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SAÚDE
Com fracasso de projeto, governo agora vai permitir venda em drogarias e sem inspeção específica para programa
Lula abranda regra para fracionar remédios
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Diante do fracasso da política
nacional de fracionamento de remédios, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT), em ano eleitoral, flexibilizará as exigências sanitárias da proposta e irá fazer
uma espécie de "relançamento"
do projeto em maio.
A Folha apurou que, entre as
mudanças para fazer os remédios
fracionados deslancharem, está a
que permite a venda não só em
farmácias como também nos estabelecimentos chamados de drogarias, que hoje não têm autorização para manipular medicamentos e preparar fórmulas, mas apenas para vender o remédio pronto. As drogarias vão poder fazer o
fracionamento de medicamentos,
desde que quem execute isso seja
um farmacêutico.
A nova regra permitirá ainda
que os estabelecimentos não precisem mais de uma licença especial da vigilância sanitária para
poder fracionar medicamentos,
hoje obtida mediante inspeção.
Existem atualmente cerca de 56
mil farmácias e drogarias no país.
Com as mudanças, na prática as
drogarias serão equiparadas às
farmácias, pois poderão manipular remédios. O governo quer alcançar as grandes redes de drogarias, presentes nos grandes centros e com mais condições de divulgar os fracionados.
O fracionamento prevê que o
consumidor possa comprar exatamente a quantidade receitada
pelo médico. Hoje, muitas vezes o
profissional indica, por exemplo,
três comprimidos, e o consumidor é obrigado a comprar uma
caixa. Com o fracionamento, pode levar uma quantidade menor,
como só um comprimido, gastar
menos, evitar o desperdício, a automedicação e mesmo acidentes.
Em janeiro do ano passado Lula
autorizou o fracionamento de remédios no Brasil via decreto como uma das principais medidas
para melhorar o acesso a medicamentos. Em maio do mesmo ano,
a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicou regulamentação a respeito do tema
que previa, por exemplo, que só
farmácias, que hoje são as únicas
a poder manipular remédios, pudessem fracionar medicamentos,
e sempre por meio do farmacêutico. Além disso, elas necessitariam
de uma licença especial para poder oferecer o benefício.
Já naquela época, com regras
mais rígidas, houve preocupação,
uma vez que muitas farmácias,
contrariando a lei, não dispõem
de farmacêutico.
O fracionamento, no entanto,
não "decolou". Hoje, há apenas 13
produtos, dos laboratórios Medley e EMS, com embalagens para
fracionamento autorizadas pela
Anvisa. Mas a maior parte dessa
produção está parada em distribuidores porque não há farmácias para escoar a venda. A agência tem registrados cerca de 12 mil
produtos -em teoria, grande
parte poderia ser fracionada.
Segundo especialistas e integrantes do próprio governo, o fracionamento fracassou na primeira tentativa em razão da ausência
de vontade política. Não houve
divulgação, campanha. E, além
disso, contribuíram os custos e a
burocracia para obter a licença.
"Houve dificuldades de adequação. A Anvisa exigia o pagamento
de taxas, o custo [para implantar
o fracionamento] poderia chegar
a R$ 2.000 para cada farmácia",
afirmou José Amazonas Gaspar,
presidente da Farma & Farma, associação de farmácias de Santa
Catarina que foi a primeira a se interessar pelo fracionamento.
No caso da Farma & Farma, 70
estabelecimentos da associação
pediram, em outubro do ano passado, autorização à Anvisa para
fracionar, mas até hoje nenhuma
delas conseguiu começar a vender
em razão da burocracia.
Sem ter onde vender drogas fracionadas, a indústria, que já apresentou restrições à medida, não
produziu embalagens para fracionar, como um invólucro com um
comprimido. Segundo a Febrafarma, que reúne os laboratórios
farmacêuticos, as indústrias irão
aderir ao fracionamento à medida
que houver locais para escoar a
produção. A Folha não conseguiu
ouvir representantes do Ministério da Saúde.
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