São Paulo, quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

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Foco

Modelo de ensaio sensual será um dos substitutos de Jamelão na Mangueira

AUDREY FURLANETO
DA SUCURSAL DO RIO

"Rir de quê?", dizia Jamelão (1913-2008) quando lhe perguntavam por que sorria pouco. Se o histórico intérprete da Mangueira era conhecido por ser rabugento e, apesar disso, carismático, o novo puxador do samba da escola, Zé Paulo Sierra, exibe os dentes brancos -e o peito, as coxas, a cueca...- em ensaio fotográfico sensual.
"O fato de ter feito essas fotos", porém, "não interferem na minha vida de puxador", diz.
"Sei que as pessoas acreditam que puxador tem que ser alguém de pele negra, vindo da comunidade. Mas não. Fiz as fotos [para o site Sambarazzo] até por isso. Sou intérprete, posso fazer qualquer coisa, e nada muda isso."
Entre as coisas que faz, estão a prática de muai-thay e jiu-jitsu, e o trabalho como bancário do Itaú. Nascido no bairro da Abolição, zona norte do Rio, Sierra ganhou como melhor intérprete do Grupo de Acesso em 2009, à frente da Caprichosos de Pilares.
O cantor decidiu deixar o trabalho no banco, após dez anos, ao ser convidado por Ivo Meirelles, presidente da Mangueira, para ocupar a vaga de intérprete oficial.
Não fará sozinho: pela primeira vez, a escola terá quatro intérpretes oficiais (Zé Paulo, Luizito, Rhichas e Ciganarey) -a primeira voz era ocupada apenas pelo mestre Jamelão, acompanhado na segunda voz por mais dois.
"A comparação com o Jamelão é zero. Ele é um cara único na Mangueira. Talvez eu tenha dele a personalidade forte", avalia o rapaz, que tem nas costas uma imensa tatuagem dos Arcos da Lapa e de um cantor de samba.
Foi por causa de "Das Maravilhas do Mar, Fez-se o Esplendor de uma Noite", samba-enredo da Portela em 1981, que se "apaixonou" por samba e foi incentivado pelo pai a cantar. Na Mangueira, interpretará o enredo "Mangueira é Música do Brasil".
Desde que recebeu o convite, no ano passado, Sierra está se guardando para o Carnaval: em julho, parou de beber, faz aulas de técnicas de canto e respiração e "torce" para não se resfriar.
O que falta ainda, ele reconhece, é identificação com a comunidade. "Carisma é importante. Eu preciso criar uma identidade, aquela coisa de dizerem: "Olha, é a voz do Zé Paulo da Mangueira"."


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