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Lista escolar exige até 800 copinhos e papel higiênico
Pais afirmam que são um exagero pedidos feitos por escolas particulares de SP
Há colégios que pedem 14 colas e almofada; Procon diz que escolas só podem cobrar produtos que tenham relação direta com o ensino
RICARDO WESTIN
TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma criança consegue usar
18 lápis pretos, 500 folhas de
papel sulfite ou 14 tubos de cola
durante um ano letivo? E precisa levar almofada, fone de ouvido, papel higiênico ou 800 copos descartáveis para a aula?
Para alguns colégios particulares de São Paulo, a resposta é
sim. Esses exemplos estão em
algumas das listas de material
didático de 21 escolas obtidas
pela Folha. Os alunos estão no
ensino fundamental.
É um exagero, avalia parte
dos pais. Se o aluno tem 18 lápis
para o ano, ele pode trocar de
lápis a cada 11 dias de aula.
"Pediram papel higiênico,
lenço de papel, pano de limpeza descartável. Acho absurdo. A
escola deveria se ater ao material didático", diz Andrea Molinari, 33, mãe de duas crianças
que estudam na zona leste.
Entidades de defesa do consumidor fazem um alerta: a escola só pode incluir na lista
produto que tenha relação direta com o ensino. Por isso, os
pais devem se recusar a mandar itens de higiene ou copos
plásticos, por exemplo.
Além disso, têm o direito de
pedir de volta o que sobrar no
fim do ano. Caso a escola se recuse a devolver, os pais podem
fazer denúncia a um órgão de
defesa do consumidor. O colégio corre o risco de levar multa.
Para evitar problemas, o colégio Magno diz que prefere
não pedir uma quantidade exata. "Cada criança tem um ritmo.
Algumas são cuidadosas [com o
material], outras não", diz a diretora Myriam Tricate. O Santo
Américo, por outro lado, pede
dez colas por aluno. A escola
Nossa Senhora das Graças, 12
lápis pretos. Ambos dizem que
devolvem o material não usado.
Para a professora Neide
Noffs, da Faculdade de Educação da PUC-SP, o ideal é que a
escola não peça todo o material
de uma só vez. "Às vezes não
tem nem como estocar direito.
A cola pode endurecer, a tinta
estragar. O melhor é ir pedindo
aos poucos", diz.
Adilson Garcia, diretor do
Vértice, que pede 14 colas de
diferentes tipos, discorda. "Se o
pai compra em maior quantidade [e ao mesmo tempo], sai
mais barato. Muitos preferem."
"Os pais muitas vezes não reclamam porque acham que lápis ou copo descartável é coisa
pouca. Eu não. Fui à escola [de
um dos filhos] questionar a lista. Acho um abuso", diz a secretária Bárbara Guerrato, 29, que
tem dois filhos pequenos em
colégios do Ipiranga (zona sul).
Ela não entende por que uma
criança precisa de cinco caixas
de lápis de cor, cinco de giz de
cera e outras cinco de massinha. "Avisei que só vou mandar
duas caixas. No meio do ano,
quero saber o que foi usado.
Sendo preciso, mando o resto."
Para entidades do consumidor, Bárbara fez uma decisão
acertada. "Os pais não devem
se sentir constrangidos de reclamar", afirma Valéria Cunha,
do Procon-SP. "Não é só pelo
valor. Quando não contesta, o
consumidor acaba favorecendo
as práticas abusivas."
Valéria lembra ainda que não
se pode exigir que os pais comprem os itens diretamente da
escola. Taxas de material, portanto, como a do colégio Carlitos, não podem ser obrigatórias.
A escola na região central fornece todo o material, mas exige
mais de R$ 1.000 por isso. Para
o diretor José Manuel Mayor,
isso é necessário por se tratar
de material muito específico.
A escola Futura disse que os
pais não são obrigados a entregar os 800 copos plásticos e as
6 caixas de lenços. A Folha
procurou os colégios Móbile
(18 lápis pretos), Augusto Laranja (8 lápis), Arquidiocesano
(500 folhas de sulfite), Benjamin Constant (4 rolos de papel
toalha), Miguel de Cervantes
(12 colas) e Humboldt (almofada) para que comentassem as
listas, mas não teve resposta.
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