano anterior, 6.636.


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