São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 2002

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AMBIENTE

Mauá, Bauru e Cidade dos Meninos serão analisadas

Funasa avalia risco à saúde para morador de área contaminada

MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil tem no mínimo 4.000 áreas poluídas por resíduos perigosos, segundo estimativas da Vigilância Ambiental em Saúde da Funasa (Fundação Nacional de Saúde). Das 250 já cadastradas pelo órgão, seis foram selecionadas e integram um projeto-piloto de avaliação do risco à saúde para quem mora nesses locais.
Entre os "eleitos" estão o Residencial Barão de Mauá, construído em cima de um aterro industrial clandestino na Grande São Paulo; Bauru (343 km de SP), onde a fábrica de baterias Ajax é acusada de emitir chumbo em altas concentrações, contaminando pelo menos 162 crianças; e Cidade dos Meninos, em Duque de Caxias (RJ), contaminada nos anos 50 por um inseticida produzido pelo próprio Ministério da Saúde.
A Funasa quer, até o fim do ano, ter identificado o tipo e o grau de contaminação ambiental dessas regiões, por que vias a população pode ter contato com os produtos perigosos e se a saúde humana já foi afetada. O objetivo é decidir qual será o futuro dos moradores.
"A preocupação é que se determine se eles devem sair do local ou, se puderem ficar, o que tem de ser feito para acompanhar a sua saúde e diminuir a exposição aos tóxicos", diz Guilherme Franco Netto, coordenador-geral da Vigilância Ambiental em Saúde.
A avaliação das pessoas é feita por exames laboratoriais, químicos e toxicológicos, em parceria com os órgãos locais de saúde.
Integram o projeto-piloto também as cidades de Santana (AP), onde arsênio decorrente da extração de manganês na Serra do Navio contaminou a água; Santo Amaro da Purificação (BA), poluída pela deposição a céu aberto de 500 mil t de escória de chumbo; e Goiânia (GO), onde, em 1988, uma cápsula de Césio-137 acabou matando quatro e afetando a saúde de mais de 1.600 pessoas.
Os critérios para a escolha das regiões foram o alto grau de contaminação, a existência de um número significativo de pessoas expostas e solicitações feitas pelas secretarias estaduais de Saúde.
A intenção, diz Netto, é expandir o projeto, em parceria com os Estados e municípios, para todas as áreas poluídas identificadas. Uma das próximas pode ser a Vila Carioca (zona sul de SP), cujos subsolo e água subterrânea foram contaminados pela Shell.
Para tanto, ele avalia, porém, ser preciso consolidar a metodologia, já usada há mais de 20 anos pela ATSDR, sigla em inglês para Agência de Registro de Doenças Causadas por Substâncias Tóxicas, do governo dos EUA.
A Funasa está investindo R$ 150 mil no projeto-piloto.
Para os moradores do Barão de Mauá, a notícia da entrada em cena do órgão federal veio como uma boa surpresa tardia. "Vemos com bons olhos porque parece que todos nos abandonaram. Antes tarde do que nunca", diz Tânia Regina da Silva, 43, síndica da sétima etapa do condomínio.
Perto do "aniversário" de um ano da denúncia da contaminação, ela conta que a vida lá voltou ao normal, mas que as pessoas ainda se sentem desinformadas. "Quem sabe a Funasa consiga nos dar uma certa tranquilidade."
A retirada e tratamento dos vapores do solo, entre eles o cancerígeno benzeno, vem ocorrendo desde fevereiro e uma ação civil pública contra as construtoras do residencial corre na Justiça.



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