São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 2002

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SEGURANÇA

Polícia Militar de Minas ajuda a descobrir casa onde ficavam os equipamentos que passavam ligações para o traficante

PF estoura central telefônica de Beira-Mar

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

A PF (Polícia Federal) e a PM (Polícia Militar) estouraram anteontem em Contagem (região metropolitana de Belo Horizonte) a central telefônica clandestina que estaria sendo usada pelo traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-mar, preso em Bangu 1 (zona oeste do Rio).
Claiton Rubens Rocha, 26, foi preso. Segundo a PF, ele é foragido da Justiça e dono da casa onde funcionava a central.
A operação "Bangu", realizada em Minas Gerais, foi um desdobramento da investigação do Ministério Público Estadual do Rio.
A apuração comprovou, com base em gravações telefônicas, que os presos telefonavam livremente de Bangu 1, controlando seus negócios de drogas e encomendando até um míssil Stinger.
Numa busca realizada segunda-feira no presídio foram apreendidos sete celulares, além de equipamentos, conexões telefônicas, maconha e facas artesanais.
Segundo o Ministério Público, quem quisesse falar com Beira-Mar e seus homens ligava para a central em Minas Gerais, que, graças ao dispositivo siga-me, transferia a chamada para os celulares dos traficantes presos.
Na casa de Contagem foi encontrada uma agenda com nomes, telefones e números de matrícula de presos em vários Estados brasileiros. Havia também equipamentos, fotos e documentos.
O material está sendo submetido a perícia em Minas. Preso na operação, Rocha já prestou depoimento e se negou a dar qualquer informação.
Outros dois endereços foram vasculhados pelos policiais mineiros, um também em Contagem e um em Belo Horizonte, cuja casa pertence a Josias José de Almeida, que cumpre pena em Ribeirão das Neves (MG). Foram encontrados apenas pedaços de fiação telefônica.
Beira-Mar tem muitos contatos em Minas. Chegou a fazer a "Rota do Triângulo", usando cidades do Triângulo Mineiro como rota de tráfico. Lá paravam os aviões que traziam cocaína boliviana para abastecer favelas do Rio.
A ligação de Beira-Mar com criminosos mineiros começou em 1994, quando, perseguido pela polícia do Rio, o traficante se refugiou em Minas Gerais.
Desconhecido e endinheirado, Beira-Mar se radicou em Betim (região metropolitana da capital mineira), onde passou a se dedicar à construção civil -uma fachada para o tráfico, segundo a polícia mineira.
O traficante foi preso na capital mineira em junho de 1996 e condenado a 12 anos de prisão por tráfico. Em março de 1997, ele fugiu da cadeia.
Com o auxílio de informações da polícia brasileira, na terça-feira policiais do Suriname prenderam o colombiano Eugenio Vargas, o Carlos Bolas, acusado de ser um dos vendedores de droga para Beira-Mar. Vargas já está sob custódia da DEA (órgão do governo dos EUA encarregado do combate às drogas).

Propina
O corregedor-geral da Secretaria da Segurança do Rio, Aldinei Zacarias Peixoto, pediu ao Ministério Público Estadual as gravações em que traficantes combinam pagamento de propina a policiais militares.
Os telefonemas rastreados mostram Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, e Marcos Marinho dos Santos, o Chapolim, orientando o também traficante conhecido como Índio -que atuaria em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense- sobre o suborno de policiais.
De acordo com a conversa, os policiais, que, segundo o comandante da PM do Rio, coronel Francisco Braz, seriam do 15º Batalhão (Caxias), receberiam R$ 100 e R$ 500 para que não atrapalhassem a venda de drogas.
Índio também é orientado a não pagar propina a policiais que moram nas favelas próximas. Eles deveriam colaborar como forma de garantir a própria sobrevivência e a da família.
Como os criminosos não disseram nomes, o corregedor-geral requereu a lista dos policiais que estavam trabalhando na época em que as conversas foram rastreadas. "Com a lista e as fitas, nós vamos interrogar os presos para que dêem os nomes, sob pena de sofrerem sanções", disse Peixoto.
A Folha procurou por telefone o comandante do 15º Batalhão, o tenente-coronel Dinaldo Carneiro de Macedo, mas até a conclusão desta edição ele não tinha sido localizado.


Colaborou ALESSANDRA KORMANN, da Agência Folha


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