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REFERENDO
Revólveres infestam programa da frente que defende a proibição da comercialização e desaparecem da campanha rival
"Sim" recorre a armas na campanha final
VICTOR RAMOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A campanha de rádio e televisão
sobre o referendo do próximo domingo termina hoje com as armas
de fogo em lados trocados. Enquanto imagens de revólveres e
munições infestam a campanha
do "sim", praticamente desapareceram dos programas do "não".
A "inversão", ocorreu na última
semana, depois que o comando
da campanha da frente parlamentar Brasil sem Armas foi trocado.
O tom festivo adotado no início
de outubro foi substituído por outro, mais agressivo, quando pesquisas demonstraram vantagem
para a frente Pelo Direito da Legítima Defesa -contrária à proibição do comércio de armas.
Os artistas famosos que marcaram o início da campanha pelo
"sim" deram lugar às vítimas de
disparos. E, para serem "satanizadas", as armas acabaram sendo
alçadas à condição de protagonistas dos programas do grupo. Por
outro lado, passaram a ser praticamente ignoradas pelo "não".
Para o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), secretário-executivo da frente Brasil sem Armas, "a troca" pode ser atribuída
ao fato de seu grupo "ter entendido que nosso público é antiarmas.
Tratamos de explorar o símbolo
negativo que ela representa".
Jungmann afirmou que a campanha da frente terá um custo estimado em R$ 2,3 milhões, dos
quais R$ 1 milhão já foi pago.
O marqueteiro Luiz Gonzalez,
que assumiu a campanha do
"sim" na reta final, afirmou que o
programa que vai ao ar hoje seguirá a linha dos últimos dias.
"Não vai mudar nada. Se tudo der
certo, vai ser um caso de reviravolta. Se não der certo, paciência."
Já o marqueteiro Chico Santa
Rita, responsável pelos programas do "não", afirmou que um
dos grandes acertos de sua estratégia foi justamente "não entrar
na questão armamentista e sim na
questão do direito do cidadão".
Santa Rita disse que o programa
de hoje fará um resumo do que foi
dito durante todo o mês.
Quanto aos gastos da frente parlamentar Pelo Direito da Legítima
Defesa, seu tesoureiro, o deputado Josias Quintal (PSB-RJ), afirmou ter decidido não divulgar os
gastos "porque [isso] poderia ser
explorado pelo outro lado".
A campanha eleitoral gratuita
que termina hoje teve início no
dia 1º de outubro, na televisão e
no rádio, com dois blocos de nove
minutos, divididos igualmente,
com rodízio na ordem de apresentação. As emissoras também
precisaram reservar 20 minutos
diários para inserções de 30 segundos, distribuídas ao longo da
programação.
Escolha entre dois riscos
Para Marcus Figueiredo, professor de ciência política do Iuperj
(Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), "a campanha do "sim" cometeu um erro
[no início], ao fazer a campanha
pela vida, sem mostrar as causas
das mortes por arma. A do "não"
manteve um discurso uniforme,
em defesa do direito individual".
Segundo ele, com a mudança
ocorrida nos programas do
"sim", os eleitores passaram a ter
que optar entre "dois perigos" ou
"pelo menos pior". "São duas situações trágicas. A escolha ficou
entre o risco de, por ter arma,
ocorrer uma tragédia, talvez em
um acidente, e o risco de, por não
ter arma, ser uma vítima sem condições de defesa. Duas tragédias."
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