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ANÁLISE
Sem continuidade, método perde eficácia
No afã de superar baixos índices de alfabetização, Estados adotam métodos aligeirados que comprometem a qualidade e a relevância da aprendizagem
MOACIR GADOTTI
ESPECIAL PARA A FOLHA
O "Documento de Incidência
da Sociedade Civil", preparado
pelo Conselho Internacional de
Educação de Adultos e discutido na 4ª Conferência Internacional de Educação de Adultos
da Unesco, realizada em Belém,
no início de dezembro de 2009,
fez um apelo aos Estados "para
superar e ir além das iniciativas
baseadas em alfabetização a
curto prazo e campanhas de
pós-alfabetização".
No afã de superar baixos índices de alfabetização, Estados
vêm adotando métodos aligeirados que comprometem a
qualidade e a relevância da
aprendizagem. As políticas devem ser articuladas no marco
da aprendizagem ao longo de
toda a vida. Sem políticas estruturantes de longo prazo, intersetoriais e integrais, não conseguiremos eliminar o analfabetismo. Os promotores do chamado método cubano "Yo, sí
puedo" (Sim, eu posso) sustentam que podem alfabetizar em
35 dias. Como um processo de
alfabetização intensivo, ele se
utiliza de cartilhas e é marcadamente instrucionista. Podemos
reconhecer a sua eficácia, mas
não podemos deixar de apontar, também, suas limitações
pedagógicas. A avaliação, por
exemplo, não pode se constituir apenas de uma prova final
ou da cópia de uma carta.
Como um instrumento inicial de promoção da alfabetização, ele pode ter efeitos positivos. Contudo, sem uma continuidade, esse método, a médio
prazo, perde a eficácia inicial.
As campanhas gerais, notadamente com voluntários e na
base de muita mídia, desconsideram os diferentes contextos
regionais e a diversidade cultural dos aprendizes. A utilização
de novas tecnologias não deve
quebrar a relação pedagógica.
Nada substitui o alfabetizador.
A alfabetização é multifacetada. Não há uma só alfabetização como não há nenhum método milagroso. Existem várias
alfabetizações: digital, cívica,
ecológica, política... Há conhecimentos sensíveis, técnicos,
simbólicos. O combate ao analfabetismo não se reduz à política de escolha de um método. A
educação de adultos, a começar
pela alfabetização, é um direito
que deve ser garantido a todos e
com qualidade.
MOACIR GADOTTI é professor da Faculdade de
Educação da USP e diretor do Instituto Paulo Freire
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