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ADMINISTRAÇÃO
Para prefeita, ato foi "orquestrado" por "demônios do passado'; sindicato reconhece que organizou manifestantes
Camelôs protestam e jogam ovos em Marta
DA REPORTAGEM LOCAL
A prefeita de São Paulo, Marta
Suplicy (PT), enfrentou ontem
um protesto de camelôs, que atiraram ovos contra ela, durante visita à região de Guaianazes (zona
leste). A prefeita não foi atingida
diretamente, mas um dos ovos arremessados quebrou sobre o capô
de seu carro, e a petista foi acertada por alguns respingos.
Marta e sua assessoria de imprensa, no entanto, negaram que
respingos de ovos tivessem alcançado a prefeita. "Não fui atingida", afirmou ela.
A manifestação teve início durante visita da petista ao Shopping Popular, uma iniciativa de
ex-ambulantes, que alugaram um
prédio particular e montaram os
boxes. Marta foi afrontada por
cerca de 150 camelôs, que a ofenderam verbalmente. A prefeita,
então, saiu pela porta de trás do
shopping e entrou no Núcleo de
Defesa e Convivência da Mulher
para a sua inauguração.
Os manifestantes furaram o
bloqueio organizado pela Guarda
Civil Metropolitana na rua de
acesso ao local e cercaram o carro
de Marta, que entrou no veículo
sob uma chuva de ovos.
Os camelôs ainda atiraram pedras nos guardas e chutaram o
carro que levava a prefeita. O protesto foi controlado com a chegada de um carro da Polícia Militar,
que escoltou o veículo de Marta.
"Manifestação é algo democrático, mas, quando existe uma mão
organizadora, quando há violência, é absolutamente inadmissível", disse a prefeita. "Foi algo orquestrado", declarou, atribuindo
a organização do protesto a "demônios do passado".
Três repórteres de diferentes rádios afirmaram que, durante o tumulto, sentiram falta de ar e queimação no nariz e na garganta por
conta do uso de gás de pimenta,
mas não souberam identificar se
quem lançou o gás foi a PM, a
Guarda Municipal ou os camelôs.
A prefeitura, a PM e a Guarda
informaram que não foi utilizado
spray de pimenta na contenção
do protesto. "Isso não teve. Imagine", disse Marta. "Se teve, isso
faz parte dessa ação orquestrada."
Ambulantes
Camelôs que trabalham nas
ruas próximas ao Shopping Popular disseram que foi um protesto contra o modo como a prefeitura tem tratado os ambulantes.
"Veio um aviso da Subprefeitura
de Guaianazes para a gente sair
daqui até o dia 28. Nós queremos
trabalhar, é tudo gente de bem.
Mas a gente não tem condições de
pagar para ficar no shopping. O
ovo foi por causa da revolta que os
camelôs estão contra ela", afirmou um ambulante que se identificou como Valdir.
Outra camelô, que não quis se
identificar, contou que trabalha
há 15 anos na passarela da praça
Getúlio Vargas, no centro de
Guaianazes. Ela disse que não
quer sair da rua para ir para um
local fechado e ter que pegar empréstimo para pagar aluguel. O
aluguel dos boxes varia de R$ 70 a
R$ 185 por mês.
A organização do protesto contou com a ajuda do Sindicato dos
Camelôs Independentes de São
Paulo, que enviou representantes
e um grupo de "militantes" em
uma perua. No entanto, o presidente do sindicato, Afonso José
da Silva, 34, pré-candidato a vereador pelo PC do B, condenou a
atitude de seus companheiros.
"Foi uma atitude descontrolada
da categoria, que está revoltada
por ter que pagar para ficar em
um shopping ou ter que sair da
rua. A prefeitura não deu outra
opção para eles. Não tivemos
tempo de impedir que eles agredissem a prefeita", disse.
Anteontem, o sindicato fez uma
reunião com os camelôs para
combinar como seria o protesto e
as reivindicações. "Eles nos avisaram que fariam um protesto, que
queriam pedir para a prefeita para
continuarem trabalhando na rua,
mas não sabíamos que seria desse
jeito", conta o ex-ambulante e
presidente do shopping, Jaime
Aparecido de Oliveira, 38.
(FERNANDA MENA e SIMONE IWASSO)
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