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Dersa iguala opinião do Crea à de doméstica
Diretor de engenharia da estatal descarta erro apontado por conselho de engenharia em obra do Rodoanel e diz que foi manifestação de leigo
Governo diz esperar que as causas do acidente sejam apontadas pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) em até 90 dias
ROGÉRIO PAGNAN
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Dersa (estatal do governo
paulista) autoriza as construtoras do Rodoanel a manterem a
estratégia adotada na instalação das vigas que desabaram no
trecho sul e que foi considerada
tecnicamente incorreta pelo
Crea-SP (Conselho Regional de
Engenharia e Arquitetura).
O órgão da gestão José Serra
(PSDB) não vê nenhum problema no fato de as empreiteiras
terem inserido na construção
do viaduto que caiu só quatro
das cinco vigas previstas -a última seria colocada depois.
O presidente do Crea-SP, José Tadeu da Silva, afirmou nesta semana, em entrevista coletiva, que esse procedimento
desrespeita as boas práticas da
engenharia, que ele pode provocar sobrecarga e que essa é a
principal hipótese do acidente
da última sexta-feira, quando a
estrutura desabou sobre veículos na Régis Bittencourt.
O diretor de engenharia da
Dersa, Paulo Vieira de Souza,
disse que as construtoras estão
liberadas para repetir esse procedimento (de não instalar todas as vigas de uma só vez), inclusive quando for retomada a
obra do viaduto que desabou.
"Pode deixar uma só viga lá
por dez anos. Não cai. É garantido. Isso não é causa de acidente", afirmou Souza à Folha,
comparando a manifestação do
Crea, cujo presidente é engenheiro civil, à de leigos. "Não
são especialistas. Se perguntar
para minha esposa [que é decoradora], ela tem uma opinião. A
empregada de casa também.
Todo mundo [tem]", declarou.
O diretor de engenharia da
Dersa alega que cada viga tem
um travamento individual suficiente para mantê-la intacta
-e que a estabilidade da estrutura é independente da amarração final entre todas as vigas.
Embora diga não saber ainda
a causa do acidente, a gestão
Serra considera três hipóteses
principais: a fabricação (incluindo má qualidade do material); que vigas tenham sido danificadas no transporte ou ao
serem lançadas ao viaduto; ou
instaladas sem travamento individual. "A viga não tentou
suicídio. Houve uma falha", admitiu Souza, que promete: "No
dia que instalar as vigas de novo, estarei bem embaixo delas".
O presidente do Crea-SP não
foi achado por sua assessoria.
Sem alerta
O diretor da Dersa afirmou
que não houve alerta de técnicos da estatal ou da fiscalização
terceirizada sobre problemas
na obra na área do acidente.
"Simplesmente não detectamos problemas. Se tivesse alerta, não seria acidente, mas negligência", afirmou Souza.
O secretário dos Transportes, Mauro Arce, admitiu que a
responsabilidade pela falha na
obra não se limita às empreiteiras do lote 5 (OAS, Mendes Jr. e
Carioca), mas se estende à estatal e também ao grupo de cinco
empresas contratadas por R$
24,5 milhões para fiscalizá-la.
A gestão Serra diz esperar
que as causas do acidente sejam
apontadas pelo IPT (Instituto
de Pesquisas Tecnológicas) em
até 90 dias. Arce afirma que a
obra no viaduto que desabou
será retomada só após as conclusões do IPT -mais por razão "psicológica". Mas mantém
a previsão de entrega do trecho
sul no final de março de 2010.
O contrato do IPT deve custar R$ 590 mil e será bancado
pela Dersa. Souza alegou que,
se a despesa fosse repassada às
empreiteiras, haveria questionamento sobre a isenção das
conclusões do relatório.
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