São Paulo, quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

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Espanha nega entrada a 8 brasileiros por dia

Ao menos 3.000 brasileiros tiveram recusado seu ingresso no país europeu em 2007, de acordo com dados do Itamaraty

Ministro Celso Amorim esteve em Madri para discutir com chanceler espanhol o tratamento dado aos brasileiros

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma das principais portas de entrada de brasileiros que viajam para a Europa, a Espanha converteu-se no último ano em um problema para o Itamaraty. Dados de 2007 dão conta de que pelo menos 3.000 brasileiros tiveram recusado seu ingresso no país, o que dá uma média diária de 8,2 "denegações" (é o termo usado pelos diplomatas).
A esmagadora maioria dessas pessoas viajou à Espanha com dinheiro para gastar, local para ficar e passagem de volta. Mas foi obrigada a engolir a vontade de passear e perdeu no mínimo o dinheiro investido nos bilhetes aéreos. Tudo por causa do recrudescimento do controle de ingresso de brasileiros pelo governo espanhol.
A situação tem piorado mês a mês, segundo o Itamaraty. No dia 7 de fevereiro, o ministro Celso Amorim foi a Madri para discutir com o chanceler espanhol Miguel Ángel Moratinos Cuyaubé o tratamento dispensado aos brasileiros. Reunião de alto nível, mas que não resultou em mudanças no comportamento do país europeu.
Como os demais integrantes da Comunidade Européia, a Espanha não exige dos cidadãos brasileiros visto para ingresso em suas fronteiras -mesmo comportamento que tem o Brasil em relação a espanhóis.
O preocupante, no caso da Espanha, é que, além de em número crescente, as "denegações de ingresso" têm ocorrido simultaneamente ao que o Itamaraty chama de "tratamento inadequado", o que pode caracterizar uma forma de discriminação.
Na edição de ontem, a Folha publicou o relato da física Patrícia Camargo Magalhães, 23, que pretendia participar de um congresso científico em Lisboa, mas foi deportada de volta ao Brasil depois de passar 53 horas presa no aeroporto de Madri, onde parou apenas para pegar outro avião para Portugal.
O mesmo problema aconteceu com a baiana Camile Gavazza Alves, 34, solteira, formada em turismo, quando tentou chegar a Dublin, na Irlanda, para fazer um curso de inglês com duração prevista de seis meses. Ela usava o aeroporto de Madri apenas como "porta de entrada" ou escala para atingir seu objetivo final, mas foi barrada. Denegado seu ingresso, teve de embarcar de volta. Perdeu o dinheiro investido nos bilhetes aéreos e no curso de inglês.
"Ao chegar a Madri às 8h30 do dia 10, passei pela imigração, onde entreguei a passagem, o bilhete emitido para Dublin e meu passaporte. O fiscal da polícia me perguntou o que eu iria fazer em Dublin e respondi: ""Estudar inglês". Ele então pediu que eu fosse a uma sala para uma entrevista". Foi o começo do fim do curso de inglês para Camile, que ficou detida dois dias no aeroporto.
Ela se lembra que, em dado momento, sentia muita sede. "A todo momento, eu pedia água e eles respondiam que depois dariam água. Mas isso só aconteceu horas depois, no momento em que distribuíram quentinhas frias, que faziam questão de frisar serem pagas pelo governo espanhol."
Tanto Patrícia quanto Camila afirmam não terem recebido ajuda do consulado brasileiro em Madri, apesar de sucessivos telefonemas (só atendidos pela secretária eletrônica) e faxes relatando seus casos, enviados por amigos. Tadeu Breda, 23, que cursa faculdade em Madri, foi pessoalmente até o consulado pedir que intercedesse pela amiga Patrícia. "O segurança que me atendeu disse que eu podia falar com o plantonista pelo celular. Liguei muitas vezes, deixei recados de voz e ninguém me deu retorno."
O cônsul-geral do Brasil em Madri, Gelson Fonseca Júnior, diz ter pedido às autoridades espanholas, no dia 11, por carta e telefone, esclarecimentos: "Solicitamos que se reavaliasse a situação de Patrícia. Reiteramos no dia 12 de fevereiro. Por correio eletrônico, recebemos da estudante relato pormenorizado do processo e das dificuldades que enfrentou no aeroporto de Madri. Seu relato foi encaminhado terça-feira às autoridades espanholas, com pedido de esclarecimentos."
Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa da Embaixada da Espanha não respondeu às ligações.


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