São Paulo, domingo, 21 de maio de 2000


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CRISE
Para tirar catadores de lixão, Ministério Público obriga Prefeitura de Ribeirão Preto (SP) a abrir vagas alternativas
Promotoria manda criar frente de trabalho

ALESSANDRO BONASSOLI
DA FOLHA RIBEIRÃO

O Ministério Público de Ribeirão Preto (SP) deu prazo até amanhã para que a prefeitura crie uma frente de trabalho e retire 71 famílias do lixão municipal.
Desempregados, pais e mães de família não só de Ribeirão, mas de outras cidades da região, como Franca, Cravinhos e Colina, vasculham aterros e lixões clandestinos em busca de comida e de material reciclável para vender.
Os catadores de lixo da cidade afirmam que ganham até R$ 200 mensais vendendo o que recolhem no aterro.
"Não vou admitir mais o retorno dessas pessoas para o aterro sanitário", afirma o promotor Marcelo Pedroso Goulart.
O promotor cadastrou as famílias durante uma vistoria no aterro, na semana retrasada.
Caso a administração não cumpra o determinado pelo Ministério Público, a prefeitura pode sofrer sanções, como multa ou até ação civil.
De acordo com o chefe de governo da cidade, Osvaldo Ceoldo, não existem verbas nos cofres públicos para a criação de uma nova frente de trabalho.
"Nós temos uma limitação financeira. Não é porque a pessoa está desempregada que a prefeitura tem de arrumar um solução para isso. Não é tão simples assim", declara.
A tentativa de afastar as pessoas dos lixões nem sempre é bem-sucedida. Em Franca, o Ministério Público decidiu acabar com a presença de catadores nos dois aterros da cidade.
Desde o último dia 17, seguranças armados vigiam o local para impedir a entrada. Expulsos, os trabalhadores do lixo estão agora no aterro de resíduos industriais e em um lixão não-oficial.

Fenômeno regional
No total, em todas as cidades da região, que é a quarta mais importante do Estado, 90 famílias vivem de buscar restos de alimentos e materiais recicláveis. Na semana passada, quase houve um confronto entre PMs e famílias que iam buscar comida no aterro de Ribeirão Preto.
A restrição de acesso também foi adotada em Bebedouro, São Carlos e Araraquara, que prendeu catadores.
"A intenção não era impedir que as pessoas trabalhassem, mas evitar o perigo da disseminação de doenças", declara o promotor do Meio Ambiente de São Carlos, Denílson Souza Freitas.
Sem emprego há mais de três anos, a ex-doméstica Marta Goulart de Farias, 22, diz sentir orgulho por estar se alimentando.
"Tudo o que eu como vem do lixão. Os produtos estão perfeitos porque a gente leva os pacotes que estão fechados", afirma ela, que também alimenta dois filhos com o que coleta diariamente no aterro sanitário de Ribeirão.
Segundo Marta, o número de trabalhadores do lixo cresceu depois que uma carga de bacalhau foi levada ao aterro. Mesmo considerado impróprio ao consumo humano, o bacalhau foi parar na mesa de Marta. "Não sobrou nem para o cachorrinho."


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