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Vereadora alega pobreza para não pagar taxa
Myryam Athie assinou declaração de pobreza para não pagar tributo de R$ 251,10 em cemitério; assessor diz desconhecer documento
Vereadora de SP tem patrimônio de quase R$ 500 mil; serviço funerário diz que irá analisar as providências legais cabíveis
CONRADO CORSALETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Com patrimônio de quase R$
440 mil, a vereadora Myryam
Athie (PDT) assinou, em junho
deste ano, uma declaração de
pobreza para não pagar a taxa
de R$ 251,10 cobrada pela exumação do corpo de um familiar
no cemitério da Quarta Parada,
zona leste de São Paulo.
No documento, que se encontra nos arquivos do Serviço
Funerário Municipal e ao qual
a Folha teve acesso, a vereadora declara "não ter condições
financeiras de arcar com o preço público" e se diz ciente de
sua "responsabilidade civil e
criminal" no caso de falsidade.
Procurada desde o início da
tarde de anteontem, ela não
respondeu aos pedidos de entrevista da Folha. O chefe-de-gabinete da vereadora, Leandro Albuquerque Gimenez,
afirmou ter conversado com
ela, por telefone, na manhã de
ontem. Nesse diálogo, segundo
o relato de Gimenez, ela disse
desconhecer a existência do
documento (leia texto abaixo).
Em seu terceiro mandato na
Câmara Municipal, Athie não
conseguiu manter a cadeira para a próxima legislatura, a partir do ano que vem. Com
28.864 votos, obteve a primeira
suplência. Ela assumirá apenas
se o vereador reeleito Cláudio
Prado (PDT) deixar o posto.
Na lista de bens de Athie, enviada ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral) antes da eleição,
constam, entre outras posses,
três imóveis, dois carros e R$
38.500 em dinheiro. O patrimônio total é de R$ 433.700.
O salário de um parlamentar
da Câmara Municipal de São
Paulo é de R$ 9.000 brutos.
Athie já afirmou ser freqüentadora do consultório de estética de Ligia Kogos, dermatologista que tem longa lista de políticos entre seus clientes e cobra R$ 400 por consulta.
Ao assinar o atestado de pobreza, a vereadora se beneficiou de uma lei municipal de
2007, que tem como objetivo
isentar pessoas carentes de taxas dos cemitérios municipais.
A lei (nº 14.268/07) dispensa
a necessidade de o atendente
checar as informações, sendo
necessário apenas a declaração
do beneficiário. O serviço funerário informou que o caso será
submetido à sua assessoria jurídica "para análise das providências legais cabíveis".
Segundo dados da administração municipal, desde a promulgação da nova legislação foram realizadas, até setembro,
358 exumações gratuitas.
O dinheiro da taxa que Athie
deixou de pagar é usado, segundo a prefeitura, "na manutenção e na renovação das instalações, máquinas e equipamentos, bem como no custeio das
despesas de operação".
As taxas variam de acordo
com o cemitério. O cemitério
da Quarta Parada, onde Athie
exumou o parente de graça, é
considerado de "elite", segundo definição dos próprios funcionários. Trata-se de um terreno com cerca de 35 mil túmulos construídos.
A exumação do familiar de
Athie foi feita para que o corpo
de um outro parente da vereadora, que morreu em junho,
pudesse ocupar o espaço de
uma das gavetas do túmulo.
Normalmente, quando um túmulo já está com todas as gavetas ocupadas, os restos mortais
mais antigos são retirados do
caixão e postos num recipiente
para que o espaço seja usado
por outro caixão.
Questão moral
Apesar de ter bens e assinar o
atestado de pobreza, Athie não
deve ter problemas com a Justiça, segundo o advogado Roberto Delmanto.
Questionado sobre as conseqüências do ato, ele afirmou
que o documento é só uma declaração, "não vale por si só",
pois as informações nele contidas estão sujeitas à comprovação. "O ato pode ser reprovável
do ponto de vista moral ou ético, mas não configura crime.
Existem decisões no Tribunal
de Justiça nesse sentido."
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