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MULHER MARAVILHA
Juliana Dornelles Borges,22, diz que usufrui dos "avanços científicos" para alcançar o seu "aperfeiçoamento"
Gaúcha de "19 plásticas" quer ser miss Brasil
Flávio Florido/Folha Imagem
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Juliana Borges,22, miss Rio Grande do Sul 2001, que alardeia ter feito 19 plásticas para participar do concurso Miss Brasil |
ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL
Ela galgou recentemente a mídia como "a miss das 19 plásticas". Hasteou o inusitado título
em revistas semanais e na TV.
Chama-se Juliana Dornelles
Borges. Tão gaúcha quanto as
tops Shirley Mallman e Gisele
Bündchen, tem 22 anos, os olhos
verdes, os cabelos escuros, 1m80
de altura e pernas longuíssimas.
É mesmo miss. Mais precisamente, miss Rio Grande do Sul,
honraria que conquistou há três
meses. Em março, vai participar
do Miss Brasil. Se ganhar, seguirá
para Porto Rico, onde concorrerá
à coroa de Miss Universo.
Plásticas, de fato as fez. Entre
dezembro e as primeiras semanas
de janeiro, entregou-se a uma
porção de intervenções, que lhe
reduziram o peso, afinaram a cintura, avolumaram os seios e modificaram levemente o rosto (veja
quadro à direita).
Hoje, portanto, integra o time
das misses turbinadas -escasso
no país, mas pródigo em outras
searas da América Latina, sobretudo a Venezuela. Lá, raramente
se encontra uma "rainha da beleza" que não enfrentou o bisturi. O
artifício, em geral, compensa: as
venezuelanas levam a maioria dos
prêmios internacionais.
Em contrapartida, no ano passado, das 27 finalistas que disputaram o Miss Brasil, apenas cinco
apelaram para recauchutagens
estéticas. Nenhuma venceu.
Mais difícil do que garimpar
uma venezuelana sem plástica, é
saber exatamente quantas intervenções Juliana sofreu. O empresário da moça, Evandro Hazzy, e o
cirurgião que a acompanha, Almir Moojen Nácul, alardeiam 19.
Somam o número de procedimentos médicos já realizados.
Dessa maneira, um implante de
silicone em cada seio representa
duas operações. Uma lipoaspiração nos lados direito e esquerdo
da cintura significa outras duas, e
assim por diante. Contabilizam,
também, uma alteração no nariz
que Juliana ainda não fez -nem
pretende fazer, apesar das recomendações do doutor Almir.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica discorda dos cálculos.
"A praxe é contar as intervenções
por região anatômica e não por
procedimento médico", diz o presidente da entidade, Luiz Carlos
Garcia. Tal critério rebaixa a gaúcha à condição de "miss das dez
plásticas" -de qualquer modo,
recorde para os padrões locais.
Por que dez viram 19? A própria
Juliana explica: "Tem um pouquinho de marketing nisso". Marketing que busca reavivar um tipo
de concurso há muito tempo desacreditado por aqui. O prestígio
das misses -alto durante as décadas de 50, 60 e 70- despencou
com a ascensão das modelos.
Alheio à decadência, Evandro
Hazzy, 30, mantém em Porto Alegre uma escola que orienta jovens
interessadas na competição. Definindo-se como "missólogo", é
um entusiasta das plásticas. "A
mulher nasce bela, mas não perfeita", argumenta. "Só a cirurgia
estética conduz à perfeição."
Folha - Você já se considerava bonita antes de virar miss gaúcha?
Juliana Dornelles Borges - Não
gosto de dizer que sim, mas me
considerava. Caso contrário, não
me inscreveria em um concurso
de beleza, né?
Folha - Então por que você resolveu fazer tantas plásticas?
Juliana - Porque há sempre algo
no corpo que incomoda. Nem as
misses se sentem perfeitas.
Folha - Não?
Juliana - Claro que não. A barriga, por exemplo. Qualquer pessoa, em sã consciência, deseja tirar uma gordurinha do abdômen.
Desconheço mulher que não reclame: "Ai, minha barriga!". E os
seios? Achava os meus pequenos
demais. Sou também modelo, e
toda modelo tem peitinhos de nada. Queria aumentá-los. Já as orelhas... Bem, as minhas estavam
meio abertinhas. Eu não chegava
a parecer um Dumbo, mas quase.
