São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 2006

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Vi apenas um paredão, diz mergulhador

Sobreviventes contam que tentaram salvar vítimas do acidente na baía de Guanabara; os oito corpos já foram encontrados

Entre as vítimas, Oswaldo do Prado era tido como uma "lenda'; Esmeraldo Moreira, também morto, estava prestes a se aposentar

ITALO NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

"Vi apenas um paredão branco na minha frente e depois senti o impacto" -assim o mergulhador Eliaser Chaves de Oliveira, 32, descreve o momento do choque entre a traineira em que estava e um cargueiro, ocorrido na última terça, na baía de Guanabara, no Rio. Oito tripulantes da embarcação pequena morreram. Os corpos já foram encontrados.
"Na hora foi muito rápido. Entre três e cinco minutos, o barco tinha afundado completamente", relata.
Hospedados em um hotel na Ilha do Governador, no Rio, os quatro sobreviventes contaram que estavam na parte traseira do barco. Thiago Batista Barros, 22, estava na cozinha e conseguiu sair logo após a batida. Ele disse que, enquanto a traineira afundava com a parte dianteira para baixo, chegou a ficar em pé no convés. "Devido ao repuxo, fiquei embaixo d'água por quase dois minutos."
Mesmo com a embarcação completamente afundada, eles tentaram socorrer os companheiros, mas foram impedidos assim que homens da Capitania dos Portos chegaram.
Sem querer atribuir culpa, os mergulhadores disseram que não prestavam atenção no trajeto que a traineira fazia. Eles afirmaram que costumam trabalhar 21 dias e folgar sete. Quando o tempo não está bom, atracam em Jurujuba, em Niterói. Na terça-feira, haviam parado antes para comprar mantimentos. A caminho de Niterói, ocorreu o acidente.

Companheiros
Segundo os mergulhadores, Esmeraldo José Moreira, 60, morto no acidente, morava no Guarujá, tinha 28 anos de profissão e estava prestes a encerrar a carreira. "Ele sempre falava disso para mim: "Estou quase conseguindo parar...". Ele já tinha entrado com a papelada e tudo", disse Barros.
Todos falam com admiração de Oswaldo Antunes do Prado, 61, que tinha mais de 40 anos de profissão e também morreu. Classificado como uma "lenda" por Fonseca, era o supervisor do grupo. "Ele raramente mergulhava. Só quando tínhamos um problema que ninguém conseguia resolver, ele dava um jeito", contou Barros.
Na frente do Instituto Médico Legal, o pescador Luiz de Paula Silva, pai do marinheiro Gustavo de Lima Silva, 30, uma das vítimas, afirmou que o filho começara na profissão há um ano. "Ele parecia feliz com o novo emprego. Foi pescador a vida toda, mas não parecia estar com medo", afirmou.
Gustavo deixou um filho de cinco anos, assim como o mergulhador Panaiote de Oliveira Nitrogianes, 37, morador de Vitória (ES). O marinheiro foi enterrado no final da tarde de ontem em Niterói.
O corpo do mergulhador Elivelton Azevedo da Silva, 25, foi levado para Cachoeiras de Macacu, a 98 km do Rio. O outro marinheiro foi identificado como Robson Ledoux Alves, e o mestre-arrais, como Luis Veríssimo Istanislau.
O gerente da Tecsub Engenharia Subaquática, que contratou o barco da Costa Azul, Isaac Fonseca, afirmou que ele estava em ótimas condições.


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