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OPINIÃO
Rap do big brother
JACOB PINHEIRO GOLDBERG
Walter Benjamin escreveu que,
"como existem muitos caminhos,
estamos sempre na encruzilhada". A permissão da liberdade é
um distintivo da modernidade.
Que, por definição, é o contrário
da "mudernidade".
Mas, infelizmente, é a Esparta de
araque, triunfal e arrogante, que
se antecipa. Na escola, o medíocre,
professor ou aluno, instaura sua
Ordem. A mesma Ordem da Força
(em maiúsculo, mesmo) que leva
o motoboy a invadir a calçada, tirar "fina" da criança e achar graça. Acha graça daquela Graça, expulsa dos espaços ingênuos do sonho político de um país vivível.
Na saúde, a avacalhação pública
e privada em que o paciente fica
entre consumido e consumidor,
mas nunca tem a dignidade (que
coisa velha, sem globalidade); o
sofrimento que demanda solidariedade, antes de remédio.
Na rua, o trânsito enlouquecido,
perfil da ansiedade que corre em
direção a lugar nenhum. Já que,
no conceito de Castañeda, tudo
caminha para o mesmo destino, o
de hoje é o desemprego fatal.
Mas orgulhoso, arrebentando,
brother, xingando, gritando, balançando na TV boçal, o arreganho no deboche de si mesmo, do
mundo e do imundo. OK (com sotaque de Miami), mas e a contrapartida? O "flaneur", o Vagabundo (em maiúsculas): o que vaga-o-mundo, damas e cavalheiros
de toda a Terra. O excluído, pataxó, padre missionário, sem-terra,
professora, negro, branco, heterossexual, homossexual, assexuado, a gente comum que pensa e
sente, exilada por Atenas.
Diz a ciência mais avançada que
talvez (sempre a dúvida dos que
duvidam) a Ordem seja desordeira, teoria do caos. E que a disciplina corresponda à paranóia, necessidade de adivinhar uma organização que inexiste.
O metabolismo do provérbio
árabe -"o homem não é a mão
que lança a flecha, mas a flecha
que foi lançada". Maktub. Precisamos aprender a conviver na maleabilidade, sem molecagem.
Um coro (e a figura grega se impõe) indaga, do suburbano ao
aristocrata, se este Brasil tem jeito,
uma forma singular de responder
ao crônico e ao crítico de todas as
nossas dificuldades. Que a resposta não virá das instituições, já sabemos. Estamos cientes de que
não tem eco na triste imagética
dum passado irresponsável.
Mas quem sabe um tímido duelo
"cucaracha versus caubói" pode
prometer. Principalmente se a vitória couber a um Quixote, assistido pelo Macunaíma, o herói sem
caráter.
Jacob Pinheiro Goldberg, 64, advogado e assistente social, é doutor em psicologia pela Universidade Mackenzie e autor de "Historic Invention and Psychological Understanding of Jesus".
E-mail: goldberg@uol.com.br
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