São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2004

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URBANIDADE

Se essa rua fosse deles

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Felippe Naufel é traumatizado com shopping center. Tinha uma papelaria no Morumbi, ia tudo bem, até que construíram um shopping que lhe tirou a freguesia. Foi para Moema, onde, mais uma vez, esse mesmo tipo de concorrência o levou a transferir sua loja. Instalado na Joaquim Floriano, no Itaim Bibi, ouviu rumores de que talvez um shopping viesse a ser erguido nas redondezas. Preferiu, então, não mais se mudar. Mudou a rua.
Presidente da associação de comerciantes da João Cachoeira, Naufel lançou uma ofensiva preventiva. "Em nossas pesquisas, os clientes diziam que se incomodavam com a situação das calçadas, da iluminação, da segurança. E, por isso, se sentiam atraídos pelos shoppings."
Os comerciantes fizeram, no ano passado, uma "vaquinha" e, com a ajuda da prefeitura, alargaram as calçadas, criaram acesso para os deficientes, enterraram parte da fiação debaixo da terra, montaram um sistema unificado de segurança. Nos canteiros, plantaram-se pitangas e resedás.
O resultado foi rápido: um aumento de 11% nas vendas no último trimestre em comparação com o mesmo período do ano anterior. "Viramos um modelo", orgulha-se. De fato, vários comerciantes da cidade estão acompanhando de perto o que acontece ali e buscam parcerias para melhorar suas ruas e garantir clientes.
Já neste ano, devem estar concluídas as reformas da 25 de Março, no centro, da Normandia, em Moema, e da São Caetano (a rua das noivas), também no centro, na Luz.
Desta vez não por causa de um shopping, Naufel viu-se, neste mês, obrigado a mudar de local de trabalho. Sua experiência fez com que ele fosse convidado pela prefeitura para ajudar a revitalizar outras ruas comerciais da cidade. A lista de interessadas engloba José Paulino, Augusta e Oscar Freire, entre muitas outras ruas comerciais.
"É um bom negócio para todos. Para os lojistas, que atraem clientes, e para a cidade, que valoriza as suas ruas, evitando que se deteriorem. Muitos comerciantes perceberam que, se quiserem ficar com as suas lojas, vão ter de tratar a rua como se ela fosse deles."

E-mail - gdimen@uol.com.br

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