São Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 2004

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ADMINISTRAÇÃO

Para prefeita, ato foi "orquestrado" por "demônios do passado'; sindicato reconhece que organizou manifestantes

Camelôs protestam e jogam ovos em Marta

DA REPORTAGEM LOCAL

A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy (PT), enfrentou ontem um protesto de camelôs, que atiraram ovos contra ela, durante visita à região de Guaianazes (zona leste). A prefeita não foi atingida diretamente, mas um dos ovos arremessados quebrou sobre o capô de seu carro, e a petista foi acertada por alguns respingos.
Marta e sua assessoria de imprensa, no entanto, negaram que respingos de ovos tivessem alcançado a prefeita. "Não fui atingida", afirmou ela.
A manifestação teve início durante visita da petista ao Shopping Popular, uma iniciativa de ex-ambulantes, que alugaram um prédio particular e montaram os boxes. Marta foi afrontada por cerca de 150 camelôs, que a ofenderam verbalmente. A prefeita, então, saiu pela porta de trás do shopping e entrou no Núcleo de Defesa e Convivência da Mulher para a sua inauguração.
Os manifestantes furaram o bloqueio organizado pela Guarda Civil Metropolitana na rua de acesso ao local e cercaram o carro de Marta, que entrou no veículo sob uma chuva de ovos.
Os camelôs ainda atiraram pedras nos guardas e chutaram o carro que levava a prefeita. O protesto foi controlado com a chegada de um carro da Polícia Militar, que escoltou o veículo de Marta.
"Manifestação é algo democrático, mas, quando existe uma mão organizadora, quando há violência, é absolutamente inadmissível", disse a prefeita. "Foi algo orquestrado", declarou, atribuindo a organização do protesto a "demônios do passado".
Três repórteres de diferentes rádios afirmaram que, durante o tumulto, sentiram falta de ar e queimação no nariz e na garganta por conta do uso de gás de pimenta, mas não souberam identificar se quem lançou o gás foi a PM, a Guarda Municipal ou os camelôs.
A prefeitura, a PM e a Guarda informaram que não foi utilizado spray de pimenta na contenção do protesto. "Isso não teve. Imagine", disse Marta. "Se teve, isso faz parte dessa ação orquestrada."

Ambulantes
Camelôs que trabalham nas ruas próximas ao Shopping Popular disseram que foi um protesto contra o modo como a prefeitura tem tratado os ambulantes. "Veio um aviso da Subprefeitura de Guaianazes para a gente sair daqui até o dia 28. Nós queremos trabalhar, é tudo gente de bem. Mas a gente não tem condições de pagar para ficar no shopping. O ovo foi por causa da revolta que os camelôs estão contra ela", afirmou um ambulante que se identificou como Valdir.
Outra camelô, que não quis se identificar, contou que trabalha há 15 anos na passarela da praça Getúlio Vargas, no centro de Guaianazes. Ela disse que não quer sair da rua para ir para um local fechado e ter que pegar empréstimo para pagar aluguel. O aluguel dos boxes varia de R$ 70 a R$ 185 por mês.
A organização do protesto contou com a ajuda do Sindicato dos Camelôs Independentes de São Paulo, que enviou representantes e um grupo de "militantes" em uma perua. No entanto, o presidente do sindicato, Afonso José da Silva, 34, pré-candidato a vereador pelo PC do B, condenou a atitude de seus companheiros.
"Foi uma atitude descontrolada da categoria, que está revoltada por ter que pagar para ficar em um shopping ou ter que sair da rua. A prefeitura não deu outra opção para eles. Não tivemos tempo de impedir que eles agredissem a prefeita", disse.
Anteontem, o sindicato fez uma reunião com os camelôs para combinar como seria o protesto e as reivindicações. "Eles nos avisaram que fariam um protesto, que queriam pedir para a prefeita para continuarem trabalhando na rua, mas não sabíamos que seria desse jeito", conta o ex-ambulante e presidente do shopping, Jaime Aparecido de Oliveira, 38.
(FERNANDA MENA e SIMONE IWASSO)


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