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Metrô optou por obra com mais riscos
Mudança sugerida pelo consórcio e acatada pela estatal do governo de SP levou a construção menos segura, dizem geólogos
Ex-técnico da empresa, que estudou área do acidente, e autor de doutorado sobre o trecho dizem que "tatuzão" era mais adequado ao solo
ROBERTO PELLIM
EDITOR-ASSISTENTE DE COTIDIANO
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Metrô optou pela técnica
de maior risco para construir o
trecho da linha 4 que entrará
para a história por ter sido o
palco do mais grave acidente já
registrado em obras desse gênero em São Paulo, com seis vítimas fatais. A opinião é de dois
dos maiores especialistas nessa
linha, os geólogos Kenzo Hori e
Adalberto Aurélio Azevedo.
Hori, 64, foi o responsável
pelo levantamento geológico
da linha 4 quando trabalhava
no Metrô -ele entrou na companhia em 1968 e se aposentou
em 1999 como chefe do Departamento de Projeto Civil.
Já Azevedo defendeu em
2002 uma tese de doutorado no
Instituto de Geociências da
USP justamente sobre a área
em que ocorreu o acidente -o
trecho da linha que fica ao lado
do rio Pinheiros (zona oeste
paulistana). O objetivo da tese
era confrontar os riscos de cada
técnica para saber qual seria a
mais segura para a região da estação que desabou no dia 12.
Os dois geólogos defendiam
um método construtivo diferente do que foi adotado pelo
Consórcio Via Amarela com a
concordância do Metrô. Eles
afirmam que aquele trecho da
linha amarela tinha de ser
construído por um equipamento conhecido como "shield"
(escudo, em tradução literal)
ou TBM (Tunnel Boring Machine), o popular "tatuzão".
O edital do Metrô para a licitação também obrigava o vencedor a comprar dois "tatuzões". No entanto, o Consórcio
Via Amarela, que ganhou a disputa, conseguiu mudar o edital
e comprou um só.
O trecho que desabou estava
sendo construído com uma técnica chamada NATM (New
Austrian Tunneling Method ou
Novo Método Austríaco para
Abertura de Túneis). O NATM
usa retroescavadeira e explosivos para perfurar as rochas.
"Para o trecho da Vila Sônia à
Fradique Coutinho, o "shield"
era recomendado por causa do
risco", disse Hori à Folha.
A área do acidente é complexa do ponto de vista geológico
por causa do que ele chama de
"estabilidade precária": "Aquele trecho do rio Pinheiros é
uma região de várzea que foi
urbanizada. Há sedimentos
trazidos pelo rio, uma argila
mole, areia, e só então a rocha.
Há uma quantidade maior de
solo ruim [para perfurar túneis] até chegar à rocha sã".
Os dois métodos têm prós e
contras. A literatura técnica internacional tende a apontar o
"tatuzão" como mais seguro
que o NATM ou túnel mineiro
(cuja origem é a mineração).
Em contrapartida, é bem mais
caro -a máquina que está sendo montada na avenida Brigadeiro Faria Lima para o trecho
que irá daquela área à Luz custou cerca de R$ 30 milhões, foi
feita sob medida e não pode ser
reutilizada em outra obra.
O NATM é mais barato. Os
equipamentos (retroescavadeira, perfuratriz para furar a
rocha que será explodida e
bomba para concreto) não custam mais de R$ 500 mil e são o
maquinário básico das empreiteiras. O crítico é a segurança.
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