São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 2005

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REFERENDO

Revólveres infestam programa da frente que defende a proibição da comercialização e desaparecem da campanha rival

"Sim" recorre a armas na campanha final

VICTOR RAMOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A campanha de rádio e televisão sobre o referendo do próximo domingo termina hoje com as armas de fogo em lados trocados. Enquanto imagens de revólveres e munições infestam a campanha do "sim", praticamente desapareceram dos programas do "não".
A "inversão", ocorreu na última semana, depois que o comando da campanha da frente parlamentar Brasil sem Armas foi trocado. O tom festivo adotado no início de outubro foi substituído por outro, mais agressivo, quando pesquisas demonstraram vantagem para a frente Pelo Direito da Legítima Defesa -contrária à proibição do comércio de armas.
Os artistas famosos que marcaram o início da campanha pelo "sim" deram lugar às vítimas de disparos. E, para serem "satanizadas", as armas acabaram sendo alçadas à condição de protagonistas dos programas do grupo. Por outro lado, passaram a ser praticamente ignoradas pelo "não".
Para o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), secretário-executivo da frente Brasil sem Armas, "a troca" pode ser atribuída ao fato de seu grupo "ter entendido que nosso público é antiarmas. Tratamos de explorar o símbolo negativo que ela representa". Jungmann afirmou que a campanha da frente terá um custo estimado em R$ 2,3 milhões, dos quais R$ 1 milhão já foi pago.
O marqueteiro Luiz Gonzalez, que assumiu a campanha do "sim" na reta final, afirmou que o programa que vai ao ar hoje seguirá a linha dos últimos dias. "Não vai mudar nada. Se tudo der certo, vai ser um caso de reviravolta. Se não der certo, paciência."
Já o marqueteiro Chico Santa Rita, responsável pelos programas do "não", afirmou que um dos grandes acertos de sua estratégia foi justamente "não entrar na questão armamentista e sim na questão do direito do cidadão". Santa Rita disse que o programa de hoje fará um resumo do que foi dito durante todo o mês.
Quanto aos gastos da frente parlamentar Pelo Direito da Legítima Defesa, seu tesoureiro, o deputado Josias Quintal (PSB-RJ), afirmou ter decidido não divulgar os gastos "porque [isso] poderia ser explorado pelo outro lado".
A campanha eleitoral gratuita que termina hoje teve início no dia 1º de outubro, na televisão e no rádio, com dois blocos de nove minutos, divididos igualmente, com rodízio na ordem de apresentação. As emissoras também precisaram reservar 20 minutos diários para inserções de 30 segundos, distribuídas ao longo da programação.

Escolha entre dois riscos
Para Marcus Figueiredo, professor de ciência política do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), "a campanha do "sim" cometeu um erro [no início], ao fazer a campanha pela vida, sem mostrar as causas das mortes por arma. A do "não" manteve um discurso uniforme, em defesa do direito individual".
Segundo ele, com a mudança ocorrida nos programas do "sim", os eleitores passaram a ter que optar entre "dois perigos" ou "pelo menos pior". "São duas situações trágicas. A escolha ficou entre o risco de, por ter arma, ocorrer uma tragédia, talvez em um acidente, e o risco de, por não ter arma, ser uma vítima sem condições de defesa. Duas tragédias."


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