Era um filhotinho. Enquanto trabalhava apenas como modelo, o
defeito não me importunava, porque deixava os cabelos soltos. Só
que as misses precisam usar coque. Prendem o cabelo para colocar a coroa. Entendeu? Se não tomasse providências, minhas orelhas ficariam maiores que a coroa.
Folha - E o rosto? O que havia de
errado nele?
Juliana - Até ganhar o concurso,
não notava as imperfeições de minha cara. Se tu observa uma pessoa na rua, pode comentar: "É
gorda, é magra". Mas dificilmente
diz: "Nossa, esse sujeito tem as
maçãs do rosto muito desproporcionais!". Os leigos ignoram detalhes assim. Já os médicos -que
estudam- batem os olhos e logo
apontam o que está fora de lugar.
O doutor Almir percebeu os problemas durante a consulta e me
mostrou que valia a pena mexer.
O Evandro, meu empresário,
também me incentivou -ele
próprio passou por oito plásticas
no rosto. Acabei me animando.
Folha - Os resultados a deixaram
satisfeita?
Juliana - Bastante. Adorei todas
as plásticas. Uma maravilha.
Folha - Quantas intervenções você fez? Dezenove?
Juliana - Cada hora sai um número. Já publicaram 16, 19, 20.
Tem um pouquinho de marketing nisso, sabe? Não acho que fiz
tantas intervenções como dizem.
O doutor calcula assim: "Pus silicone no seio esquerdo e no direito. São duas plásticas. Lipoaspirei
a cintura do lado direito e do lado
esquerdo. São mais duas". Uma
conta esquisita... Para mim, colocar silicone nos seios é uma plástica, não duas. O mesmo no caso da
cintura. Tu já viu alguém mexer
em um peito e não alterar o outro?
Tirar gordura de um lado e não tirar do outro?
Folha - Como você encara o argumento, muito comum, de que as
misses, quando fazem plástica, tornam-se antinaturais e, portanto,
não deveriam mais disputar os concursos de beleza?
Juliana - Antinaturais? E daí? A
humanidade inventou a tecnologia para que todos a utilizem. É
natural tu estar no Brasil e conversar pelo celular com um amigo
que vive no Japão? Não é, mas
ninguém questiona. Só porque
sou miss não posso usufruir dos
avanços científicos? Sem mencionar que também sou mulher e tenho as minhas vaidades. Gostaria
que as pessoas superassem preconceitos dessa natureza. Ser miss
é o meu trabalho. A plástica serve
como um aperfeiçoamento. Os
médicos, os advogados, os jornalistas não frequentam cursos de
especialização? Então... As misses
fazem plásticas.
Folha - Nem todas.
Juliana - É verdade, mas há várias que fazem e não revelam. Outro dia, encontrei uma ex-miss
Brasil. Ela condenou as plásticas.
Explicou que, para uma miss, a
cultura e a boa oratória são mais
importantes do que a exuberância
física. Respondi: "Até chegar à final do concurso, quando foi que
tu abriu a boca? Alguém te pediu
que falasse durante as eliminatórias? Não, porque somente as finalistas é que se submetem àquelas entrevistas públicas. Nenhuma menina atinge a última etapa
se não exibir um belo corpo".
Folha - Seu empresário costuma
afirmar que recomenda plástica às
candidatas por pretender torná-las
perfeitas. Você agora se considera
perfeita?
Juliana - Só se fosse maluca me
julgaria perfeita. Estou é mais segura, mais confiante. Sinto-me
tranquila para enfrentar aqueles
mulherões cheios de curvas. Não
poderia disputar o Miss Brasil
com peitinhos de modelo. Iria ficar em desvantagem. O Evandro
me ensinou um negócio fundamental. Ele diz: "Nosso país é reconhecidamente enorme e repleto de moças lindas. Acontece que
vai mal no Miss Universo. Por
quê? O que as venezuelanas, as colombianas e as indianas têm que
nós não temos? Cirurgia plástica".
Folha - Em nenhum momento você ficou com medo de sofrer tantas
intervenções?
Juliana - Gozado... O medo não
passava por minha cabeça. Mas
agora que tudo terminou vi que
corri um certo risco.
Folha - Faria novas plásticas?
Juliana - Se houvesse necessidade profissional, sim. Só que, antes,
pensaria muito. Não iria mais na
ingenuidade.
Folha - Seu médico acha que você
ainda precisa fazer uma plástica no
nariz.
Juliana - No nariz? Será? Creio
que não. Chega de plástica.
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