São Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 2004

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AVIAÇÃO

Falha no sistema de pressurização da aeronave deixou vítimas com ferimentos no tímpano e sangramentos no nariz

Passageiros ficam feridos em vôo da Vasp

DA REPORTAGEM LOCAL
DO "AGORA"

Tímpanos feridos, sangramento no nariz, derrame nos olhos, dor de cabeça, hipertensão. Devido a um problema no sistema de pressurização, 69 passageiros de um vôo da Vasp passaram mal na noite de anteontem, logo após a decolagem no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (Grande SP) com destino a Fortaleza (CE) e Recife (PE).
O avião chegou a decolar duas vezes. Na primeira, às 18h30, o problema foi detectado e o avião voltou ao aeroporto de Guarulhos. Às 23h24, a aeronave decolou novamente. Cerca de dez minutos depois, os passageiros começaram a passar mal.
De acordo com a Vasp, havia 69 passageiros a bordo. Segundo o DAC (Departamento de Aviação Civil), eram 102. A Infraero informou que o posto médico do aeroporto registrou ter atendido 69 pessoas do vôo.
Outra contradição é relacionada ao vôo. Segundo a Vasp, as duas decolagens são referentes ao vôo 4374, com os mesmos passageiros. De acordo com a Infraero, são dois vôos diferentes. Quando o vôo 4374, das 18h30, voltou, os passageiros foram transferidos para outro avião e partiram. A aeronave, então, foi destinada ao vôo 4270, também para Fortaleza e Recife, que estava previsto para as 20h40, mas só saiu às 23h24.
Devido ao problema de pressurização, o representante comercial Robson Paiva, 33, sofreu derrame no olho direito. A estudante Ariele Milet do Amaral, 21, teve os dois tímpanos feridos. "Eu pensei que ia endoidar com tanta dor", disse a dona-de-casa Michele Lisboa Fragoso, 26, que ia para Recife com a mãe, dois filhos e dois sobrinhos. "As crianças choravam sem parar e eu pedia calma." No posto médico do aeroporto, ela descobriu que as crianças haviam sofrido ferimentos nos tímpanos.
Um dos feridos mais graves era o administrador de empresas Aderaldo Campos, 61, que teve sangramentos no nariz e no ouvido. "Fiquei muito nervoso, ainda mais quando vi o sangue."
Pessoas que tiveram problemas no ouvido, como ele, foram aconselhadas a não viajar de avião durante uma semana. "Eu ia a Recife para o aniversário da minha mãe, no dia 22, e agora não poderei mais", disse a designer Rosimeire Maria da Cunha Oliveira, 40, que teve um tímpano perfurado.
Os passageiros acusaram a empresa de ter agido com negligência e descaso. A empresa nega as acusações. A maioria dos passageiros passou a madrugada no aeroporto até ser transferida para um hotel ou embarcar em outro vôo. De acordo com eles, as máscaras de oxigênio não foram liberadas e os tripulantes não informaram qual era o problema até a aterrissagem. As informações também foram contestadas pela empresa.
"Falha técnica é normal em qualquer aeroporto do mundo, o que não é normal é o completo abandono dos passageiros, como aconteceu aqui", afirmou o publicitário Ranufo Cunha, 48. Ele não sofreu ferimentos, mas perdeu uma reunião devido ao atraso.
A manutenção do avião (um Boeing 737-200) deve ser concluída amanhã e está sendo acompanhada pelo DAC. A liberação para novos vôos dependerá de inspeção do DAC, que já foi iniciada.
De acordo com o sindicato dos aeroviários, a frota de aviões da empresa é muito antiga e precisa passar por uma manutenção urgente ou ser substituída. "A frota de aviões da Vasp é uma das que mais nos preocupam. É geriátrica", diz Selma Balbino, presidente dos sindicato dos aeroviários.
Segundo Marques Peixoto, agente de segurança do sindicato dos aeronautas, os aviões da Vasp têm em média 30 anos. "As aeronaves são as mesmas da década de 70. Recebemos muitas denúncias a respeito de má manutenção."
Segundo o DAC, se um avião passar por todas as manutenções e inspeções exigidas pelo fabricante e pelo próprio DAC, ele pode ser utilizado por quanto tempo for necessário sem problemas de segurança.


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