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DESIGUALDADE
Análise da ONG Observatório Afro-Brasileiro mostra que só 25,9% dos rendimentos ficam com os pretos e pardos
Brancos detêm 74% da renda brasileira
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
De cada R$ 4 de rendimento
produzido no Brasil, quase R$ 3
são recebidos por pessoas brancas. Ou seja, de todo o rendimento, somando salário, aposentadoria, programas de renda mínima e
aplicações financeiras, 74,1% ficam com os brancos.
O homem branco é o principal
beneficiado: fica com 50% do total da renda do país. São esses os
resultados de uma análise da
ONG (organização não-governamental) Observatório Afro-Brasileiro com base em dados do Censo 2000 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Os números do estudo mostram que, no Dia Nacional da
Consciência Negra -dedicado a
Zumbi dos Palmares-, a desigualdade racial, uma marca do
Brasil, resulta também da concentração de renda entre brancos.
De acordo com o economista
Marcelo Paixão, professor da
UFRJ (Universidade Federal do
Rio de Janeiro) e coordenador do
Observatório, só 25,9% dos rendimentos ficam com os negros
-juntando os identificados como pretos (ficam com 4% da renda) e pardos (21,9% da renda).
O Brasil branco recebe, portanto, uma renda 2,86 superior ao
Brasil negro. "É um exercício para
pensar como a desigualdade e a
pobreza no Brasil têm um evidente componente racial. A riqueza
está concentrada entre os brancos, enquanto, entre os pobres, a
maioria é de negros", afirmou.
A proporção de renda recebida
pelos brancos (74,1%) é maior
que a presença deles na população (53,8%) e entre as pessoas
com rendimento (58,1%). A parcela de renda apropriada pelos
negros (pretos e pardos), 25,9%, é
inferior à presença deles na população (45,3%) e entre as pessoas
com rendimento (41,9%).
Pobreza negra e feminina
Se o homem branco é o principal detentor da riqueza do país,
recebendo 50% da renda, a mulher negra fica em pior situação:
detém apenas 8,1% dos rendimentos. A mulher branca, com
24,1% dos rendimentos, está em
melhor situação que o homem
negro, com 17,7%.
Os dados da ONG mostram
que, entre os 10% mais pobres da
população (detêm apenas 1,2% da
renda), 60,9% são negros, e 39,1%,
brancos. Entre os 10% mais ricos,
com 49,2% da renda, 82,2% são
brancos, e 17,8%, negros.
A concentração de riqueza é tão
grande que, entre os 20% mais ricos da população (64,6% da renda), os brancos ficam com 49,4%
do total dos rendimentos.
A análise desconsiderou as populações de indígenas e amarelos,
que, somadas, são menos de 1%
do total do país. O Observatório
Afro-Brasileiro tem o apoio do
Ceris (Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais).
Para ele, o diagnóstico da desigualdade racial está feito, e a responsabilidade agora é da União.
Há também a expectativa de
aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, pronto para ser votado na Câmara dos Deputados.
Segundo ele, o sucesso das políticas exige investimentos diretos
na questão racial: "Com um orçamento desse, não vai promover
igualdade racial nenhuma. As políticas são todas cegas às questões
de cor", afirmou.
Ele diz que há um descompasso
entre a intensidade da desigualdade e a prioridade dada ao assunto
por sucessivos governos. "Espero
que o Estatuto da Igualdade Racial seja o melhor do mundo, não
só em termos de princípios, mas
do ponto de vista da intervenção,
da capacidade para agir."
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