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Foco
Modelo de ensaio sensual será um dos substitutos
de Jamelão na Mangueira
AUDREY FURLANETO
DA SUCURSAL DO RIO
"Rir de quê?", dizia Jamelão (1913-2008) quando lhe
perguntavam por que sorria
pouco. Se o histórico intérprete da Mangueira era conhecido por ser rabugento e,
apesar disso, carismático, o
novo puxador do samba da
escola, Zé Paulo Sierra, exibe
os dentes brancos -e o peito,
as coxas, a cueca...- em ensaio fotográfico sensual.
"O fato de ter feito essas fotos", porém, "não interferem
na minha vida de puxador", diz.
"Sei que as pessoas acreditam que puxador tem que ser
alguém de pele negra, vindo
da comunidade. Mas não. Fiz
as fotos [para o site Sambarazzo] até por isso. Sou intérprete, posso fazer qualquer
coisa, e nada muda isso."
Entre as coisas que faz, estão a prática de muai-thay e
jiu-jitsu, e o trabalho como
bancário do Itaú. Nascido no
bairro da Abolição, zona norte do Rio, Sierra ganhou como
melhor intérprete do Grupo
de Acesso em 2009, à frente
da Caprichosos de Pilares.
O cantor decidiu deixar o
trabalho no banco, após dez
anos, ao ser convidado por
Ivo Meirelles, presidente da
Mangueira, para ocupar a vaga de intérprete oficial.
Não fará sozinho: pela primeira vez, a escola terá quatro intérpretes oficiais (Zé
Paulo, Luizito, Rhichas e Ciganarey) -a primeira voz era
ocupada apenas pelo mestre
Jamelão, acompanhado na
segunda voz por mais dois.
"A comparação com o Jamelão é zero. Ele é um cara
único na Mangueira. Talvez
eu tenha dele a personalidade
forte", avalia o rapaz, que tem
nas costas uma imensa tatuagem dos Arcos da Lapa e de
um cantor de samba.
Foi por causa de "Das Maravilhas do Mar, Fez-se o Esplendor de uma Noite", samba-enredo da Portela em
1981, que se "apaixonou" por
samba e foi incentivado pelo
pai a cantar. Na Mangueira,
interpretará o enredo "Mangueira é Música do Brasil".
Desde que recebeu o convite, no ano passado, Sierra está
se guardando para o Carnaval: em julho, parou de beber,
faz aulas de técnicas de canto
e respiração e "torce" para
não se resfriar.
O que falta ainda, ele reconhece, é identificação com a
comunidade. "Carisma é importante. Eu preciso criar
uma identidade, aquela coisa
de dizerem: "Olha, é a voz do
Zé Paulo da Mangueira"."
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