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CRISE
Para tirar catadores de lixão, Ministério Público obriga Prefeitura de Ribeirão Preto (SP) a abrir vagas alternativas
Promotoria manda criar frente de trabalho
ALESSANDRO BONASSOLI
DA FOLHA RIBEIRÃO
O Ministério Público de Ribeirão Preto (SP) deu prazo até amanhã para que a prefeitura crie
uma frente de trabalho e retire 71
famílias do lixão municipal.
Desempregados, pais e mães de
família não só de Ribeirão, mas de
outras cidades da região, como
Franca, Cravinhos e Colina, vasculham aterros e lixões clandestinos em busca de comida e de material reciclável para vender.
Os catadores de lixo da cidade
afirmam que ganham até R$ 200
mensais vendendo o que recolhem no aterro.
"Não vou admitir mais o retorno dessas pessoas para o aterro
sanitário", afirma o promotor
Marcelo Pedroso Goulart.
O promotor cadastrou as famílias durante uma vistoria no aterro, na semana retrasada.
Caso a administração não cumpra o determinado pelo Ministério Público, a prefeitura pode sofrer sanções, como multa ou até
ação civil.
De acordo com o chefe de governo da cidade, Osvaldo Ceoldo,
não existem verbas nos cofres públicos para a criação de uma nova
frente de trabalho.
"Nós temos uma limitação financeira. Não é porque a pessoa
está desempregada que a prefeitura tem de arrumar um solução
para isso. Não é tão simples assim", declara.
A tentativa de afastar as pessoas
dos lixões nem sempre é bem-sucedida. Em Franca, o Ministério
Público decidiu acabar com a presença de catadores nos dois aterros da cidade.
Desde o último dia 17, seguranças armados vigiam o local para
impedir a entrada. Expulsos, os
trabalhadores do lixo estão agora
no aterro de resíduos industriais e
em um lixão não-oficial.
Fenômeno regional
No total, em todas as cidades da
região, que é a quarta mais importante do Estado, 90 famílias vivem
de buscar restos de alimentos e
materiais recicláveis. Na semana
passada, quase houve um confronto entre PMs e famílias que
iam buscar comida no aterro de
Ribeirão Preto.
A restrição de acesso também
foi adotada em Bebedouro, São
Carlos e Araraquara, que prendeu
catadores.
"A intenção não era impedir
que as pessoas trabalhassem, mas
evitar o perigo da disseminação
de doenças", declara o promotor
do Meio Ambiente de São Carlos,
Denílson Souza Freitas.
Sem emprego há mais de três
anos, a ex-doméstica Marta Goulart de Farias, 22, diz sentir orgulho por estar se alimentando.
"Tudo o que eu como vem do lixão. Os produtos estão perfeitos
porque a gente leva os pacotes
que estão fechados", afirma ela,
que também alimenta dois filhos
com o que coleta diariamente no
aterro sanitário de Ribeirão.
Segundo Marta, o número de
trabalhadores do lixo cresceu depois que uma carga de bacalhau
foi levada ao aterro. Mesmo considerado impróprio ao consumo
humano, o bacalhau foi parar na
mesa de Marta. "Não sobrou nem
para o cachorrinho."
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