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Espanha nega entrada a 8 brasileiros por dia
Ao menos 3.000 brasileiros tiveram recusado seu ingresso no país europeu em 2007, de acordo com dados do Itamaraty
Ministro Celso Amorim esteve em Madri para discutir com chanceler espanhol o tratamento dado aos brasileiros
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma das principais portas de
entrada de brasileiros que viajam para a Europa, a Espanha
converteu-se no último ano em
um problema para o Itamaraty.
Dados de 2007 dão conta de
que pelo menos 3.000 brasileiros tiveram recusado seu ingresso no país, o que dá uma
média diária de 8,2 "denegações" (é o termo usado pelos diplomatas).
A esmagadora maioria dessas
pessoas viajou à Espanha com
dinheiro para gastar, local para
ficar e passagem de volta. Mas
foi obrigada a engolir a vontade
de passear e perdeu no mínimo
o dinheiro investido nos bilhetes aéreos. Tudo por causa do
recrudescimento do controle
de ingresso de brasileiros pelo
governo espanhol.
A situação tem piorado mês a
mês, segundo o Itamaraty. No
dia 7 de fevereiro, o ministro
Celso Amorim foi a Madri para
discutir com o chanceler espanhol Miguel Ángel Moratinos
Cuyaubé o tratamento dispensado aos brasileiros. Reunião
de alto nível, mas que não resultou em mudanças no comportamento do país europeu.
Como os demais integrantes
da Comunidade Européia, a Espanha não exige dos cidadãos
brasileiros visto para ingresso
em suas fronteiras -mesmo
comportamento que tem o Brasil em relação a espanhóis.
O preocupante, no caso da
Espanha, é que, além de em número crescente, as "denegações de ingresso" têm ocorrido
simultaneamente ao que o Itamaraty chama de "tratamento
inadequado", o que pode caracterizar uma forma de discriminação.
Na edição de ontem, a Folha
publicou o relato da física Patrícia Camargo Magalhães, 23,
que pretendia participar de um
congresso científico em Lisboa,
mas foi deportada de volta ao
Brasil depois de passar 53 horas presa no aeroporto de Madri, onde parou apenas para pegar outro avião para Portugal.
O mesmo problema aconteceu com a baiana Camile Gavazza Alves, 34, solteira, formada em turismo, quando tentou
chegar a Dublin, na Irlanda, para fazer um curso de inglês com
duração prevista de seis meses.
Ela usava o aeroporto de Madri
apenas como "porta de entrada" ou escala para atingir seu
objetivo final, mas foi barrada.
Denegado seu ingresso, teve de
embarcar de volta. Perdeu o dinheiro investido nos bilhetes
aéreos e no curso de inglês.
"Ao chegar a Madri às 8h30
do dia 10, passei pela imigração, onde entreguei a passagem, o bilhete emitido para
Dublin e meu passaporte. O fiscal da polícia me perguntou o
que eu iria fazer em Dublin e
respondi: ""Estudar inglês". Ele
então pediu que eu fosse a uma
sala para uma entrevista". Foi o
começo do fim do curso de inglês para Camile, que ficou detida dois dias no aeroporto.
Ela se lembra que, em dado
momento, sentia muita sede.
"A todo momento, eu pedia
água e eles respondiam que depois dariam água. Mas isso só
aconteceu horas depois, no
momento em que distribuíram
quentinhas frias, que faziam
questão de frisar serem pagas
pelo governo espanhol."
Tanto Patrícia quanto Camila afirmam não terem recebido
ajuda do consulado brasileiro
em Madri, apesar de sucessivos
telefonemas (só atendidos pela
secretária eletrônica) e faxes
relatando seus casos, enviados
por amigos. Tadeu Breda, 23,
que cursa faculdade em Madri,
foi pessoalmente até o consulado pedir que intercedesse pela
amiga Patrícia. "O segurança
que me atendeu disse que eu
podia falar com o plantonista
pelo celular. Liguei muitas vezes, deixei recados de voz e ninguém me deu retorno."
O cônsul-geral do Brasil em
Madri, Gelson Fonseca Júnior,
diz ter pedido às autoridades
espanholas, no dia 11, por carta
e telefone, esclarecimentos:
"Solicitamos que se reavaliasse
a situação de Patrícia. Reiteramos no dia 12 de fevereiro. Por
correio eletrônico, recebemos
da estudante relato pormenorizado do processo e das dificuldades que enfrentou no aeroporto de Madri. Seu relato foi
encaminhado terça-feira às autoridades espanholas, com pedido de esclarecimentos."
Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa da Embaixada da Espanha não respondeu às ligações.
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