São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 2001

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CENSO 2000

Fenômeno da queda no número de habitantes atinge 27% dos municípios brasileiros, principalmente no Sul e no Nordeste

1.501 cidades perdem população desde 96

Ed Viggiani/Folha Imagem
Geraldo da Silva, com os pais Maria de Lourdes e João Manuel, tem sete irmãos fora de Matinhas (PB)



EDUARDO SCOLESE
DA AGÊNCIA FOLHA

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MATINHAS

Em cada quatro municípios brasileiros, pelo menos um apresentou redução da população, de acordo com os dados preliminares do Censo 2000 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Dos 5.507 municípios do país, 1.501, ou 27%, encolheram desde a contagem populacional feita pelo instituto em 96.
Estados das regiões Sul e Nordeste são os que lideram o ranking de cidades que encolheram -fenômeno que se explica pela migração rumo às regiões metropolitanas das grandes cidades. Nos últimos 35 anos, pelo menos 40 milhões de pessoas deixaram as zonas rurais do país.
Especialistas ouvidos pela Agência Folha afirmam que as principais causas da redução populacional nesses locais foram a estagnação das áreas rurais e a modernização agrícola, que acelerou a dispensa de mão-de-obra.
As correntes de migração concentradas hoje dentro dos Estados sulistas e nordestinos seriam a última etapa do êxodo rural que começou nos anos 60.
"O perfil daqueles que deixam a zona rural é sempre o mesmo. Eles não foram acolhidos pelo sistema urbano de suas cidades. Não há uma integração entre o rural e o urbano, por isso a saída acaba sendo a única opção", afirma Rosana Baeninger, pesquisadora do Núcleo de Estudos de População da Unicamp.
No Sul, 42% das cidades do Rio Grande do Sul e do Paraná tiveram diminuição da população de 96 até o ano passado, de acordo com os dados do IBGE.
"Os centros urbanos das cidades do interior não tiveram como segurar as pessoas com baixo grau de instrução. A mecanização do campo também é um fator determinante para esvaziar o setor rural nesses Estados", disse Rosa Moura, geógrafa do Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social).
No Nordeste, as pessoas saem do sertão fugindo da seca e atrás de serviços básicos de saúde e educação nas principais cidades e em todo o litoral do Brasil.
Além das capitais, há no interior nordestino outros 14 pontos de aglomeração que recebem migrantes atualmente.
Segundo o chefe do Departamento de População e de Indicadores Sociais do IBGE, Luiz Antônio Pinto de Oliveira, "os chamarizes nessas aglomerações são a instalação de novas indústrias, a criação de ações regionalizadas e o incentivo à plantação de frutas para exportação".
Outro exemplo da atual tendência de migração está na Paraíba: 41% das cidades do Estado tiveram redução da população em quatro anos.
Enquanto isso, cidades próximas à capital do Estado, João Pessoa, cresceram ao receber migrantes. Cabedelo, Santa Rita, Conde, Bayeux e Cruz do Espírito Santo obtiveram média de crescimento de 11,70%, contra 3,81% do Estado. Em João Pessoa, o crescimento foi de 7,65%.


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