São Paulo, sexta-feira, 20 de novembro de 2009

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Dersa iguala opinião do Crea à de doméstica

Diretor de engenharia da estatal descarta erro apontado por conselho de engenharia em obra do Rodoanel e diz que foi manifestação de leigo

Governo diz esperar que as causas do acidente sejam apontadas pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) em até 90 dias

ROGÉRIO PAGNAN
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Dersa (estatal do governo paulista) autoriza as construtoras do Rodoanel a manterem a estratégia adotada na instalação das vigas que desabaram no trecho sul e que foi considerada tecnicamente incorreta pelo Crea-SP (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura).
O órgão da gestão José Serra (PSDB) não vê nenhum problema no fato de as empreiteiras terem inserido na construção do viaduto que caiu só quatro das cinco vigas previstas -a última seria colocada depois.
O presidente do Crea-SP, José Tadeu da Silva, afirmou nesta semana, em entrevista coletiva, que esse procedimento desrespeita as boas práticas da engenharia, que ele pode provocar sobrecarga e que essa é a principal hipótese do acidente da última sexta-feira, quando a estrutura desabou sobre veículos na Régis Bittencourt.
O diretor de engenharia da Dersa, Paulo Vieira de Souza, disse que as construtoras estão liberadas para repetir esse procedimento (de não instalar todas as vigas de uma só vez), inclusive quando for retomada a obra do viaduto que desabou.
"Pode deixar uma só viga lá por dez anos. Não cai. É garantido. Isso não é causa de acidente", afirmou Souza à Folha, comparando a manifestação do Crea, cujo presidente é engenheiro civil, à de leigos. "Não são especialistas. Se perguntar para minha esposa [que é decoradora], ela tem uma opinião. A empregada de casa também. Todo mundo [tem]", declarou.
O diretor de engenharia da Dersa alega que cada viga tem um travamento individual suficiente para mantê-la intacta -e que a estabilidade da estrutura é independente da amarração final entre todas as vigas.
Embora diga não saber ainda a causa do acidente, a gestão Serra considera três hipóteses principais: a fabricação (incluindo má qualidade do material); que vigas tenham sido danificadas no transporte ou ao serem lançadas ao viaduto; ou instaladas sem travamento individual. "A viga não tentou suicídio. Houve uma falha", admitiu Souza, que promete: "No dia que instalar as vigas de novo, estarei bem embaixo delas".
O presidente do Crea-SP não foi achado por sua assessoria.

Sem alerta
O diretor da Dersa afirmou que não houve alerta de técnicos da estatal ou da fiscalização terceirizada sobre problemas na obra na área do acidente.
"Simplesmente não detectamos problemas. Se tivesse alerta, não seria acidente, mas negligência", afirmou Souza.
O secretário dos Transportes, Mauro Arce, admitiu que a responsabilidade pela falha na obra não se limita às empreiteiras do lote 5 (OAS, Mendes Jr. e Carioca), mas se estende à estatal e também ao grupo de cinco empresas contratadas por R$ 24,5 milhões para fiscalizá-la.
A gestão Serra diz esperar que as causas do acidente sejam apontadas pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) em até 90 dias. Arce afirma que a obra no viaduto que desabou será retomada só após as conclusões do IPT -mais por razão "psicológica". Mas mantém a previsão de entrega do trecho sul no final de março de 2010.
O contrato do IPT deve custar R$ 590 mil e será bancado pela Dersa. Souza alegou que, se a despesa fosse repassada às empreiteiras, haveria questionamento sobre a isenção das conclusões do relatório.


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