São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

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HABITAÇÃO

Moradores protestaram, mas não houve confronto; edifício, que é do Estado, será destinado a pessoas que vivem em cortiço

Famílias deixam prédio ocupado há 4 anos

DA REPORTAGEM LOCAL
DO "AGORA"

Após quatro anos e oito meses de ocupação, 97 famílias foram despejadas ontem do edifício Almeida, na esquina da rua Ana Cintra com a avenida São João, em Campos Elíseos (região central de São Paulo). A reintegração de posse ocorreu sob protestos das cerca de 500 pessoas que moravam no local, mas não houve confrontos com a Polícia Militar.
O prédio de dez andares pertence à CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), do Estado, que pretende reformar e destinar os apartamentos a 70 famílias que moram em cortiços no centro. A companhia diz que há 18 meses obteve a reintegração, mas prorrogou a ação atendendo a pedidos das famílias. Em maio de 99, o prédio foi ocupado por militantes do Fórum dos Cortiços e, em 2002, por integrantes do MSTC (Movimento dos Sem-Teto do Centro).
Dessa vez, o aviso foi dado há três meses, mas ontem as famílias ainda tinham esperança de permanecer no local, segundo Ivaneti Araújo, do MSTC. Pela manhã, diante de 20 caminhões da CDHU e cerca de 180 policiais, os moradores fizeram uma "barricada" com móveis e madeira.
Revoltados, alguns sem-teto xingaram e ameaçaram agredir o superintendente da CDHU, Fernando Batistiuzzo.
"O governo resolveu comemorar os 450 anos de São Paulo colocando 500 pessoas na rua", disse Araújo. A principal reclamação das famílias é a falta de acesso aos programas de crédito para habitação, já que que eles dizem não ter renda para obter o benefício.
"Essas famílias estão em situação irregular, de insegurança. Estamos procurando soluções para elas. Nosso programa é acabar com o cortiço e dar habitação digna para as pessoas", disse ontem o governador Geraldo Alckmin.
Há quatro anos, o artista plástico Eusenir Moura, 34, ocupou o prédio com sua mulher e quatro filhos. Ontem, ele deixou com tristeza o apartamento. "Vamos para a rua", disse Moura.
Ontem, a CDHU se comprometeu a dar durante um mês R$ 300 para cada família pagar um aluguel e a prefeitura disponibilizou três hotéis na região central. Após esse período, as famílias serão beneficiadas pelo programa bolsa-aluguel, aprovado na semana passada pela Câmara. O projeto, que falta ser regulamentado, prevê um subsídio mensal para aluguel de até R$ 300 durante 30 meses.
A reintegração prejudicou o trânsito nas imediações da Ana Cintra, mas não foi registrada lentidão. A avenida São João ficou interditada entre as ruas General Osório e Helvétia.


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