São Paulo, quinta, 21 de maio de 1998

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Decisão foi tomada em assembléia que fechou pista da avenida Paulista na tarde de ontem
Acaba a greve na rede estadual de SP

RENATO KRAUSZ
da Reportagem Local

Os professores de 1º e 2º graus da rede estadual de São Paulo decidiram suspender a greve iniciada no último dia 11. A decisão foi tomada ontem à tarde na avenida Paulista, numa conturbada assembléia que precisou da intervenção da Polícia Militar para não acabar em pancadaria.
O conselho da Apeoesp (sindicato dos professores) já havia decidido pela suspensão do movimento e colocou a proposta em votação na assembléia, onde estavam reunidas 5.000 pessoas, segundo os sindicalistas. Na avaliação da PM, eram 1.500.
Os professores e alguns estudantes que acompanhavam a assembléia jogavam latas, papéis e espigas de milho contra o ônibus que servia de carro de som durante os discursos dos que defendiam o fim da greve.
Na votação, no entanto, saiu vitoriosa a proposta de acabar com o movimento.
Pouco depois da votação, por volta das 16h15, começou um tumulto maior, quando o presidente da Apeoesp, Roberto Felício, disse que a assembléia havia terminado.
A oposição à diretoria do sindicato afirmou que um grupo de skinheads estava presente para fazer segurança a Felício.
Os professores, ajudados pelos alunos, expulsaram os skinheads e a polícia precisou protegê-los para que não fossem agredidos.
Felício negou ter contratado seguranças. Os skinheads, por sua vez, disseram que são estudantes e que estavam ali para apoiar o movimento. Para a polícia, no entanto, eles confirmaram que são seguranças, segundo o major Roberto Mantovan, da PM.
Logo após ao incidente com os skinheads, os professores tentaram virar o carro de som, onde estavam Felício e outros diretores do sindicato, além de alguns jornalistas. O ônibus balançou, mas não virou. Os policiais cercaram o veículo, que acabou deixando o local sob vaias.
De acordo com Felício, o conselho propôs o encerramento da greve devido ao enfraquecimento que o movimento sofreu desde a última quinta-feira.
Segundo ele, a adesão na capital e na Grande São Paulo caiu de 35% para 15% e, no interior, de 20% para 4%. "Fazendo uma média ponderada para o Estado todo, ficamos com menos de 10% de adesão à greve", disse.
Para a Secretaria de Estado da Educação, o movimento ontem estava com 0,79% das 6.079 escolas totalmente paradas e 3,88%, parcialmente. Ao contrário da Apeoesp, durante a greve a secretaria só divulgou balanços de escolas atingidas e não de professores parados.
Os grevistas acabaram com o movimento sem conseguir o que queriam, que era revogar o decreto 42.965/98, que regula a contratação de professores e prevê o desligamento dos professores contratados em caráter temporário -sem concurso- no final do ano letivo.
Na opinião da Apeoesp, o decreto pode causar a demissão de 120 mil professores temporários, metade do número total de professores na rede.
Para a secretaria, há uma interpretação errada do decreto, que vale apenas para os professores temporários que estão substituindo professores efetivos em licença médica, férias ou licença-maternidade.
Segundo Felício, com o fim da greve, a Apeoesp vai agora lutar de outras formas contra o decreto. A principal delas vai ser pressionar a Assembléia Legislativa para aprovar um projeto de decreto legislativo -já em tramitação- que substitui o decreto 42.965.
Para o professor Antônio Carlos Silva, coordenador do movimento de oposição à diretoria da Apeoesp, essa pressão não vai adiantar nada. "O Covas tem maioria na Assembléia", diz.
Segundo ele, a diretoria do sindicato patrocinou uma sabotagem à greve. "Eles (os diretores) manipularam a categoria e não colocaram ônibus suficientes para trazer os professores para a assembléia de hoje (ontem)."
Em relação ao tumulto, Silva afirmou que ele não partiu do movimento de oposição, mas disse que ele é justificável pela situação de desespero em que se encontram os professores.



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