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São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 2003

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DESIGUALDADE

Análise da ONG Observatório Afro-Brasileiro mostra que só 25,9% dos rendimentos ficam com os pretos e pardos

Brancos detêm 74% da renda brasileira

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

De cada R$ 4 de rendimento produzido no Brasil, quase R$ 3 são recebidos por pessoas brancas. Ou seja, de todo o rendimento, somando salário, aposentadoria, programas de renda mínima e aplicações financeiras, 74,1% ficam com os brancos.
O homem branco é o principal beneficiado: fica com 50% do total da renda do país. São esses os resultados de uma análise da ONG (organização não-governamental) Observatório Afro-Brasileiro com base em dados do Censo 2000 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Os números do estudo mostram que, no Dia Nacional da Consciência Negra -dedicado a Zumbi dos Palmares-, a desigualdade racial, uma marca do Brasil, resulta também da concentração de renda entre brancos.
De acordo com o economista Marcelo Paixão, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e coordenador do Observatório, só 25,9% dos rendimentos ficam com os negros -juntando os identificados como pretos (ficam com 4% da renda) e pardos (21,9% da renda).
O Brasil branco recebe, portanto, uma renda 2,86 superior ao Brasil negro. "É um exercício para pensar como a desigualdade e a pobreza no Brasil têm um evidente componente racial. A riqueza está concentrada entre os brancos, enquanto, entre os pobres, a maioria é de negros", afirmou.
A proporção de renda recebida pelos brancos (74,1%) é maior que a presença deles na população (53,8%) e entre as pessoas com rendimento (58,1%). A parcela de renda apropriada pelos negros (pretos e pardos), 25,9%, é inferior à presença deles na população (45,3%) e entre as pessoas com rendimento (41,9%).

Pobreza negra e feminina
Se o homem branco é o principal detentor da riqueza do país, recebendo 50% da renda, a mulher negra fica em pior situação: detém apenas 8,1% dos rendimentos. A mulher branca, com 24,1% dos rendimentos, está em melhor situação que o homem negro, com 17,7%.
Os dados da ONG mostram que, entre os 10% mais pobres da população (detêm apenas 1,2% da renda), 60,9% são negros, e 39,1%, brancos. Entre os 10% mais ricos, com 49,2% da renda, 82,2% são brancos, e 17,8%, negros.
A concentração de riqueza é tão grande que, entre os 20% mais ricos da população (64,6% da renda), os brancos ficam com 49,4% do total dos rendimentos.
A análise desconsiderou as populações de indígenas e amarelos, que, somadas, são menos de 1% do total do país. O Observatório Afro-Brasileiro tem o apoio do Ceris (Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais).
Para ele, o diagnóstico da desigualdade racial está feito, e a responsabilidade agora é da União. Há também a expectativa de aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, pronto para ser votado na Câmara dos Deputados.
Segundo ele, o sucesso das políticas exige investimentos diretos na questão racial: "Com um orçamento desse, não vai promover igualdade racial nenhuma. As políticas são todas cegas às questões de cor", afirmou.
Ele diz que há um descompasso entre a intensidade da desigualdade e a prioridade dada ao assunto por sucessivos governos. "Espero que o Estatuto da Igualdade Racial seja o melhor do mundo, não só em termos de princípios, mas do ponto de vista da intervenção, da capacidade para agir."


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